Uma das maiores exportadoras de suco de laranja do mundo, a Cutrale, com sede em Araraquara (SP), decidiu suspender os embarques do produto concentrado e congelado (FCOJ) do Brasil aos EUA, onde está presente há décadas e mantém uma importante parceria de fornecimento com a americana Coca-Cola.
O jornal Valor Econômico apurou que, com a cobrança de 34% de Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) sobre o imposto de importação cobrado pelo governo americano para permitir a entrada do FCOJ brasileiro (US$ 415,86 a tonelada), a Cutrale viu a margem do negócio minguar e decidiu buscar suco no México para abastecer as marcas Minute Maid e Simply Orange, da Coca-Cola. Procurada, a companhia preferiu não se pronunciar sobre a mudança.
Fontes do segmento lembram que a Cutrale, que é a segunda maior exportadora de suco de laranja brasileiro, atrás da Citrosuco, lidera as vendas para os EUA, com embarques tanto de FCOJ e quanto da bebida pronta para beber (NFC) – que não é onerada pelas mesmas tarifas, graças ao Acordo Estados Unidos, México e Canadá (USMCA, na sigla em inglês), que substituiu o Nafta.
Em condições normais, a Cutrale responde por mais da metade das vendas de suco brasileiro aos EUA. No total, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), são entre 130 mil e 200 mil toneladas por safra – US$ 260 milhões a US$ 400 milhões, a preços atuais. Para todos os destinos, os embarques do Brasil giram em torno de US$ 2 bilhões.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), os EUA são o segundo principal destino para os embarques do país, com participação de cerca de 20%. A União Europeia é o primeiro, com fatia que varia em torno de 65%. Das três empresas representadas pela entidade, apenas a Citrosuco continua, neste momento, a vender FCOJ brasileiro aos EUA – a Louis Dreyfus Company já há algum tempo privilegia outros mercados.
A CitrusBR, que também preferiu não conceder entrevista sobre a decisão da Cutrale, por se tratar de uma estratégia individual, vem tentando reverter a cobrança de 34% sobre a tarifa de importação – equivalente a US$ 141,40, que eleva a oneração total para US$ 557,26 por tonelada, que é vendida hoje a US$ 1,8 mil – desde 2019, quando ela teve início. Não obteve sucesso, mas as gestões em Brasília continuam.
Segundo fontes, o assunto tem sido tratado no Congresso. Um projeto de Decreto Legislativo (PDL 355/20) de autoria do deputado Alceu Moreira, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) foi aprovado no mês passado com o objetivo de sustar a Solução de Consulta que deu origem à cobrança dos 34%.
O PDL está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e tem como relator o deputado Pedro Lupion (DEM-PR). “O que parece é que se cria um imposto de exportação, disfarçado de imposto de renda. Vamos analisar a proposta para evitar distorções e oferecer, aos produtores, condições de competir no mercado internacional”, disse recentemente Lupion nas mídias sociais.
Procurada, a Receita afirmou que “não há previsão de revisão da solução de consulta 2/2019, reiterando que seu entendimento está de acordo com a legislação vigente sobre o assunto”.
Enquanto a cobrança permanece, a Cutrale avalia alternativas. O Valor apurou que a empresa cogita investir em fazendas de laranja e em uma indústria de suco no México para atender de lá seus compromissos com a Coca-Cola nos EUA. (Colaborou Rafael Walendorff, de Brasília / Fonte: Sopesp Notícias)
EM ARARAQUARA
O RCIA tentou falar com a administração da Cutrale, através da sua assessoria de imprensa, para saber os impactos que a medida poderá causar na produção do suco e no mercado de trabalho da empresa. Não houve retorno até o presente momento.