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“A vergonha é do PT”: diz vereadora Filipa Brunelli sobre eleição da Secretaria LGBT

"A esquerda ainda precisa avançar — e muito. Precisa deixar de ser hipócrita. Precisa parar de usar nossos corpos como símbolos de luta enquanto mantém as portas do poder trancadas para nós", disse a parlamentar em postagem

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“Não basta usar nossos corpos como símbolos de luta enquanto mantém as portas do poder trancadas para nós”, afirmou.

Em carta aberta publicada em suas redes sociais (link), a vereadora Filipa Brunelli (PT) criticou duramente o resultado da eleição da Secretaria LGBT do Partido dos Trabalhadores, afirmando que o desfecho representa uma “derrota política, moral e histórica” da sigla — e não dela, enquanto candidata travesti.

“Eu não perdi nada. A derrota aqui não é minha — é do PT, que mais uma vez falhou em transformar discurso em prática”, afirmou Brunelli, destacando que a exclusão de uma travesti de um espaço estratégico dentro da estrutura partidária revela problemas estruturais que a legenda insiste em não enfrentar.

Segundo ela, o partido demonstra contradição entre a defesa pública da diversidade e a realidade interna. “Quando o partido que fala tanto em diversidade não garante espaço para uma travesti, o problema não está em nós. Está nele, na sua cúpula e nas velhas lógicas que insiste em reproduzir”, criticou.

Brunelli destacou que a esquerda ainda tem um longo caminho a percorrer para superar práticas excludentes. “Não basta usar nossos corpos como símbolos de luta enquanto mantém as portas do poder trancadas para nós”, afirmou.

Apesar da disputa, a parlamentar reforça que segue fortalecida. “Eu estou bem. Estou inteira, firme, de pé. A vergonha não é nossa. A vergonha é do PT por não eleger uma travesti em pleno 2025.”

A vereadora agradeceu o apoio de militantes LGBTQIA+. “Foram lésbicas, gays, bissexuais, trans, travestis, não-bináries que ficaram comigo até o fim. Essa disputa sempre foi sobre reparação, dignidade e justiça histórica”, declarou. Dirigindo-se à juventude petista, ainda fez um chamado ao enfrentamento interno. “Repetir a lógica excludente do passado não é progressismo. Ser jovem de esquerda exige enfrentar desigualdades internas e desafiar os barões da política — não servi-los.”

Mesmo após a derrota, Felipa reafirma sua disposição de seguir na luta. “Cada tentativa de nos expulsar dos espaços só prova o quanto nossa presença é urgente. Não vão atrasar o futuro. Ele chega com as nossas mãos, com a nossa luta e nossa existência inegociável. Seguimos. Sempre. Porque desistir nunca fez parte da história das travestis que abriram o caminho que hoje nos sustenta”, finaliza.

REPERCUSSÃO

Ao RCIA, via áudio no WhatsAPP, Alcindo Sabino, presidente do Diretório do PT de Araraquara afirmou: “quero explicar que aqui na cidade nós oferecemos toda a estrutura possível não só para a vereadora Fliipa Brunelli, mas também para todos os demais candidatos que participaram das eleições internas do partido em diversas áreas”.

“Para ser sincero, ainda não compreendi totalmente o que aconteceu no caso específico da eleição da Secretaria LGBT. Por isso, marquei uma conversa pessoal com a Fliipa. Ela me pediu um tempo para se restabelecer emocionalmente e organizar suas reflexões sobre tudo o que viveu, e eu respeitei esse espaço”

“Quero reforçar algo em que acredito profundamente: apesar de ser uma eleição interna, em que naturalmente há vencedores e vencidos, o PT perdeu uma oportunidade histórica. Perdemos a chance de ter, pela primeira vez, uma travesti como secretária estadual da política LGBTQIA+. É importante lembrar que quem ocupa essa secretaria também integra a Executiva Estadual do partido, o que ampliaria ainda mais o alcance e o peso político dessa representação”

“Eu considero que seria extremamente relevante ter uma figura como a Fliipa nesse espaço de protagonismo e fala. Desta vez não foi possível, mas seguimos construindo, porque é assim que avançamos enquanto partido”.