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Araraquarense cria teste rápido para o novo coronavírus

No teste, o anticorpo da proteína do vírus é imobilizado nas nanoestruturas e, quando em contato com a amostra de saliva contaminada, se liga à proteína “Spike” fornecendo um sinal elétrico característico

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Da esq. para dir. : Aline Macedo Faria (bolsista PCI/CNPQ), Talita Mazon (CTI/CDMF), Noemí Angelica Vieira Roza (bolsista PCI/CNPq) e Agnes Nascimento Simões (bolsista PCI/CNPq)

Um dispositivo portátil de baixo custo para teste rápido a partir de amostras de saliva para detectar o novo coronavírus foi criado por uma equipe do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), liderada pela pesquisadora Talita Mazon, integrante do Centro de Desenvolvimento de Materiais Funcionais (CDMF) em parceria com a startup Visto.Bio.

Talita Mazon é araraquarense, fez o Bacharelado em Química, Mestrado e o Doutorado no Instituto de Química da Unesp de Araraquara e atualmente é Tecnologista Senior do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, em Campinas. Trabalha na área de Materiais Avançados, com ênfase em Cerâmicas e Compósitos, atuando principalmente com a síntese de nanoestruturas e filmes de óxidos semicondutores, piezoelétricos, ferroelétricos e dielétricos, grafeno e compósitos e a aplicação destes dispositivos em sensores, biossensores, energy harvesting, supercapacitores.

No início da pandemia, a equipe decidiu por adaptar o teste originalmente desenvolvido para zika, dengue e outras doenças. “Nós trabalhamos com o óxido de zinco em biosensores há cerca de cinco anos”, disse Talita. Diferente dos testes portáteis encontrados no mercado, o modelo desenvolvido utiliza uma base sensora eletroquímica descartável contendo nanoestruturas de óxido de zinco, e têm como objetivo primário a detecção da proteína “Spike” (um fragmento do vírus). Isso permite com que seja possível diagnosticar em tempo real a doença a partir do surgimento dos primeiros sintomas nos dias iniciais.

No teste, o anticorpo da proteína do vírus é imobilizado nas nanoestruturas e, quando em contato com a amostra de saliva contaminada, se liga à proteína “Spike” fornecendo um sinal elétrico característico. A depender da concentração, o imunossensor é capaz de identificar quantidades da proteína tão pequenas quanto 5 pg/mL sem reação cruzada com outras proteínas.

O biosensor é acoplado ao dispositivo portátil que se conecta na entrada do carregador do celular (Foto: Renan Serrano)

O biosensor é acoplado ao dispositivo portátil que se conecta por meio de um leitor USB na entrada do carregador do celular (igual a um pen drive) para ser sincronizado a um aplicativo (compatível com iOS e Android). O resultado do exame – a presença da molécula viral – torna-se visível em gráficos na tela do celular.

Em testes realizados no Hospital das Clínicas de Botucatu, vinculado à Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), o kit teve precisão acima dos 80%.

Poder realizar um teste rápido, de baixo custo, por meio de um dispositivo portátil é importante para ampliar a rastreabilidade do novo coronavírus, fator relevante para adotar medidas de combate à covid-19. “Trata-se de um teste novo, rápido, fácil, que não precisa ser realizado por uma pessoa especializada”, diz a pesquisadora.

Talita ressalta que o trabalho recebeu suporte financeiro do CDMF/FAPESP, CNPq e VistoBio” e a previsão é de que chegue ao mercado ainda este ano. O grupo liderado Talita é formado pelas pesquisadoras Aline Macedo Faria, Noemí Angelica Vieira Roza e Agnes Nascimento Simões.

CDMF

O CDMF é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), e recebe também investimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a partir do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN).