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As costureiras de Araraquara na Revolução de 1932 e o drama dos que partiram

Araraquara relembra o feriado estadual de 9 de Julho que marcou o início do combate entre São Paulo e Minas Gerais, com apoio de outros estados do sul, para elaborar uma nova constituição e deportar Getúlio Vargas. Daqui, 20 soldados partiram; ficaram as costureiras que confeccionaram as roupas dos combatentes.

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As mulheres que ajudaram na costura em 1932

O ano era 1932. A história quase todos conhecem. A guerra entre São Paulo e Minas Gerais, ocasionada por movimentos políticos entre Washington Luís e Getúlio Vargas, deixou 900 mortos de acordo com números oficiais, mas estimativas apontam que foram mais de duas mil pessoas. Mato Grosso do Sul apoiava São Paulo, que lutava contra Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.

Celeste e Jamil

Araraquara participava de modo muito singelo. Apenas 20 pessoas se voluntariaram a participar da disputa entre os estados.

O dentista Jamil Massud dizia sempre que, quando tinha por volta de 15 anos, leu um livro comprado por sua mãe, escrito por repórteres do jornal A Gazeta. O livro, hoje raridade não encontrada em local algum, contava o que os profissionais da imprensa presenciaram na Revolução de 1932. “Depois dos policiais terem matado quatro estudantes de Direito, a Guerra explodiu”, comentava.

Celeste Monteiro Massud, mulher de Jamil, em 2014 relatou a passagem de seu irmão Alfredo Monteiro pelas trincheiras em Barretos. “Ele tinha apenas 14 anos, fugiu de casa e se voluntariou para participar da revolução. Pequeno, ele achava que seria uma aventura”.

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Dona Celeste relembrava também uma história que sua mãe, Orminda Monteiro, sempre falava das travessuras de Alfredo. “Minha mãe era portuguesa, com sotaque forte. Era dona do Grande Hotel, na Avenida São Paulo proximidades do Terminal de Passageiros e também de um barzinho pequeno que ficava em frente. Nesta época, não podia se vender nada. Praticamente não podíamos ficar abertos. Certo dia chegou um trem com os presos paulistas. Desceu um tenente que foi até ela e quis comprar um cálice de pinga. A minha mãe estava tão desesperada que pediu ao homem que fosse até o trem e perguntasse pelo filho Alfredo Monteiro, e aí venderia a pinga. O tenente passou de vagão por vagão, mas não encontrou o menino. Mesmo não o encontrando, ela não vendeu o cálice para o homem, ela deu a garrafa toda”, conta sorrindo da situação.

Alfredo, então com 14 anos, fugiu de casa para combater

O menino Alfredo permaneceu em Barretos por quase três meses, quando a mãe descobriu onde ele estava por meio de um amigo, que lhe entregou uma carta contando seu paradeiro. “Mamãe disse ao meu pai com seu jeito português “tragas o menino, mas não batas nele”, e graças a Deus tudo acabou bem”.

Já com a família Massud, um fato curioso também ocorreu. O pai de Jamil era proprietário de uma casa de secos e molhados em Iaras, próximo a Águas de Santa Bárbara, por onde passavam as tropas paulistas em ataque à região Sul do país. “Quase no fim das batalhas, fugindo das forças federais que vinham do Paraná, um soldado passou na mercearia que tínhamos e trocou a farda e uma arma por uma camisa e uma calça, para disfarçar e não sofrer ataques. Infelizmente não sabemos o que houve com o material, porque isso já faz muito tempo, mas seria uma relíquia que poderíamos guardar ou doar para algum museu”, comentou Jamil certo dia numa roda de amigos.

Thyrson de Almeida Leite, em 2012

O soldado Thyrson de Almeida Leite, em 2012, com 99 anos de idade, participou de uma homenagem aos 80 anos da revolução. A solenidade em frente ao monumento localizado na Praça do Soldado Constitucionalista, na Avenida Bento de Abreu, lembrou os cinco soldados da cidade que morreram em combate: Bento de Barros, Diógenes Muniz Barreto, Joaquim Alves, José Cezarini, Waldomiro Machado, Augusto de Moraes, Joaquim Nunes Cabral e Otávio Oliveira Ameduro. Outra homenagem foi a transformação da Rua do Comércio – a principal da cidade – em Rua Nove de Julho.

Após concentração na Praça Pedro de Toledo as pessoas se dirigiram para o centro da cidade ficando em frente ao Hotel Municipal