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Bauducco: sonhos de um italiano que virou tradição também em Araraquara

O sobrenome Bauducco parece bem familiar para os araraquarense pois está presente nas prateleiras dos supermercados pela qualidade do seu panetone, principalmente nesta época do ano em que a cidade se ajeita para comemorar o Natal.

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Carlos Balducco, por todo e sempre lembrado nas festas de final de ano

Carlos Bauducco vendeu tudo na Itália e se mudou para São Paulo para introduzir o panetone à comunidade italiana. Conheça a ligação deste italiano com as prateleiras dos nossos supermercados.

A marca Bauducco virou sinônimo de panetone no Brasil. Tudo começou com a chegada do imigrante italiano Carlo Bauducco ao país em 1948, vindo de Turim.

Aos 42 anos, o representante comercial Carlo Bauducco desembarcou no Brasil para cobrar uma dívida de máquinas de modelagem de pão. As máquinas haviam sido enviadas ao Brasil por um amigo italiano.

Moncalieri, na província de Turim: cidade onde nasceu Carlo Bauducco (em 02/04/1906)

“Apesar de não falar uma palavra em português, meu pai recuperou parte do dinheiro”, contou Luigi Bauducco, filho de Carlo, em entrevista à Veja São Paulo, em 2009.

Luigi era filho único de Carlo Bauducco e Iris Margherita Constantino, também de Turim, e tinha 17 anos em 1949, quando seu pai decidiu ficar no Brasil.

Carlo se sentiu em casa em São Paulo. Os dois principais jornais da cidade eram o Estado de São Paulo, em português, e o Fanfulla, em italiano. Os dois vendiam o mesmo número de exemplares.

Com faro apurado para os negócios, ele resolveu vender tudo na Itália e se mudar para o Brasil, para introduzir o panetone à comunidade italiana no país.

Fachada e veículo da Doceria Bauducco

MASSA FERMENTADA, MÃES DE TODOS OS PANETONES

Em 1950, Carlo Bauducco retornou ao Brasil, trazendo o velho amigo confeiteiro Armando Poppa e uma massa fermentada enrolada em um pano molhado, considerada a ”mãe de todos os panetones”.

Como a lei brasileira só permitia que estrangeiros abrissem firma com sócios brasileiros, Carlo se associou aos três irmãos Lanci, filhos de um italiano que produzia a massa 3 Abruzzi.

O primeiro panetone experimental foi batizado de Panettone 900 Lanci. O nome 900 vinha da máquina que produzia a massa e a primeira loja no ramo da alimentação era a Panetone 900, na Rua Afonso Pena, Bom Retiro.

Em 1952 foi extinta a lei que obrigava estrangeiros a firmar sociedade com brasileiros. Assim, Carlo Bauducco inaugurou a Doceria Bauducco, pequena confeitaria no Brás. Além dos panetones, Carlo produzia biscoitos tipo Champanhe, doces e salgados.

O italiano Carlo Bauducco na primeira padaria que abriu em São Paulo | Foto: Divulgação

NEGÓCIO SEMPRE 100% FAMILIAR

O negócio familiar tinha Luigi como ajudante na produção e nas vendas e Margherita como responsável pela administração dos negócios.

Para impulsionar as vendas, Carlo contratou um avião para lançar panfletos de propaganda sobre a área central de São Paulo. Desse modo, divulgou seu bolo com uvas passas e frutas cristalizadas, que conquistou os brasileiros. A divulgação também era feita com propagandas no rádio em italiano, por meio da apresentadora Antonella Flavioli.

As primeiras embalagens foram idealizadas pelo designer italiano Giorgio Bricarello, com um panetone cercado por paisagens de São Paulo e da Itália.

Marca que se tornou símbolo nas prateleiras dos mercados

PRODUÇÃO INDUSTRIAL, RECEITA ORIGINAL

O salto da produção artesanal para industrial aconteceu em 1962, com a inauguração da fábrica de Guarulhos. Apesar do aumento da demanda, a receita original do panettone, com fermentação natural, nunca mudou. Até o panetone ficar pronto para ser embalado, são necessárias 48 horas, sendo 20 delas para que a massa cresça lentamente.

Nos anos seguintes, vieram inovações como a criação da embalagem de papelão e a entrada nos supermercados. Também foram lançadas linhas de torradas e de produtos como a Colomba Pascal e os panettones com gotas de chocolate, o Chocottone.

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Em 1979 vieram as primeiras exportações para os Estados Unidos e na década de 80, com a construção da segunda fábrica, foram lançados produtos como biscoitos amanteigados e wafers.

Nessa Massimo Bauducco, filho primogênito de Luigi e neto de Carlo, assumiu os negócios. Hoje a Bauducco é a maior produtora mundial de panetones e exporta para mais de 50 países, incluindo Japão, América Latina e Angola.

IDENTIDADE VISUAL E PRÊMIO INTERNACIONAL

Em 1997 a empresa modernizou sua identidade visual e adotou as embalagens amarelas, cor que simboliza a luz do sol e o trigo. No ano seguinte, a Bauducco foi a primeira empresa brasileira a receber em Londres o Design Effectiveness Awards, pela embalagem desenvolvida para a lata especial de Natal do panetone.

Em 2001, a empresa comprou sua principal concorrente, a Visconti e se consolidou na liderança do mercado, com 70% no segmento de panetones. Em 2008, a empresa passou a fabricar e distribuir os produtos Hershey’s no Brasil, incluindo chocolates, bebidas achocolatadas e confeitos.

SONHO QUE VIROU REALIDADE

Com produtos que vão desde os biscoitos simples e torradas até cookies e biscoitos de goiaba, a empresa inaugurou sua primeira loja própria em 2012, batizada de Casa Bauducco, e uma moderna fábrica no estado de Alagoas. Hoje a Bauducco fabrica mais de 75 milhões de panetones por ano e seu faturamento anual é de R$ 3 bilhões.

Carlos Bauducco morreu em 1972, aos 66 anos e Luigi Bauducco morreu em 2020, aos 88 anos. Já a empresa que construíram a partir do sonho de difundir a culinária italiana no Brasil e do trabalho para que esse sonho fosse realizado, segue firme como uma das marcas mais bem estabelecidas na cultura dos brasileiros. (Por Roberto Schiavon / O Italianismo)