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Em Araraquara mãe acusa escola e vereadora de facilitarem acesso da ideologia política sem consentimento dos pais

Uma escola estadual convidou a vereadora Fabi Virgílio do PT para falar da sua ascensão na vida pública a um grupo de alunos adolescentes, porém ela desandou em criticar vínculos familiares, desagregando o relacionamento de marido e mulher, além de dizer que em 2020 a chapa do PT foi exemplo no país, assuntos que fogem aos preceitos curriculares. Denúncia feita por Elaine Lima estaria a caminho do Ministério Público, Secretaria Estadual da Educação e o Tribunal Regional Eleitoral.

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Mãe de aluna, crítica comportamento da direção por ceder espaço público para pregação de ideologia política em ano eleitoral

A elaboração de um Boletim de Ocorrência no dia 04 de abril na Polícia Civil, pode desencadear uma denúncia no Ministério Público do Estado de São Paulo e simultaneamente no Tribunal Regional Eleitoral envolvendo a vereadora Fabi Virgílio, do PT de Araraquara, por uso indevido da máquina pública e utilização do espaço escolar para proliferar ideologias políticas que contrariam os preceitos de uma grade curricular.

Essa é a afirmação da denunciante Elaine Lima, que mantém uma filha estudando na Escola Estadual “Profª. Letícia Godoy Bueno Carvalho Lopes” e que diz ter ficado extremamente preocupada quando ouviu áudios gravados no interior do estabelecimento de ensino, e neles a vereadora, segundo o boletim de ocorrência, trata a figura paterna com difamações, referindo-se também ao instinto materno de forma vil e pejorativa, contrariando os princípios das famílias que buscam manter seus laços familiares com coerência e dignidade.

Elaine conta em relatório policial que a vereadora claramente, com o uso da sua ideologia, procurou macular o respeito da família e enveredou pelo caminho de impactar o relacionamento entre pais e filhos com palavras pouco recomendáveis para crianças ainda em formação. Ela tratou as crianças como “prole” e afirmou que “o homem quando chega em casa vai para a frente da televisão tomar cerveja e que a mulher fica na cozinha fazendo comida para sua prole”, disse Elaine.

A vereadora naquele dia participava, a convite da diretora da escola, de uma ‘roda de conversa’ e cujo tema seria sua biografia política e o empoderamento feminino, a serviço da Escola do Legislativo, transformando o evento em palanque, num ano eleitoral, direcionado para questões ideológicas e inexistentes dentro de uma grade estabelecida pela Secretaria Estadual da Educação.

Após ouvir áudios a ela enviados, Elaine foi até a escola onde ainda acontecia o evento. Fui até o Letícia, disse ela no Boletim de Ocorrência, para tentar entender a razão de uma vereadora, em pleno ano eleitoral, estar abordando estes temas com os alunos sem o conhecimento e o consentimento dos pais. “Minha filha tem 14 anos, e eu não quero que ela ouça de uma estranha, ainda que figura pública, que é ruim ser mãe e ter que fazer comida para os filhos, e que o pai só serve para sentar em frente da TV e tomar cerveja”, argumentou Elaine.

O RCIA teve acesso aos áudios gravados durante sua fala e, para algumas mães, a vereadora talvez tenha percorrido caminhos complexos e perigosos ao abordar questões familiares particulares, além do que expondo seu posicionamento pessoal sobre assuntos políticos, e, principalmente, promover suposta campanha antecipada ao falar dos seus atos parlamentares e das conquistas obtidas no seu mandato, pronunciadas em escola estadual durante encontro em ambiente fechado, fortalecendo a suposta tese do uso da máquina pública estadual como palanque a seu favor. Neste caso, diz Elaine, a diretora em exercício, deveria ter comunicado os pais e dado liberdade de escolha – para o aluno ir ou não ir à “palestra” da vereadora. Além do mais, a diretora teria dado privilégio a parlamentar que teve o espaço público para expor sua ideologia e provocar o caos no relacionamento familiar.

MÃE QUESTIONA A VEREADORA

A vereadora Fabi Virgílio

Fabi Virgílio em dado momento se torna mais incisiva: “Por que que não é o marido ou companheiro ou qualquer outro tipo de ser que vai para a cozinha? Por que ainda é a mulher que fica responsável pelos afazeres de casa e geralmente o homem coloca o lixo na rua e acha que já fez muito?”

Frente a frente no local onde Fabi Virgílio palestrava, a mãe Elaine Lima, acompanhou a exposição final da vereadora. Foi neste momento que a mãe pediu a palavra e solicitou que a vereadora repetisse o que teria dito sobre a figura materna e paterna dentro de casa, pois no áudio a parlamentar disse: “Eu quero fazer um exercício com vocês, quando vocês chegam em casa, seus pais também chegam do trabalho, para onde vai o pai e para onde vai a mãe? ”  Mas a regra é assim que se estabelece, a mulher vai diretamente para cozinha depois do serviço, para preparar o alimento pra casa, para a prole, e para o marido, e o marido vai sentar na frente da TV para assistir um jornal, tomar uma cerveja”.

Na sua palestra para as crianças, a vereadora abertamente prega os conceitos do seu partido: “Em 2020 eu me coloco candidata e a chapa do PT foi uma chapa que foi exemplo no país, a nossa chapa foi composta por 65% das mulheres e isso resultou diretamente pela primeira vez no país, composta por 65% das mulheres, não eram mulheres laranja não, a disputa era ferrenha, eram mulheres muito fortes de muito engajamento”. Abertamente ela quis passar para as crianças que – seu partido era melhor que os outros, induzindo os jovens a acreditar que há distinção e o PT era melhor que todos.

Encerrada a palestra algum tempo depois, Elaine Lima, dirige-se à Fabi Virgílio e diz: “Como mãe que sou e filha também, me senti completamente ofendida com a sua fala e entendo que é uma visão que separa a família, e ainda completa: “Minha mãe cuidou a vida inteira da família e do marido e morreu vivendo em função da família; senti minha mãe desmerecida, a mensagem fica subliminar de que a mulher é a escrava do lar e o marido chega e vai beber cerveja na frente da televisão. Meu pai foi caminhoneiro 15 anos e ficava 3 meses fora de casa. A vida deles não foi fácil. Minha mãe ficava com 6 filhos em São Paulo e ele sempre batalhou, ele não era vagabundo, folgado e sem vergonha. A forma como foi colocada, você desconstruiu a figura do pai e da família. Se a mulher escolher ser dona de casa, não tem problema algum”.

Logo em seguida uma voz pede para que essa discussão seja realizada na sala da diretoria. E os envolvidos na questão para lá se dirigiram.

PROJETO PARLAMENTO JOVEM

Agora, em uma sala fechada, a mãe questionou a diretora e a orientadora pedagógica da escola sobre o desconhecimento da presença da vereadora, sem o seu devido conhecimento, para então autorizar ou não a sua filha participar, pois a escola não informou sobre a palestra e o assunto que seria abordado.

Outro questionamento foi sobre a forma de escolha da vereadora, que no seu entendimento foi privilegiada pela instituição de ensino e se outra vereadora de sigla partidária de oposição seria convidada para também falar sobre o mesmo assunto, uma vez que a vereadora teria dito que por ser da situação do atual governo, tem conseguido realizar muitas coisas que não conseguia quando era oposição. Dentro de um espaço público as palavras da vereadora – que o seu partido era o melhor – destoaram em tom crítico aos outros partidos.

Segundo disse a diretora em exercício, tudo que acontece em relação às palestras, está associado ao currículo escolar do aluno, pois neste mês (abril), todo cronograma está voltado para o Grêmio Estudantil e o Projeto Parlamento Jovem (Câmara Municipal de Araraquara). Algumas ações realizadas na escola estão sob a responsabilidade do Grêmio da Escola, que eles (alunos), têm que ter algumas palestras, por exemplo a questão do racismo, tendo a participação do pessoal do Centro Afro de Araraquara, ou seja, estamos desenvolvendo a questão da socialização e da convivência. Jamais achamos que teria que ser comunicado os pais, ainda mais se tratando de ano político e a gente nem pode. Temendo sofrer represália a diretora teria se esquivado assumir a responsabilidade pela organização do evento e transferiu o poder de realização ao Grêmio Estudantil.

A própria diretora em exercício exaltou as qualidades pessoais da vereadora, agindo em defesa da pré-candidata.

Como a mãe havia chamado a Polícia Militar, três viaturas compareceram na escola, orientando a mãe sobre sua conduta para elaboração da ocorrência para anexar em peça que poderá ser encaminhada ao Ministério Público, Tribunal Regional Eleitoral e Secretaria Estadual da Educação.