É difícil falar sobre a Malila, por que ela não foi apenas uma, mas sim muitas.
Muitos a conheceram por ser a Malila Miss em Araraquara, que encantou todos por onde passou com sua beleza inenarrável, sendo considerada por muitos a mulher mais linda de Araraquara.
Outros tantos a conheceram pela Malila profissional, que sempre foi honestíssima e prezou por fazer o melhor que podia em todas as situações. Sendo na cobertura de eventos como jornalista, quanto no dia-a-dia de um PABX.
Alguns a conhecem como a Malila amiga, que sempre fez questão de estar presente para acolher aqueles que precisavam. Malila fez amigos em todos os lugares por onde passou, mudando vidas por onde andava.
Poucos são aqueles que conheceram a Malila irmã, que sempre tratou seus sobrinhos como se filhos fossem. Que cuidou das irmãs, sem poupar puxões de orelha enérgicos, mas que amava sua família com tanta força, que por muitas vezes se chateou por pequenices da vida. Não se chateava ou chateava os outros por mal, mas sim por excesso de zelo e amor.
Malila também foi filha, que dedicou com muita generosidade uma vida toda ao bem estar de sua mãe. Filha essa que se fez presente até o minuto final da vida daquela mãe, deixando a ir apenas quando era a hora de se encontrar com o Senhor.
Todas essas Malilas eram incríveis e cheias de força. Todas feitas da mais pura peroba rosa. As adversidades da vida podiam dobrar a Malila, mas nada era capaz de quebrá-la.
Embora todas essas versões da Malila fossem importantes para que pudéssemos contar a história dela, nenhuma versão marcou mais do que a Malila mãe.
Malila foi mãe solo. Fez de tudo para criar bem seu filho. Trabalhou em 3 empregos para que sua cria pudesse frequentar as melhores escolas e mesmo assim, vivendo uma vida ocupadíssima atrás do sustento, Malila dedicava o tempo que lhe sobrava para educar o seu filho acerca das lições da vida.
Nesse momento vocês já devem ter percebido que sim, aquele que vos escreve é o filho de Malila.
Eu presenciei o poder que Malila tinha de tocar a vida das pessoas e espantar aquilo que era ruim. Malila era luz em meio a escuridão, sucesso em meio ao recalque, flor no meio do asfalto, sorriso em meio à tristeza. Malila era diferenciada e poderia ser transformada em um adjetivo daqueles que carregam inúmeros significados.
Malila me ensinou muitas coisas. Todas muito valiosas. Malila me ensinou a ser honesto, corajoso, educado e a levar a vida com humor. Humor esse que esteve presente até o último ato da vida de Malila.
Em nossa última conversa eu a adverti que caso ela decidisse ir embora para a casa de Deus, as chances que ela tinha de se reencontrar com seu ex-marido eram grandes. Em meio a tanta dor e falta de ar, ela apenas gargalhou e disse:
– Deus me livre, eu quero é viver!
Num mundo chato e quadrado, a ida prematura de Malila deixa um vazio gigante, dificílimo de preencher. É como quando aquele craque de futebol deixa o time no meio do campeonato e os torcedores ficam chateados, chorosos e com saudades.
Malila foi uma camisa 10 que com 68 anos foi escalada para a Seleção de Deus. Ela decidiu aceitar o convite e nos deixou. Eu não a culpo, pois o jogo lá é muito mais importante.
Das tantas lições que existem, minha mãe conseguiu me ensinar quase todas. Quase tudo mesmo. A única lição que ela não teve tempo de me ensinar foi a de como viver sem ela.
Ah, como eu queria ter aprendido essa lição.
Assinado, Daniel Carranza, feliz pela mulher que amou como Mãe e que parte deixando um rastro de saudade em todos nós.