Golpes pelo WhatsApp fazem vítimas quase todos os dias na região. Entre as estratégias utilizadas pelos estelionatários, uma tem se ocorrido com frequência é a que o golpista se passa por um filho/a e tenta enganar os pais, afirmando que passa por dificuldades e precisa de uma ajuda financeira.
As vítimas, em muitos casos idosos, caem na lábia dos farsantes e perdem consideráveis quantias em dinheiro. Por sorte, uma funcionária pública de 58 anos conseguiu evitar que mais um estelionato ocorresse na manhã de quinta-feira (4), quando o golpista chegou a pedir um PIX de quase R$ 7 mil. Ela contou com a ajuda do marido, de 59 anos, e da filha, de 33 anos, e o crime não se consumiu. Dessa vez o estelionatário se deu mal.
O delegado titular do 2º DP de São Carlos, Maurício Antônio Dotta e Silva, fala sobre esse tipo de golpe e como evitá-lo.
CRIMINOSO ‘GENTIL’ E MÃE DESESPERADA
Simpático, atencioso, brincalhão, prestativo e muito bem articulado. Assim se apresentou o criminoso por volta das 9h30 de quinta-feira (4) e repentinamente, durante o trabalho da funcionária, adicionou o número do seu celular pessoal e iniciou a conversa.
Nas frases, nota-se que o criminoso conhece alguns detalhes de sua personificação. Nas redes sociais, pegou uma foto recente da filha, sabe da sua profissão, que a conta é comercial. Entretanto não sabe o nome da mãe. Porém, inicia o bate-papo pedindo para que a mãe adicione a suposta filha.
Em seguida, pede um favor. Diz que está com problemas em seu app e não consegue realizar uma operação bancária e pede socorro a mãe que, desesperada, quer ajudar. Para acabar com o problema necessita urgentemente de R$ 6.998,00 e precisa de um PIX. A mãe, aflita, diz que não sabe operar. O golpista diz que ensina.
A mãe reforça que não tem em seu aparelho tal app e nem a conta bancária. O insistente vigarista apela então para que ela vá até um caixa eletrônico, quando a conversa se encerra.
Nervosa, estressada e aflita, a mãe então consegue falar com o marido que transmite calma e adianta que estaria em contato com a filha verdadeira e disse que tudo não passava de um golpe. O pai pede ainda que a filha ligue para a mãe para acalmá-la e tudo tem um final feliz. Em seguida, a mãe bloqueou o contato do criminoso.
“Tudo aconteceu quando eu trabalhava. Alguém me adicionou e se passou por minha filha e dizia que era um número pessoal. Esse estranho me chamava de mãe e eu acreditei”, contou. “Eu estranhei, mas tinha a foto da minha menina. Me pediu um favor e eu disse que faria. Queria que eu fizesse uma transferência para ela, pois estava com dificuldades em seu celular. Mas disse que não sabia e que era meu marido que lidava com isso. Eu estava aflita, queria ajudar, pois era minha filha. Chegou até pedir dados, mas não passei. Disse que iria me ajudar”, afirmou a funcionária pública.
Segundo ela, apesar de aparentar estranheza, o nervosismo fazia acreditar que seria realmente a filha, pois foi orientada a ir, se necessário, em um caixa eletrônico para fazer a transferência, pois o golpista a ajudaria passo a passo. “Mas liguei para meu marido que disse que era um golpe e depois falei com minha filha. Após perceber que era um golpe, aí me deu um mal estar, dor de cabeça. Foi muito nervosismo”, revelou. “Mais no final do dia estava tranquila graças a Deus. Mas ao mesmo tempo triste, pois esses inescrupulosos conseguem enganar pessoas ingênuas, tudo por dinheiro. Sem pena de aplicar tais golpes”, finalizou a quase vítima.
DIÁLOGO, PASSO A PASSO
Abaixo o diálogo entre o golpista e a quase vítima:
Golpista – Oi mãe, bom dia!!!
Golpista – Armazena meu novo número. Este será para uso pessoal. O outro ficará somente para trabalho ok bjs
Vítima – Ok?
Vítima – Já adc
Vítima – Ok, bjs.
Golpista – Mãe, veja se consegue me fazer um favor…
Vítima – Diga filha. O que você precisa?
Golpista – É porque estou tentando realizar um pagamento, mas não estou conseguindo completar a operação pelo meu aplicativo, acho que foi problema na minha senha eletrônica.
Vítima – Ahhh
Vítima – Que posso fazer?
Golpista – Quero ver se consegue realizar o pagamento pra mim? Amanhã vou ao banco para resolver e mando de volta ok?
Vítima – Como faço?
Golpista – Vou enviar os dados, é simples realizar.
Golpista – Aqui estão minhas informações do Banco Inter
Banco: xxx – Banco Inter
Agência: xxxx
Conta: xxxxxxxxxx
CPF: xxxxxxxx
Nome: Cxxxxxx Axxxxx dx Sxxxx Lxxx
Pix: cxxxxxxxxxxx123@hotmail.com
Valor do pagamento: 6.998,00.
Golpista – Consegue transferir?
Vítima – Eu nunca fiz
Golpista – Hehe
Golpista – Pera
Golpista – É fácil fazer, basta colocar os dados corretamente.
Golpista – Qualquer dúvida que tiver, eu te oriento.
Golpista – Precisa do aplicativo do seu bco
Vítima – Não.
Golpista – Acredito que não entendeu muito. kk
Golpista – Quero que transfira da sua conta, para essa que tenho o pagamento a ser realizado.
Golpista – Amanhã reponho o dinheiro na sua conta.
Vítima – Eu não tenho o banco no celular
Golpista – Pode ir ao banco realizar?
Golpista – Caixa eletrônico, tanto faz.
DELEGADO ORIENTA
O delegado do 2º DP de São Carlos, Maurício Dotta e Silva detalhou o modus operandi dos estelionatários e disse que são quadrilhas especializadas que agem neste tipo de crime.
Segundo ele, a preferência dos criminosos são idosos, já que são vítimas mais fáceis de serem enganadas. Adiantou ainda que os crimes de estelionato pelo WhatsApp tem aumentado e que há formas de evita-los, fornecendo dicas.
Golpes de estelionato é frequente, mas a modalidade do WhatsApp tem se tornado recorrente, quando o golpista se passa por um parente da vítima. Quais seriam dicas para fazer com que isso seja evitado?
Maurício Dotta e Silva – As pessoas deveriam sempre checar a fonte, ligando para a pessoa (filho/a, etc) antes de tomar a decisão financeira. Nunca acreditar piamente na mensagem que recebe.
Ocorreu aumento significativo desses golpes? Há uma quantificação desse aumento?
Dotta e Silva – Sim, houve aumento em todo lugar. Hoje a maioria de crimes contra o patrimônio são realizados via internet. Quantificação é difícil dizer mas o aumento de casos é significativo.
Quais são os principais alvos para esse golpe?
Dotta e Silva – Principal alvo: pessoas idosas.
Como o golpista consegue o contato privativo (celular) da vítima, a partir do momento que ela consegue alguns dados da filha/o?
Dotta e Silva – 1. Vazamento de dados de algum órgão, em especial empresa de telefonia; 2. Captação de dados via perfil falso na internet; 3. Conhecimento da vítima e sua família; 4. Aparelho celular cadastrado em nome da vítima com CPF falso; Entre outros. Não se esquecendo que estamos falando de quadrilhas.
Quando a Polícia Civil é notificada para apurar casos desses tipos, quais são os primeiros procedimentos?
Dotta e Silva – Se houver dados mínimos, como conta bancária destinatária, oficia-se o banco requisitando-se dados qualificativos do titular da conta.
Com a apuração das informações, consegue-se chegar ao criminoso/a?
Dotta e Silva – Depende. Se o titular da conta for real, sim. Caso contrário, a investigação pode demorar um pouco mais.
Há criminosos especializados nesta prática? Normalmente agem em grupo? Por quê?
Dotta e Silva – Sim. Agem em grupo, com papéis definidos. Porquê? Ganho fácil e não exposição.
Quando um estelionatário é preso e comprovado o crime. Qual é sua pena? Sendo reincidente, fica detido por quanto tempo?
Dotta e Silva – A pena para estelionato é de 1 a 5 anos. Em caso de reincidência, pôde-se majorar a pena, de acordo com o caso em concreto.
Na sua opinião, o que leva uma pessoa a se tornar um estelionatário?
Dotta e Silva – Ambição pelo ganho fácil. (SCA)