Desde 2008, a Lei Federal 11.645 tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígena nos colégios de Ensino Fundamental e Médio no Brasil. Entretanto, após mais de uma década e meia, os desafios para a comunicação de aldeias com estudantes universitários e professores ainda se sobrepõem a uma atuação eficaz das políticas públicas que fortaleçam a incorporação da cultura indígena na rede brasileira de ensino.
Pensando em promover um intercâmbio cultural mais eficiente entre alunos universitários, professores indígenas e educadores de colégios do Estado de São Paulo, um grupo da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Unesp, em Araraquara, elaborou o projeto “Diálogos Simétricos: Educação, Culturas e Territorialidades”. A iniciativa faz parte de um edital do Programa de Pesquisa em Educação Básica (PROEDUCA), aprovado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
O PROJETO E AS PARTES ENVOLVIDAS
Quem encabeça o projeto é Edmundo Antonio Peggion, professor da FCL e Coordenador do Centro de Estudos Indígenas “Miguel Angel Menéndez (CEIMAN), em Araraquara. Após anos estudando povos indígenas do Amazonas e a demarcação de seus territórios, o docente decidiu iniciar a empreitada ao lado de Paride Bollettin, professor da Universidade de Masaryk, na República Tcheca, e Amanda Cristina Danaga, professora da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Os três também são docentes do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da FCL.
Formada em Ciências Sociais pela própria Faculdade e com mestrado e doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), sob orientação de Edmundo, Amanda mantém experiência de pesquisa com a população tupi-guarani que vive em São Paulo, tanto no litoral quanto no interior. A longa parceria com seu orientador e o diálogo constante com Paride foram determinantes para a execução da proposta em aldeias no Estado paulista.
Por isso, foram escolhidas duas localidades no litoral – a Terra Indígena Piaçaguera, que fica entre os municípios de Peruíbe e Itanhaém, e a Aldeia Renascer Ywyty Guaçu, localizada em Ubatuba. Por fim, o Colégio Estadual Professor Joaquim Pinto Machado Júnior (popularmente conhecido como ‘Machadinho’), em Araraquara, foi selecionado para promover a conexão das relações da rede de ensino com as aldeias.
“Sentimos a necessidade de focar em duas questões fundamentais nesse debate. De um lado, a pouca atenção para a questão indígena no que diz respeito ao apoio desses povos nas escolas em suas aldeias. Por outro lado, há a lei 11.645, que determina o ensino da questão indígena e étnica-racial nas escolas não-indígenas. Por isso, com a presença mais forte da comunidade indígena nas universidades, pensamos em um projeto em que todos dialogassem sobre suas questões, mas que ninguém fosse objeto de pesquisa de nenhum grupo”, explica Edmundo.
“Embora nossas pesquisas ocorram em regiões distintas, vislumbramos neste edital para o qual submetemos este projeto a possibilidade de discutir temas que são muito importantes para nós”, corrobora Amanda, fazendo alusão ao trabalho conjunto com os colegas Edmundo e Paride, que ganharia o reforço de mais três bolsistas de escolas públicas.
Para contribuir presencialmente com o ensino nos locais determinados, fazem parte do projeto Cristiano de Lima Silva, educador indígena na escola da Aldeia Renascer, Lenira Dina de Oliveira, responsável pela docência na escola Nhamandu Mirim, no território de Piaçaguera, e Talita Mara Catini, docente na escola Machadinho, em Araraquara. Além disso, foram integrados mais quatro bolsistas de treinamento técnico, responsáveis por incentivar os alunos a levantarem temas de pesquisa de extensão após o projeto.