“Desculpem atrapalhar este leilão do “Lote 01”, mas este leilão vem atrapalhar nossa vida. O que no leilão é chamado de “Lote 01” fica entre as Avenidas Bruno Ópice e Altino Corrêa de Almeida, e as ruas Boa Esperança do Sul e Euclides da Cunha Viana”.
O trecho acima abre um manifesto que moradores do Jardim Morumbi, em Araraquara, decidiram fazer numa espécie de movimento que visa alertar a população para mais uma área nobre que a Prefeitura Municipal decidiu colocar à venda neste dia 05 de agosto, 16h, no 3º andar, Sala de Licitações.
“Somos vizinhos da área em questão, que já figurou como “praça” ou “área social”, mas nunca foi realmente. Virou lixão onde despejavam entulho e animais mortos. Foi o trabalho dos vizinhos que converteu a área num lugar de horta orgânica e lazer seguro para crianças e adultos, lugar de encontro dos vizinhos”, diz o manifesto ao qual o RCIA teve acesso.
Os moradores contam que por conta própria “tiraram o entulho, vigiaram para que não voltassem a jogar, descompactaram o solo, usaram adubo verde e compostagem, plantaram feijão guandu e milho para ajudar na descompactação”. Eles ainda alegam que foram plantadas árvores nativas e frutíferas e o lugar foi transformado em espaço realmente público, não privativo dos vizinhos.
O grupo que tomou essa iniciativa disse na semana passada que – faz meses que a Prefeitura Municipal envia um trator com arado, discos de 60 cm para destruir a rede de fungos que nutrem o solo. “Não entendíamos o motivo e fomos procurar. Descobrimos que a área que chamam de “Lote 01” será leiloada”, explicam.
Eles chagam questionar a Câmara Municipal sobre a iniciativa do município – Sabem os vereadores que aprovaram esse leilão como é a área? Alguma vez a visitaram? Sabem da proximidade do primeiro trecho, área de recarga, do Ribeirão das Cruzes? Sim, o mesmo que fez abrir uma cratera na avenida 36, provocando a morte de 6 pessoas. Não foi “acidente”: o trato que o Ribeirão das Cruzes está recebendo no trecho que vai da nascente à avenida 36 é péssimo.
Mais adiante no manifesto feito, os moradores que formam o grupo são taxativos e criticam a postura do município: “A construção do prédio do Tribunal de Contas, que já é um “elefante branco” que está às moscas, e que, desde a pandemia, não alberga as raras reuniões que aconteciam antes, já que elas são feitas on-line, interrompe o caminho das águas que iriam para o rio. A mesma coisa acontece com os dois condomínios, ambos as margens ainda mais próximas à nascente. O “Lote 01” é a primeira área aberta para que passe a água da enxurrada em época de chuvas, que já chega violenta, porque se junta, por causa das interrupções anteriores. Tanto que entra nas casas dos vizinhos e, não raro, entra com cobras arrastadas pela inundação. ”
Para eles, preservar o caminho da água em direção ao rio é a primeira providência a tomar para permitir um fluxo regular, distribuído no tempo, e assim evitar alagamento. No entanto, em lugar de corrigir os erros anteriores, a primeira área de escoamento vai ser privatizada “livre de ônus”. Que quer dizer “livre de ônus”? Qual será o “ônus” ambiental ali comprometido? ”
Eles ainda perguntam: “Fizeram um estudo ambiental antes de lançar o “Lote 01” a leilão? Não perguntamos se a área está além dos 30 metros de segurança, da faixa ciliar do Ribeirão das Cruzes. Nos referimos a um estudo específico. Consultaram os vizinhos? Sabem, por acaso, a importância que essa área verde tem para nós? Podem até fazer compensação ambiental reflorestando por cada árvore que tirarem, mas será longe de onde nós moramos, respiramos, plantamos e colhemos. ”