Home Cultura e Lazer

Morre Cynara, do Quarteto em Cy e com laços familiares em Araraquara

Cantora criou o projeto com as irmãs, em 1964, e com uma delas, Cybele, cantou 'Sabiá', de Tom e Chico, no histórico FIC de 1968. No auge da carreira, Cylene, outra integrante do grupo casou-se com o médico araraquarense Osmar Chakur e os laços de família passaram a ser amplos com a nossa cidade.

363
Cynara, uma das lindas vozes do Quarteto em Cy

Morreu esta terça-feira no Rio de Janeiro, aos 78 anos, a cantora Cynara, integrante do Quarteto em Cy, lendário grupo vocal formado em 1964 com as irmãs Cyva, Cybele e Cylene que se casou com o médico Osmar Chakur, de Araraquara. Cynara estava internada no Prontocor da Tijuca com pneumonia, por complicações na recuperação de uma cirurgia após ter quebrado o fêmur, numa queda, na semana passada. A causa da morte foi insuficência respiratória.

O velório de Cynara de Sá Leite Faria acontece na quarta, a partir das 13h, na capela 9 do Cemitério São João Batista, em Botafogo (RJ). O sepultamento está marcado para as 16h.

Nascidas em Ibirataia, Bahia, as irmãs do Quarteto em Cy se mudaram ainda jovens para o Rio de Janeiro, para trabalhar com música, contando com o apoio do poeta e compositor Vinícius de Moraes (que as chamava carinhosamente de “baianinhas”). Junto com Cybele, Cynara interpretou “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, no histórico Festival Internacional da Canção de 1968, no Maracanãzinho.

A estreia oficial do Quarteto aconteceu no dia 30 de junho de 1964, no Bottles Bar, no Beco das Garrafas. No mesmo ano, o grupo gravou seu primeiro LP, ““Quarteto em Cy”, e no ano seguinte participaria do celebrado disco “Afro-sambas com Vinicius de Moraes e Baden Powell”. Em 1966, Cylene foi substituída por Regina Werneck e o Quarteto viajou para os Estados Unidos. Lá rebatizado de Girls From Bahia, gravou LPs, fez shows e participou de programas de TV.

Cyva, Cybele, Cynara e Cylene em 1966 que algum tempo depois se casaria com o médico araraquarense Osmar Chackur vindo a morar em nossa cidade. O casal teve quatro filhos.

Em 1968, Cynara e Cybele se desligaram do grupo, gravaram um LP e seguiram atuando em dupla até o ano seguinte (e Cynara se casaria com Ruy Faria, integrante do grupo MPB4). Com Chico Buarque e Tom Jobim, as irmãs encararam uma das maiores vaias da história dos festivais da canção. “Sabiá” concorria com a engajada “Para não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, a favorita do público universitário.

— Fiquei muito revoltada com aquela vaia por causa do Chico e do Tom, porque sou louca pela música e porque achava que eles não mereciam aquilo. A Cybele, que botava as coisas para fora, começou a dar banana para o público. “Calma, Cybele, calma, não adianta isso!”, eu dizia. Nesse ponto, sou muito pragmática. Eu achava que, no sentido político, o público tinha razão em vaiar. A situação no país estava muito ruim, ele tinha de externar aquilo de alguma maneira, e o “Pra não dizer que não falei das flores” veio bem a calhar — observou Cynara, em 2018, em entrevista à revista “Época”.

Em 1970, o Quarteto em Cy interrompeu suas atividades, reestruturando-se, dois anos depois, com Cyva, Cynara, Sônia e Dorinha Tapajós. Com essa formação e atuando sob a direção musical de Luís Cláudio Ramos até 1983, gravou os LPs “Antologia do samba-canção” (1975), “Resistindo” (1977), “Querelas do Brasil” (1978), “Cobra de vidro” (com o MPB-4, em 1979) e “Em 1000 kilohertz” (1980).

Uma das clássicas formações do grupo com Cybele que será sepultada nesta quarta-feira

A partir de 83, o Quarteto passou a atuar sob a direção musical de Célia Vaz e lançou os LPs “Ponto de luz” (1983), “A arte do Quarteto em Cy” (1984), “A arte do Quarteto em Cy e MPB-4” (1985), “Show ao vivo com Vinicius e Toquinho” (1986) e “Para fazer feliz a quem se ama” (1989).

Os discos e os shows (muitos no exterior) do Quarteto em Cy seguiram até 2014, quando Cybele morreu de isquemia pulmonar. Em 2016, o grupo lançou o álbum “Janelas abertas”, com o qual comemorou 50 anos de carreira e apresentou a nova formação, com Keyla e Corina no lugar de Cybele e Sônia.

No Facebook, o amigo Aquiles Reis, do MPB4, lamentou: “Meu coração entrou em pausa. A dor tomou conta de mim. A morte veio sem aviso, surpreendeu e magoou. Não há lágrima que dê conta de prantear a dor diante dessa perda devastadora, da minha irmã de vocal que me deixa depois de cinquenta anos de cantoria e amizade. Descanse em paz, Cynara Faria. Sua voz estará para sempre em minha vida. Meu Deus!”

CYLENE SE TORNA ARARAQUARENSE

Cylene com “y”, seu nome artístico, deixou o grupo para se casar com Chakur

Cilene Ribeiro de Sá Leite Chakur, nascida em 8 Novembro de 1945, é nascida em Santo Antônio de Jesus, Bahia; seguiu os passos das irmãs e ingressou na carreira artística junto da irmã Cynara, apresentando-se na Hora da Criança, dirigido por Adroaldo Ribeiro da Costa.

Elas atuavam e cantavam, lhes rendendo participações na TV Itapuã da Bahia, onde ganharam o concurso Escada para o Sucesso, sendo contratadas pela emissora durante um tempo, apresentando programa semanal, com direção de Nilton Paz, dando apoio musical no repertório e arranjos de Carlos Coqueijo Costa.

Em 1962, à convite da irmã Cyva, muda-se para o Rio de Janeiro, a fim de formar um quarteto com as três irmãs, o Quarteto em Cy. Trabalhou em uma agência de empregos, como recepcionista, e estudava à noite, enquanto o conjunto buscava oportunidade para cantar.

Acompanhou o quarteto até 1966, quando engravidou e casou-se com o médico paulista Osmar Chakur, com quem teve quatro filhos, Andréa, Gabriela, Paloma e Pablo, vindo morar em Araraquara, na época.

Seu ideal sempre foi de ser mãe e constituir uma família. Graduou-se em Pedagogia e Psicologia, tornou-se professora universitária, pedagoga e escritora. Aposentou-se em 2007, entretanto, ainda participa de congressos nacionais e internacionais como palestrante.