Home Destaques

Morre Mário Fáccio, empresário e craque da Ferroviária nos tempos de ouro do futebol

Araraquara chora neste sábado (27) a partida de Mário Fáccio, craque e empresário, irmão de Tonhão, que juntos contribuíram com a história da Ferroviária e da própria Araraquara que não consegue guardar segredos para os filhos que ela tanto amou.

3655
Mário, que jogou na Ferroviária e Botafogo de Ribeirão; voltou as origens quando parou por contusão e atuou no Acco, disputando o Amador

Os mais jovens ou os menos velhos jamais ouviram falar de um jogador de futebol que carregava no peito o amor por um time de futebol – de fato e direito. Tão pouco sabem que não era apenas eles que simbolizava em campo os traços da Família Fáccio: Tonhão, Ibaté, Torero e Bial. Eram cinco ao todo e cada qual tinha o seu jeito de jogar. Mário, de todos era o mais clássico.

Assim, se tornou num grande personagem futebolístico da cidade, pontuando seu nome na Ferroviária e no Botafogo de Ribeirão: Mário Nelson Fáccio, era assim por extensão sua escrita.

Apesar de ter marcado época nestes times, Mário começou a carreira jogando pelo Expresso em São Carlos. Aos 15 anos, já conquistava o Campeonato Paulista da Série A3 da categoria profissional. Depois disso, a Ferroviária despertou o desejo de contar com ele. Mário não titubeou e aceitou na hora.

Mário, um craque que não deu certo por conta de uma lesão. Ganhamos de volta um ser humano imprescindível para a nossa comunidade.

Atuando com o uniforme grená, teve uma trajetória rápida na zaga afeana, chegando a jogar com os irmãos Bial e Tonhão, coisa rara no futebol. Os outros – Torero e Ibaté – também eram craques. Com uma carreira consolidada, partiu para Ribeirão rumo ao Botafogo, onde foi bem. Mas a sua carreira chegava ao fim precocemente, aos 30 anos.

“Estava em um bom momento, porém, tive uma contusão séria no joelho, um pesadelo na época. O próprio médico do Botafogo me operou e demorei muito para ficar bom. Não sentia mais aquela confiança e decidi retornar para Araraquara. Foi aí que o Acco abriu as portas para mim. Era apenas um time de futebol amador, mas senti bem, não podia parar”, contou ele um dia ao RCIA.

Proprietário na época do Palácio das Tintas, junto com seus irmãos, a amizade conquistada com o pessoal do ACCO fez com que fosse convidado pelos diretores da empresa, a Anderson Clayton. Aceitou, pois sua paixão era o futebol.

 “Foi no ACCO que eu joguei mais tempo na minha vida e só tenho saudades daquela época. Foi uma honra jogar com Candinho (goleiro), Estilingue (ponta-esquerda), Leonel (meia-direita), Coca (lateral-direito) e com os meus irmãos. Na Ferroviária jogamos em três (Tonhão, Bial e eu). No ACCO jogavam os cinco, um fato inédito no futebol, quase metade do time”.

Admirado pela torcida do Botafogo, em Ribeirão, Mário fez parte de um time de irmãos

Mário, naquele dia, em que conversou conosco, falou de tristezas e alegrias, pois queria ir mais longe com o futebol como disse certa vez a esposa Lady Boschiero (o casal teve os filhos Fábio, casado com Juliana Oliveira / neta Bianca; e Mário Sérgio casado com Mariana Barbieri). Mas a vida é assim mesmo, Mário, as vezes a gente um dia sobe, no outro a gente desce”, falamos isso em uma conversa gravada na sua residência no São Geraldo. Ele retrucou – só não queria que fosse dessa forma.

Mas uma coisa ficou marcada em sua vida: “Quando eram realizados os jogos da Ferroviária e do amador no mesmo dia, a cidade ficava dividida. O amador era forte e muita gente acompanhava os jogos. Aos domingos se via o Estádio Municipal mais cheio que a Fonte Luminosa”.

O PIOR CHEGOU NO FUTEBOL

E foi em um domingo desses que algo chocante aconteceu durante a partida em que Mário estava em campo. Em uma dividida de bola, tentou segurar o adversário e, desajeitado, caiu rodopiando, batendo a cabeça muito forte no chão. “Apenas lembro de ter virado pro chão. Acordei no hospital”.

Jogadores foram chegando perto de Mário, que ficou ali, deitado no gramado, inconsciente. O desespero começou a tomar conta dos outros jogadores e a torcida ficou apreensiva, muda. A emoção foi tão forte, que Furquilha e os irmãos de Mário acharam que ele tinha morrido. “Me falaram que o Ibaté ficou me empurrando e caiu no choro pois eu não me mexia”.

Na época não havia preparo com o bem-estar dos jogadores como vemos hoje, ao ponto de ter uma ambulância em campo. As pessoas e os dirigentes não se prepararam e nem esperavam por isso. Pessoas que ali estavam tiveram que quebrar parte do alambrado do estádio para que a ambulância pudesse entrar e levar Mário para o hospital.

“Eu bati a cabeça forte e fiquei desmaiado. Graças a Deus estou bem quanto a isso. Foi um episódio que assustou muito quem estava presente naquele dia no Municipal”.

Mário, Milton Neves e Tonhão, na Sala de Reminiscências do Paschoal Gonçalves da Rocha

TUDO MUDOU

Hoje, com um futebol mais estruturado e com um poderio financeiro bem maior, o charme ficou perdido no tempo. A amizade hoje gira em torno de negócios. E os negócios vão bem apenas para agentes e empresários. O jogador é pobre de sentimentos. O amor pode acontecer, mas é apenas pelo sucesso e a fama, não pela amizade e o prazer. Hoje, jogador de futebol é uma marca que pode valer milhões. Os que fizeram valer a amizade e o companheirismo as preferem e com toda a razão, uma frase que fica como despedida.

FERROVIÁRIA RECONHECE

Nas redes sociais, a Ferroviária lamentou a morte de Mário Fáccio: “É com muito pesar que a Ferroviária se despede do ex-jogador Mario Fáccio, irmão do zagueiro Tonhão, que fez história na Ferroviária.

Mário Nelson Fáccio atuou pela Locomotiva no final dos anos 50 e início dos anos 60. Começou jogando pelo Expresso de São Carlos e além da Ferroviária, jogou no Botafogo de Ribeirão Preto, encerrando a carreira com 30 anos.

A Ferroviária manifesta suas condolências e seus sentimentos aos familiares e amigos”.