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Morre o araraquarense Glenn Miller aos 72 anos, baterista em uma família de músicos

Familiares e amigos lamentam a morte do músico Glenn Miller Santiago de Souza Antônio, 72 anos de idade, uma das atrações da Banda Opus e Banda Templus. Em seu sepultamento o baterista Zé Sabaúna fez no próprio caixão o solo de caixa que ele, Chiquinho Batera e Glenn faziam na Banda Marcial do Colégio São Bento, na década de 60.

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O araraquarense Glenn Miller, nos momentos de lazer e trabalho em Piracicaba

Em 25 de junho de 1950, o trombonista e ferroviário da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, Geraldo Antônio, não se preocupou com o que as pessoas poderiam falar, ainda que a época fosse profundamente preconceituosa: o filho que acabara de nascer teria o nome de Glenn Miller, dono de uma orquestra que encantou o mundo nos anos 40. Ele gravou mais de 120 canções como músico de estúdio ou líder de banda e até hoje suas composições são lembradas e executadas em todo o mundo. Geraldo então, como músico, quis homenagear o artista.

Neste dia 02 de julho, 72 anos depois, o filho de Geraldo – Glenn Miller Santiago de Souza Antônio, está sendo sepultado no Cemitério São Bento e em sendo músico recebe dos amigos uma homenagem trazida dos tempos que tocou na Banda Marcial do Colégio São Bento. Zé Sabaúna dá o tom ao funeral com o solo de caixa do qual Glenn participou quando jovem. Geraldo partiu nos anos 90.

Geraldo Antônio, um dos trombonistas mais talentosos da nossa história musical

Foi com ele que o filho Glenn começou a tocar bateria, nos bailes de carnaval de 1961, no antigo Teatro Municipal de Araraquara. “Geraldo e sua Orquestra”, já um grupo musical famoso, fora contratado para animar os bailes carnavalescos daquele ano para os pretos da cidade.

Glenn, ainda criança, logo no primeiro baile e num dado momento, sobrou para ele um par de baquetas e esperto, começou a tocar, para supressa de todos os músicos, inclusive do seu irmão Benedito de Souza Antônio (Bê) que tocava pistom. Nem o seu pai sabia que ele já possuía condiçõespara isso. Era um autodidata e muito musical. Tinha o ritmo no sangue. Dali para frente não parou mais. Começou a tocar em bailes e acabou substituindo o seu irmão mais velho, o Geraldinho, que era o baterista da orquestra do pai.

Eventualmente, Glenn e seu irmão Bê, passaram a tocar em grupos menores com 6 ou 7 músicos, os chamados conjuntos na época, para fazer bailes fora dos grandes clubes da cidade, como o Araraquarense, 22 de Agosto e 27 de Outubro que já tinham suas respectivas orquestras contratadas.

Os conjuntos da cidade e de fora geralmente tocavam em clubes menores – Clube dos Bancários, Sociedade Nipo Brasileira, Palmeirinhas, Academia A. do Samba e Melusa. “Era comum nos apresentarmos no salão do Sindicato dos Ferroviários, na antiga Rua do Tesouro, na Vila Xavier, perto da Igreja de Santo Antônio, onde eram realizados muitos bailes familiares. Nessa época tocávamos o Bê (pistom), o Glenn (bateria), sua irmã Maria Adelaide (cantora), de vez em quando, o pai Geraldo (Trombone), Mário Carlos Morales (acordeon), “Seu” Peres (contra-baixo) e eu”, recorda Juraci Brandão de Paula, que tocava guitarra.

Glenn Miller nos ensaios em sua casa

Até os amigos Benedito José Arruda (Tinho) e Pedro Pollis chegaram a tocar várias vezes com esses músicos. Era o famoso “catado” da época. O músico pegava um baile para tocar, catava os músicos que estavam disponíveis no dia e iam fazer o serviço. E é claro, sem ensaio. Em outro baile dias depois poderia ser uma outra turma, dependendo da disponibilidade. Era o tempo que haviam muitos bailes na cidade e região e muito serviço para os músicos, assegura o músico.

Glenn também tocou em outros grupos como Os Condors Boys, Banda Marcial do Colégio São Bento (atual UNIARA), que fazia muito sucesso. Com José Carlos Servino (Zé Sabaúna) e o Francisco Carlos dos Santos (Chiquinho), os três grandes bateristas, formavam o trio de caixas-sólo, brilhando nos desfiles da cidade e concursos de Banda Marciais.

O próprio Juraci conta que – ainda foram formados outros grupos como “Brasilian Boys” e “Supermusison” com outros músicos: João Tocantins (sax-tenor), Hugo Ferreira Lima (sax-barítono), José Luis Lombardi (cantor), Pedro Pollis (baixo), Bê (Pistom), o seu irmão Glenn (bateria) e eu na guitarra.

A Banda Opus uma das mais renomadas do interior; nela estão os dois irmãos, Souza (Bê) e Glenn

Em dezembro de 1968, Bê ingressou na Polícia Militar com a intenção de ficar na Banda de Música do 13º Batalhão, em Araraquara. Entretanto, depois da Escola de Polícia tirada em Campinas, acabou classificado em Piracicaba onde foi morar com sua esposa e filhos. Pouco depois o Glenn também foi para Piracicaba onde morou 4 anos com o Bê e os dois tocaram com grupos como “Os Românticos” e “R. G. Som”.

Pouco depois Bê e Glen em sociedade com mais dois músicos – Guilherme (guitarra) e Obelito (teclados) contrataram outros músicos e montaram a “Banda Opus” que ficou famosa e ainda em atividade com 48 anos de fundação, sendo dirigida pelo seu fundador Bê, o Souza, para os piracicabanos.

Alguns anos tocando na “Banda Opus”, Glenn deixou o seu irmão e em sociedade com outros músicos entre eles o Florisval Rodrigues Júnior (Juninho cantor) montaram a “Banda Themplus”. Piracicaba passou a contar com o sucesso de duas grandes bandas.

A Themplus, em uma das suas tradicionais formação com o araraquarense Glenn Miller

Glenn, com 72 anos completados no dia 25 de junho último, por muito tempo fez tratamento para controlar a hipertensão. Aconselhado pelos médicos faria uma cirurgia do coração, mas acabou sofrendo um AVC e foi hospitalizado no dia 16 de junho. Chegou a sair do hospital, trabalhar um dia, acompanhado de sua mulher Helena. Internado novamente surgiram as complicações renais. Já debilitado, não resistiu. Partiu no dia primeiro de julho, deixando Helena, os filhos Wiliam, Welington, a filha Evelyn e netos.

Glenn sempre obteve respeito, reconhecimento e admiração dos músicos, moradores de Araraquara e principalmente de Piracicaba onde passou a maior parte de sua vida, pelo grande baterista que era.  No dia seguinte, 02 de julho, foi sepultado em sua terra natal, no Cemitério de São Bento.

Antes do sepultamento, Zé Sabaúna fez no próprio caixão, o solo de caixa que ele, Chiquinho e o Glenn faziam na Banda Marcial do Colégio São Bento, na década de 60. Uma forma simples mas sincera de homenagear de coração mais um amigo músico que se foi.