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Morre Pércio Damásio. O choro da cuíca emudece nossas escolas de samba!

Dos tempos românticos das passistas e sambistas descendo a Vila para a cidade, é verdade que pouco resta, mas na verdade os exemplos deixados por Pércio Damásio, o eterno ferroviário da Companhia Paulista vão enriquecer a frágil cultura adormecida nas periferias, com as lembranças dos antigos carnavais. Pércio, morreu nesta sexta, aos 95 anos.

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Dois momentos importantes na vida de Pércio, homenageado com o título de "Cidadão Benemérito" pela Câmara, reconhecendo seu valor

Araraquara perdeu nesta sexta-feira (8) uma das suas históricas figuras, personagem dotado de simplicidade e sempre devotando respeito ao próximo: Pércio Damázio deixa exemplos de uma vida regada pelo trabalho e solidariedade ao próximo e sua morte começa a ser sentida como de fato e de direito uma – perda irreparável.

Aos 95 anos ele deixa os rastros da admiração e o amor incontido pela sua terra; mas nada foi maior que o carinho que nutria pela sua querida Vila Xavier e sua partida tem o endereço de quem vai encontrar o sambista e professor de gafieira Santo Antônio, dos Anjos da Vila; o precursor do samba em Araraquara, Osvaldo da Silva, o Bogé, fundador da Escola de Samba Estrela de Vila Santana; Antonio Carlos Fonseca, o Carioca, criador da Unidos da Morada do Sol, figuras regidas pelo choro da cuíca.

Pércio sambando nos tempos que os desfiles das escolas eram realizados na Rua 9 de Julho

Recentemente, com demência, esteve hospitalizado em um dos hospitais da nossa cidade. Vivia dizendo nas rodas de samba e de boa conversa com os amigos do batuque – meu nome é trabalho. De fato, não era nenhum engodo e nem conversa prá boi dormir, pois nasceu no dia “primeiro de maio” de 1928.

O filho de dona Anna de Jesus e do seo João Damázio, era o que era dentro da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, onde passou sua vida, rimando os seus passos com o apito do trem, diziam seus amigos. E, estava tão acostumado que foi seu único emprego dentro de uma elegância que o fazia o senhor dos senhores na Vila Xavier.

Pércio foi diretor do Sindicato dos Ferroviários da Paulista atendendo os que o procuravam na sede que funcionava na Avenida Bento de Barros na Vila Xavier, bairro onde sempre residiu com a família.

Momento raro da nossa história com Sidney, Bogé e Rosendo Camargo

Quando se aposentou em 1972 disse aos amigos mais chegados com aquela voz rouca que esmiuçava um português rasgado – “agora vou encostar o burro”. Mas não, foi aí que Araraquara conheceu o homem que gostava do samba e buscava compartilhar seu espírito de luta com quem o procurava: Anjos da Vila, Unidos da Morada do Sol, Prá Frente Brasil; e há quem diga que foi um dos fundadores da Academia A do Samba que funcionava onde é hoje o “Nenê Escapamento”. Não bastasse, uma das suas últimas proezas foi fundar a Escola de Samba da Associação Atlética Ferroviária e da qual foi o seu ilustre presidente, cargo que também exerceu na Escola de Samba Pra Frente Brasil.

Pércio deixou a viúva dona Ivone Damázio com quem teve dois filhos; Luís Persio Damázio, já falecido e Luis Alberto Damázio. Deixa também netos e bisnetos, além de inúmeros parentes e amigos. O velório será neste sábado,9, das 9 às 13 horas na Funerária Almeida e o sepultamento logo após, no Cemitério São Bento.

O ronco da cuíca se perde no caminho para o céu, comentou um amigo nas redes sociais, completando: só que a escola divina no paraíso ganha um mestre para a festa que será eterna. Siga em paz, seo Pércio.

O QUE CONTOU VICENTE HENRIQUE BAROFALDI EM SEUS LIVROS

O ferroviário aos 88 anos ao lado do amigo Douglas Onça, um dos grandes jogadores na história da Ferroviária

“Ela, 97 anos; ele, 95. Associação Atlética Ferroviária e Pércio Damázio se uniram há muito tempo e permanecem fiéis um ao outro. O clube de futebol fundado por funcionários da Companhia Paulista de Estradas de Ferro no longínquo 1927 faz parte da vida de Pércio Damázio desde tempos distantes. Primeiro por meio da paixão pelo futebol, depois através da música.

Durante muitos anos, Pércio foi técnico do time de futebol da Atlética da Vila Xavier. Isso, no tempo em que o Dr. João Ferreira da Silva era presidente atleticano. Ambos trabalharam harmoniosamente em defesa do time azul e branco. A partir da década de 1970, Pércio incorporou às tradições atleticanas uma escola de samba que passou a fazer parte das manifestações carnavalescas da cidade de Araraquara. A ponto de ter seu nome colocado em um samba-enredo da agremiação, como justa homenagem pelo seu entusiasmo e disposição para defender a Atlética.

A citação do nome da Atlética Ferroviária sugere de imediato a lembrança de pessoas que se notabilizaram ao defendê-la, seja como dirigente, técnico ou jogador.

UM SAMBA PARA PÉRCIO

Letra do samba-enredo da Escola de Samba Atlética Ferroviária em homenagem a Pércio Damásio