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MPF pede que cartel do suco de laranja – Cutrale, Citrosuco e Dreyfus – pague R$ 14 bilhões em indenizações

Ação pretende diminuir prejuízos causados a produtores brasileiros; processos correm na Justiça do Brasil e Inglaterra

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As três empresas condenadas pelo Ministério Público pela formação do cartel da laranja

O Ministério Público Federal de São Paulo pediu para a Justiça que o cartel do suco de laranja – Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Co (LDC), que respondem pela maior parte da produção mundial de suco de laranja – seja condenado a pagar quase R$ 14 bilhões para reparar os danos materiais e morais causados ao setor entre 1999 e 2006 e que ainda se recupera após os descartes causados pelo grupo.

Gilmar de Azevedo, um dos 30 mil produtores de laranja em São Paulo, perdeu tudo o que tinha pelo cartel da indústria de suco concentrado, que vigorou no estado durante sete anos. Dos 70 mil pés que tinha em Itapetinga, atualmente só cultiva dois mil.

“A laranja estava no meu sangue. Muita gente acreditou em mim, plantou porque a gente era referência, mas tive que arrancar tudo, pagar para arrancar. Eu perdi a vida inteira em oito anos. Perdi por acreditar no setor, acreditar nas empresas”, lamenta Gilmar.

Durante os anos de vigência do cartel, mais de 400 milhões de caixas de laranja foram descartadas. Valdir Buttarello, em Itápolis, tinha um pomar com 50 mil pés e precisou arrancar todas as árvores do dia para a noite.

“Eu chorei, você imagina quanto que nós rodamos de trator, quanto defensivo nós gastamos, quanto de adubo nós gastamos para essas árvores terem vida e produzir para nós, e depois você ver, ter que arrancar ela porque ela tá te dando prejuízo, não ela, mas esse cartel do cão aí?”, afirma.

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica também abriu processo contra as 17 empresas e comprovou o cartel, que tinha indústrias processadores de cítricos, que usavam práticas de concorrência predatória e abuso de poder econômico. “A indústria transferiu para os produtores os custos de colheita e frete, com cerca de 30 por cento dos custos, sem nenhuma compensação. E os produtores não estavam preparados para assumir essas operações, os custos e os riscos também”, explica Flávio de Carvalho Pinto, diretor da Associtrus.

As indústrias, na época, foram condenados a pagar R$ 300 milhões em multa, o que nunca chegou aos citricultores. Agora, o MPF pede os R$ 14 bilhões e a Justiça acatou, tornado as empresas rés. Os representantes da indústria do suco de laranja não quiseram comentar a decisão. As empresas também não se manifestaram.

No Reino Unido, a Federação da Agricultura de São Paulo também conseguiu uma vitória. O judiciário britânico aceitou processar os integrantes do cartel, que se mudaram para Londres. O objetivo é fazê-los pagar pelo menos uma parte dos produtores prejudicados. (Jornal Band)