Se em outros lugares da cidade o projeto literário criado pela Secretaria Municipal de Cultura teve holofotes e a simpatia dos moradores, no caso o Jardim Botânico quando recebeu as primeiras placas, reação diferente tem ocorrido pelos que acompanham o sepultamento de familiares e amigos no Cemitério São Bento em Araraquara.
A placa com o escrito – Que aqui seja a MORADA da minha casca, quando viu já foi – dá entender que se trata de um cartão de boas-vindas e de auto afirmação da morte, porém contrasta com o sentimento de perda que o momento impõe, entendendo ser uma mensagem inoportuna e desrespeitosa para os carregam o luto naquele instante.
O PROJETO
O projeto “as ruas de nomes no ar”, criado por Rodrigo Vulcano e com o apoio da Secretaria Municipal da Cultura e Fundart ganhou forma em 2019, quando o artista ministrou a oficina “Haicais, microcontos e Textitxs: mil e uma ideias em até 140 caracteres” em Portugal. Em bate-papo com o artista Lauro Monteiro, Vulcano soube que, em Araraquara, nos anos 70, foi realizado o projeto “Poema Painel”. “Foi um trabalho em que artistas da cidade fizeram obras inspiradas em pontos históricos: poemas, pinturas, fotografias”.
Foi sob essa ótica que Vulcano um escritor de Araraquara teve a ideia de espalhar placas com haikais (poemas curtos) por vários lugares da cidade, sendo o Botânico seu primeiro ponto, passando depois pelo Parque Infantil, Arena da Fonte, Gigantão, Biblioteca Municipal, até chegar no portão de acesso ao Cemitério São Bento.
“Eu falei: vamos trazer um pouco de poesia. A maioria dos textos está na altura do olhar para que você possa sair do celular e em pequenas caminhadas, pequenos momentos de solidão, comungar com alguma coisa que esteja ali, pensar e refletir”, afirmou.
CRÍTICAS
Um dos que condenam a colocação da placa em lugar não condizente com o momento de um sepultamento deixou sua reclamação ao RCIA, afirmando que “ao passar em frente ao portão do cemitério me deparei com essa placa, inusitada, colocada pela Secretaria de Cultura e Fundart da Prefeitura.”
Para ele, que acompanhava o féretro de um membro da família a placa é um acinte em relação as pessoas que enterram seus entes queridos, amigos, pais, suas esposas, seus filhos e que vão ao cemitério depositar todo seu carinho, respeito as pessoas já falecidas. “Fazer uma brincadeira de mal gosto, de péssima poesia nos faz pensar que esse povo da Prefeitura está muito louco. Esse não é lugar para colocar uma placa de engraçadinho”, completou.
A Prefeitura Municipal será consultada sobre a retirada da placa no portão principal do Cemitério São Bento em Araraquara e deixa-la no início da Rua da Saudade (praça fronteiriça) ou então retirar de vez para não se criar polêmica, revolta e desgaste político desnecessário em uma região tipicamente de velórios.