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Precisamos falar sobre Ariovaldo dos Santos

Projeto da Secretaria Municipal da Cultura busca novos depoimentos sobre o legado do renomado diretor, ator e dramaturgo araraquarense; confira, abaixo, detalhes de sua trajetória e palavras de quem teve o prazer de trabalhar com o artista

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Ari através sob o olhar do fotógrafo Luiz Rocatelli

No dia 21 de abril de 2010, Araraquara viu um de seus mais célebres artistas deixar este plano, colocando toda a cena teatral local em silêncio. Criador do Teatro Experimental de Comédia (Texc), mais antigo grupo teatral em atividade na cidade, o ator, diretor e dramaturgo Ariovaldo Santos, o Ari, foi encontrado morto em sua casa, depois que amigos arrombaram a porta de sua casa, estranhando a falta de retorno do diretor aos telefonemas. Tempos depois, foi constado suicídio. À época, ele tinha 61 anos.

E para reviver e buscar novas memórias ligadas ao legado de Ariovaldo, a Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico, ligada à Secretaria Municipal da Cultura, está fazendo um levantamento de artistas e técnicos que tenham trabalhado com o diretor. O formulário pode ser acessado neste link.

“Os depoimentos devem somar para uma exposição futura. A princípio será acondicionada na Secretaria da Cultura. A ideia é que possa ter um formato itinerante para levarmos aos locais onde forem realizados eventos culturais. Ainda é um projeto, mas acho importante abrirmos para coletar mais informações”, adianta Weber Fonseca, coordenador de Acervos e Patrimônio Histórico.

MOMENTOS, MUITOS MOMENTOS

O legado de 45 anos de militância no teatro de Ariovaldo dos Santos, cuja dramaturgia ganhou níveis nacionais com peças para o público infantil e infanto-juvenil, ainda ecoa nos corações daqueles amantes dessa arte de Araraquara. Junto àqueles que dividiram palco com Ari, muitas lembranças e aprendizados eternos na bagagem.

Um deles é o ator e cantor Tárcio Costa, da Cia Tárcio Costa. “Trabalhar com Ariovaldo do Santos foi um divisor de águas na minha carreira artística. Ao lado dele, tive a oportunidade de vivenciar algumas belas montagens de teatro infantil as quais destaco “O Menino Machadinho e “Estrela de Papel”, lembra Costa em entrevista ao jornalista Matheus Vieira, certa vez.

Tânia Capel, que fez parte da última peça da trupe, ‘Brincadeiras’, de 2010, nos conta que seu sonho de criança era ser atriz e que o primeiro espetáculo que ela viu em sua vida foi no Teatro Municipal e com assinatura do Texc.

“Essa lembrança não é só minha, muita gente aprendeu a ver teatro com as produções do Ariovaldo. Ele foi um grande formador de público. Anos depois, já na vida artística, fui trabalhar com com ele e o que mais impressionava em nossa convivência, era o quanto ele acreditava no teatro, como se fosse parte dele, uma parte vital sem a qual não seria possível viver”, relembra Tânia.

Severian e a atriz Tânia Capel em ‘O Menino Machadinho’, que o Texc encenou em 2009. A direção era de Alexandre Cruz. (Foto: Divulgação)

IDEALISTA ARARAQUARENSE

Artista inteligente e devoto ao ofício, Ariovaldo começou na carreira artística como ator, em 1964, no grupo Diletantes, dirigido por Anna Maria Martinez Corrêa. Um ano depois, montou sua própria companhia e, com ela, construiu uma história singular na cena cultural de Araraquara, na qual sua vida pessoal e seu grupo de teatro fundiam-se.

Idealista, ele nunca se rendeu aos convites para que deixasse Araraquara e fez da cidade seu palco, seu laboratório e sua escola. Na sede que construiu ao lado de casa, no Jardim das Estações, Ari formou várias gerações de atores e montou inúmeros espetáculos, a maioria deles para o público infantil, faixa etária para a qual se especializou e fez do Texc uma referência na área no Interior do Estado. “Nunca fiz teatro no mercadinho”, disse também ao jornalista Matheus Vieira.

‘O TEATRO NOS ESCOLHE’

Da primeira montagem, dirigida por Aldo Stazione, à peça “Brincadeiras”, último espetáculo montado pelo Texc, em 2010, Ariovaldo dos Santos foi um artista incansável e, sobretudo, esperançoso no teatro de Araraquara. Costumava dizer e enfatizar que “a gente não o escolhe o teatro. É ele quem nos escolhe. E quando isso acontece, não há como fugir. Além da vocação, a paixão por essa arte sempre me guiou”, reflete.

(Por Matheus Vieira)