Por Suze Timpani – Canasol
No agronegócio, espaço tradicionalmente masculino, a participação feminina vem crescendo gradativamente. Muitas mulheres saíram do papel de suporte, para assumir a liderança das propriedades rurais.
E foi assim que aconteceu com Priscila Vannuchi de 51 anos, casada e com dois filhos, que está à frente de uma propriedade que tem 110 alqueires de cana-de-açúcar plantados.
Priscila conta que o percentual de mulheres a frente dos negócios ainda é menor, em relação aos homens. “Mas eu tenho essa herança na minha família, onde minha bisavó antes de 1915 já administrava a fazenda, era ela quem mandava. Se em nosso tempo são poucas mulheres, imagine no tempo da minha bisavó, deve ter enfrentado grande preconceito”, ressalta a bisneta.
Ela é formada em Economia e sempre fez a parte financeira e administrativa da fazenda. Seu pai, Sidney Vannucchi fazia a parte operacional, ele decidia tudo. “Em 2007 passamos pela crise da laranja, onde dávamos em garantia no banco o que tinha para pegar empréstimo, para pagar as contas. E meu pai sempre cuidou muito bem da plantação de laranja, então, investia muito, e nós não tínhamos todo este dinheiro para investir. Começou o atrito, porque eu era o financeiro. Um dia o italiano bravo, bateu na mesa e disse: você sabe fazer melhor? Então vá fazer. Sabe aquelas discussões de pai e filha que deveria ter ficado só na palavra, não ficou. Eu assumi”, conta ela.
Tudo aconteceu muito rápido e foi uma surpresa também para André Martinez, que trabalha na fazenda há 44 anos. Mas de longe o pai fiscalizava e dizia a André, “não deixe ela fazer nada sem me consultar”. Para Priscila o pai estava certo, até porque ele queria ter certeza de que ela não faria bobagens.
Priscila diz que no começo foi complicado, pois não entendia nada de laranja. “Não sabia nem o que era uma grade”, ri ela.
Contratou então um agrônomo para lhe dar assessoria, pois não enxergava mais futuro na laranja e queria mudar a cultura para cana. “Essa mudança para cana só foi possível porque eu estava na parte operacional. Meu pai tinha um apego emocional na laranja, foram 30 anos cultivando. Quando começamos a tirar os pés, meu pai nem vinha na fazenda, foi difícil para ele que investiu tanto tempo, dinheiro e esforço ver tirar tudo. Afinal um pomar de laranja bem cultivado, vale mais que a terra”, ressaltou.
Depois da mudança a produtora afirma que a cana foi pagando as contas da fazenda e hoje deu resultado. “A transição foi meio no susto, errei muito, aprendi com todos os erros e deu certo porque minha parceria com o André é muito boa, nós decidimos juntos, e ele sabe muito do operacional da fazenda. O sucesso de ter uma fazenda equilibrada financeiramente é a parceria. Depois que meu pai viu que eu não estava fazendo nenhuma bobagem, se afastou mais”, conta Priscila.
Ela não nasceu no campo e diz que sua vocação não era esta. Mas ressalta que o campo tem muito a ensinar e ela aprendeu a gostar.
Quanto a enfrentar preconceito neste meio, Priscila diz que não se importa, mas às vezes em eventos ligados a cana muitos homens nem olham para ela, mesmo sabendo que ela é fornecedora de cana. “Eu nem me importo, para mim, tanto faz. Se eles têm preconceito por eu ser mulher, problema deles. Tem sempre aquele ar de que mulher não sabe nada. Evidente que não sei tudo. Eu faço uma parte e o André faz outra, sozinho ninguém chega a lugar nenhum”.
Priscila ressalta que se existe o preconceito, ele não pode te impedir de alcançar seus objetivos. “Eu sempre estudei muito, perguntei muito e fui aprendendo e superando obstáculos. O produtor rural ainda acredita que é o filho homem quem vai administrar sua fazenda, e na maioria das vezes a filha faz melhor”, finaliza o produtora.
As mulheres definitivamente vêm mostrando sua capacidade de condução no Agro, com visão de empresa, mente aberta e agricultura de precisão. Aprender com a terra é sinal de colheita farta. Trabalhar com sorriso no rosto só mostra que Priscila já floriu seu caminho.