Home Cidade

Quem disse que ele não veio: eis Paco Rabbane, o eterno estilista em Araraquara, almoçando e jantando

Paco Rabbane morreu nesta sexta-feira; foi o maior nome da alta costura feminina em todos os tempos. Interessado em colocar seu nome nas calças Chaban, fabricadas pela empresa de Gérson e Gumercindo Ferreira, logo as confecções rodaram o mundo. Sua presença passou quase que despercebida, porém o tempo permitiu reeditá-la, mostrando os dias de glória da Chaban e de Rabbane em nossa cidade.

764
Audaciosos, os irmãos Gerson e Gumercindo Ferreira mostram a calça Chaban para Paco Rabbane em 1988

16 de setembro de 1988, sexta-feira. A Chaban, nome fantasia de Chapéus Bandeirantes em Araraquara, está pronta para receber Paco Rabanne, estilista que ficou famoso por suas confecções futuristas, que fizeram o guarda-roupa dos grandes centros da moda mundial na década de 1960. A confirmação veio dois dias antes através do representante da marca no Brasil.

Mas o que estaria trazendo o estilista transformado em empresário da moda mundial à nossa cidade? Trinta anos depois, em seu escritório, Gerson Ferreira, antigo diretor da indústria, contou para um seleto grupo de amigos a razão da visita à fábrica: “O nosso nome era muito forte e a Chaban buscava uma marca importada para se consolidar ainda mais. Através de um representante da Paco Rabanne, as conversas avançaram e fechamos acordo. Eles fizeram uma grande proposta na época, mas nós não concordamos pois tínhamos que preservar o grande número de clientes que possuíamos. A modelagem feita para a marca seria idêntica à modelagem das calças que já fabricávamos para os lojistas daqui”.

As calças passaram a ser feitas pela Chaban, mas com o nome de Paco Rabbane

Da produção da Chaban, cerca de mil calças por dia, pelo menos 30% eram enviadas aos revendedores da Paco Rabanne em todo território nacional. “Nunca mandamos fazer nada fora da fábrica. Contávamos com uma equipe de 350 funcionários. Tudo era supervisionado por um chefe de produção, o Pedro Martini Neto e por mim. A gente sempre fiscalizava os setores para saber se o material estava com qualidade”, assegurou Gerson naquele dia.

Paco Rabanne ficou impressionado com a modelagem das calças; ela havia sido feita por um dos mais famosos alfaiates de Araraquara, Álvaro Ferrarezi, conhecido como “Lili Ferrarezi”, nascido em Matão em 1914 e diplomado Alfaiate em 1939 pela Escola “José Lazarini”, em São Paulo.

Paco Rabbane jantando na casa de Gumercindo, servido pelo garçon Ségio, na Avenida Mauá, hoje um edíficio residencial

O início da fabricação de calças, no entanto, começou em 1964, quando Gerson Ferreira procurou Lili Ferrarezi para confeccionar duas calças: uma para ele e outra para o irmão Gumercindo. Eles aprovaram e decidiram criar o projeto de fabricação em série, mesmo porque a venda de chapéus estava caindo no mercado nacional.

Fabricar chapéus como aquele que Nat King Cole usou para vir ao Brasil, fez crescer novamente a Chaban

“Chapéus Bandeirantes veio através do meu pai, o Gumercindo Ferreira Silva, em 1940. Ele tinha na garagem de casa, localizada na Rua Nove de Julho, esquina com a Monteiro Lobato, a pequena fábrica onde fazia chapéu de palha. O material (carapuça) vinha de Sobral, no Ceará, e ele confeccionava para o trabalhador. Logo depois comprou um terreno na Avenida Bandeirantes e montou a indústria para a fabricação de chapéus de palha”, contou Gérson.

Os filhos Gumercindo e Gerson começaram a trabalhar cedo ajudando o pai na fábrica, ambos com menos de 20 anos. Assumiram os negócios em 1953, e 16 anos depois, a fábrica de chapéus contabilizava 110 funcionários. Porém, a partir de 1965, as vendas de chapéu começaram a cair. “Conseguimos nos alavancar quando o músico Nat King Cole veio ao Brasil usando um pequeno chapéu de aba estreita. A moda foi lançada e a Fábrica de Chapéus Bandeirantes ganhou impulso”. Com visão de futuro, Gerson e Gumercindo não ficaram alheios à decadência do uso de chapéus e decidiram partir para a fabricação de calças. Assim nasceu a Chaban.

“Os clientes queriam sempre comprar coisas novas e interessantes para colocar em suas lojas. As peças saiam em grande quantidade, mas nada além do normal, até para não encalhar as vendas caso surgisse uma novidade”, revelou Gerson aos seus amigos.

Tudo era supervisionado por um chefe de produção, o Pedro Martini Neto, na foto em evento na sociedade araraquarense da época

Com a entrada de Collor de Mello no governo, o panorama econômico começou a mudar. A abertura da importação na época fez com que os produtos subsidiados da China devastassem não só a Chaban, mas várias empresas como as da cidade de Americana (SP), por exemplo. “Conversei com o meu irmão Gumercindo e chegamos à conclusão de que se continuássemos com a fábrica, poderíamos perder tudo o que havíamos conquistado com o trabalho árduo durante anos”. Seu envolvimento social foi muito grande na cidade e uma de suas principais ações foi patrocinar o time de futebol da Ferroviária, de 1983 a 1985.

Ambos os irmãos – Gerson e Gumercindo estão falecidos. Gerson mais recentemente. O ilustre visitante, nome conceituado em todo o mundo, Paco Rabbane, que esteve almoçando e jantando na cidade, partiu nesta sexta-feira. Na cidade também ficou a sua marca através das calças Chaban, almoçando e jantando e servido por um garçon chamado Sérgio, aposentado do DAAE.

Paco Rabane, o nome mais conceituado da moda feminina em todos os tempos e que um dia passou por aqui