
Um dos principais temas econômicos do mês de julho é o conflito diplomático e comercial entre Brasil e Estados Unidos, principalmente pelas imposições de tarifas de 50% do governo Donald Trump para todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, que deve entrar em vigor no dia 1º de agosto. Diante desse contexto, o Núcleo de Economia do Sincomercio Araraquara fez uma análise detalhada sobre como essa relação comercial pode impactar a economia da cidade.
Caso o cenário não se altere, a aplicação da tarifa sem qualquer aspecto seletivo é prejudicial à toda economia brasileira, com efeitos mais relevantes para o estado de São Paulo e, consequentemente, em Araraquara. Para efeito de comparação, em 2024, as exportações da cidade para os Estados Unidos alcançaram o valor de US$ 251.821.928 milhões de dólares, com US$ 6.319.393 em importações. Em 2025, somente no primeiro semestre, os valores exportados pelo município já atingiram US$ 210.894.053 em exportações e US$ 2.596.432 em importações.
Tabela 1- Comércio Exterior entre Araraquara e os Estados Unidos e seus valores entre janeiro e junho de 2025

Segundo a análise, e para melhor compreensão visual do desempenho da cidade no saldo comercial com os Estados Unidos no período de janeiro a junho, há uma comparação com os dois anos anteriores. Nisso, os resultados de 2025 atingem 193% do ano passado e mais que o dobro de 2023.
Gráfico 1 – Saldo comercial de Araraquara com os Estados Unidos entre janeiro e junho dos anos 2023, 2024 e 2025 – Valor US$ FOB

Quanto aos parceiros comerciais do município, os Estados Unidos (41%) lideram o ranking entre os destinos das exportações araraquarenses no ano, com a participação de quase metade do total negociado com o exterior.
Gráfico 2 – Araraquara – SP: Exportação – Países Parceiros

Já entre as importações, a China (34%) foi o país que a cidade de Araraquara mais importou bens, com os norte-americanos na sexta posição (6%), atrás de Alemanha, Argentina, Vietnã e Itália.
Gráfico 3 – Araraquara – SP: Importação – Países Parceiros

CONSIDERAÇÕES
Com a intensa relação comercial entre a cidade de Araraquara e os Estados Unidos, os efeitos da taxa de 50% anunciada pelo presidente Donald Trump sobre os produtos brasileiros podem afetar diretamente a economia local. Sendo a nação estadunidense o maior destino das exportações araraquarenses, os setores produtivos, que já enfrentam uma escalada de tributos e dificuldades no mercado de trabalho, podem ser ainda mais impactados.
Se os consumidores dos EUA passarem a rejeitar os bens nacionais, em especial os do município, será necessária uma busca por novos mercados. “Assim, o processo de aprovação em um novo mercado pode levar de seis meses a um ano, considerando aspectos fitossanitários, regulações industriais, além de ajustes de preço, câmbio e logística”, destaca Maria Clara Kirsch, pesquisadora do Núcleo de Economia do Sincomercio.
Ainda, se o governo brasileiro adotar a Lei da Reciprocidade e taxar de volta os itens estadunidenses, os insumos vindos do país poderão implicar em maiores custos para a produção brasileira, e em especial araraquarense, já que os Estados Unidos são a sexta maior origem das importações da cidade no ano.
Outro prejuízo para além das relações comerciais pode ocorrer no mercado financeiro, já que empresas que vendem para os Estados Unidos possuem ações e títulos no exterior, cujos preços podem ser afetados se as taxações afetarem lucratividade e rentabilidade de empresas, alterando negativamente então o perfil patrimonial dessas empresas.
Portanto, as expectativas indicam aumento de preço nas duas faces do tarifaço, em um momento em que a inflação já está acima de 5%. Embora seja possível ocorrer um excedente de produtos no mercado brasileiro no curto prazo, o tarifaço envolve uma complexidade para além do ato de vender e comprar, por estar inserido em um sistema monetário que financia as produções. “Com o impacto negativo sobre as cadeias produtivas, a produtividade e a empregabilidade podem ser colocadas em xeque”, complementa a pesquisadora.
Coordenação de pesquisa: Elton Casagrande | Pesquisadores: Maria Clara Kirsch Junqueira e Bruno H. Camacho