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Termina hoje (30) a exposição “Povos Originários – Os caminhos da memória”

Mostra que integra a programação do Festival Internacional de Dança ocorre no Museu Ferroviário

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Com a organização de Carol Goos e Gilsamara Moura, o evento é produzido pela Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico.

Termina hoje (30), no Museu Ferroviário de Araraquara a exposição “Povos Originários – Os caminhos da memória”, de Marcos Costa de Freitas, evento que integra a programação do Festival Internacional de Dança (FIDA) 2022. Com a organização de Carol Goos e Gilsamara Moura, o evento é produzido pela Coordenadoria de Acervos e Patrimônio Histórico. A visitação gratuita ocorre das 9h às 17h.

A mostra reúne desenhos a carvão e a lápis-carvão sobre papéis de fibras vegetais diversas, produzidos por Marcos Costa de Freitas, mestre em História pela PUC-GO na área de concentração de cultura e poder, e bacharel em artes visuais/comunicação visual pela Universidade Federal de Goiás.

Professor no ensino superior de design há 23 anos, ele atuou como coordenador por 13 anos, participou da elaboração de planos de desenvolvimento institucional e projetos pedagógicos de cursos diversos. Foi membro da Comissão Assessora de Área do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) de Tecnologia em Design Gráfico 2018 e 2019.

A exposição ilustra um percurso pessoal e subjetivo que começou com a busca de referências para retratar a etnia Goitacá. Pesquisas realizadas na internet revelaram algumas imagens como sendo ilustrações dos Goitacás, mas na verificação meticulosa constatou-se que se tratavam de antigas ilustrações de outras etnias. Eram gravuras etnográficas européias do século XVIII, dos povos Maxuruna.

O Chef Camacan, uma ilustração de Jean-Baptiste Debret, litografada por Charles Etienne Pierre Motte, é uma outra imagem recorrentemente apresentada como sendo de um Goitacá. As ilustrações etnográficas dos povos Aimorés também são usadas frequentemente para ilustrar os Goitacás.

A busca frustrada por imagens históricas levou acidentalmente aos registros textuais de André Thèvet e aos posteriores relatos de Frei Vicente de Salvador, que descrevem e relatam eventos da vida dos Goitacás. São relatos que permitiram formar um ícone hipotético do tipo físico e da cultura desses povos.

O tempo acumulou muitas lacunas de memórias, há mais indagações do que respostas, mas isso não é obstáculo à arte. A busca dos Goitacás levou aos Aimorés e aos Maxuruna. Para compreender e reconstruir uma ilustração de um Maxuruna foi necessário pesquisar os povos Matis, estes levaram aos Yanomamis, depois aos Mebêngôkre, aos Asurini, aos Waujas, aos Yawalapiti, entre outros. Foi como caminhar na mata, buscando pistas e trilhas, e assim, de forma espontânea, se fez o percurso e recorte temático de aproximadamente dois anos de desenhos.

Portanto, no processo de reconstruir a imagem esquecida, foi necessário estudar os povos que preservaram seus modos de vida até a atualidade. Aparência física, cultura, adereços e pintura corporal são referências usadas de forma comparativa para intuir ou reconstituir a imagem dos povos ancestrais.

Por meio de estudo de similares, buscam-se os elementos que podem compor repertórios necessários à reflexão e ao resgate da memória. A exposição retrata esse processo, mas ainda é um trabalho em estágio inicial, desprovido de elementos conclusivos.

A imagem tem enorme poder de mobilizar o imaginário de uma sociedade, por isso seu resgate é muito importante. A história dos povos originários do Brasil é riquíssima, mas pouco conhecida, há uma “patologia hermenêutica” que agrupa todos os indígenas como se fossem uma única etnia, referem-se à “índios” como se fossem todos de apenas uma cultura.

É necessário e urgente (re)apresentar a diversidade da realidade, para combater as ficções de nação que são veneradas há séculos. O Brasil herdou uma história que quase sempre foi escrita à revelia dos fatos e da memória, geralmente para atender a interesses coloniais, políticos e militares. Alguns resumos venerados pelos conservadores são muito perniciosos, por debilitar a história e corromper os fatos, como o mito das três raças, e o país unificado por um único idioma.

Referindo-se especificamente aos povos originários, os resultados do Censo 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para 274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305 etnias diferentes.
O Brasil tem sido levado a uma situação de enorme risco sócio ambiental, com desmonte das políticas de proteção e a criminalização do ativismo.

O desmantelamento da FUNAI impôs prejuízos diversos à tradição e memória indígena, a cultura, tratada como inimiga do governo, começou um longo processo de atrofiamento. Por isso é urgente estudar e expor a história e cultura dos povos indígena à sociedade brasileira, para preservação do seu legado, e para constituição de um novo imaginário social que permita um país plural e sustentável nos planos material e cultural.