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‘Vamos vender agora, porque no ano que vem ninguém sabe’

Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, fala dos aprendizados tirados da pandemia para os negócios. Empresário chegou a Araraquara adquirindo as lojas da Eletro Tamoio.

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Luisa Trajano chegou a Araraquara comprando as lojas da Eletro Tamoio

“CEO de crise”, como gosta de se autodenominar, Luiza Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, chega ao final do ano de pandemia sem apontar cenários nem caminhos para 2021.

Porém, do alto dos seus mais de 55 anos de varejo e referência em empreendedorismo feminino, a empresária diz que, nessa crise atípica, que afetou todo o mundo ao mesmo tempo, o negócio é pensar no agora.

Luiza alerta que esse é o momento de tomar cuidado na Black Friday para evitar disseminação do vírus nas lojas físicas, manter o foco nas vendas, tratar bem o cliente, entregar o mais rápido possível, trabalhar muito nas redes sociais e, principalmente, parar de achar que tudo está ruim ou dando errado.

“E não adianta falar: ‘ah, vai dar tudo certo.’ Empreender é trabalho, é realismo, é viver o agora.”

Fundadora do grupo Mulheres do Brasil, vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e com trabalho focado em liderança coletiva e colaborativa, Luiza engajou os 40 mil colaboradores do Magazine nessa cultura, que há 22 anos consecutivos está no ranking das melhores empresas para trabalhar.

Nos três últimos anos, foi classificada como líder de negócios com melhor reputação no Brasil, segundo a consultoria espanhola Merco, e a única executiva brasileira na lista global do WRC (World Retail Congress).

Em mais uma das 400 lives que participou este ano, Luiza Trajano encerrou a programação anual do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC) da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acipi), da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp).

Participaram ainda Luiz Carlos Furtuoso, presidente da ACIP, Ana Claudia Badra Cotait, presidente do CMEC da Facesp e da ACSP), e Damaris Verderame, coordenadora do CME Acipi.

Veja a seguir as principais ações realizadas por Luiza Trajano ao longo da pandemia, e que servem de inspiração para empreendedores de qualquer porte.

PPP: PENSE PRIMEIRO NO PEQUENO

Com o caixa capitalizado no início da pandemia, o Magazine Luiza acelerou um projeto iniciado em 2019: o Parceiro Magalu. A iniciativa para driblar o fechamento de quase 1,3 mil lojas na quarentena foi criar uma plataforma para sellers e pequenos lojistas revenderem produtos da varejista, hoje com 600 mil vendedores.

Em oito dias, sua equipe desenvolveu uma solução que ajudou desempregados e MPEs a criarem uma loja no celular em poucas horas, ganhando comissão sobre vendas e fazendo treinamentos com o Sebrae.

Até microlojistas que nunca quiseram ir para o digital entraram para aprender – e agora também vendem on-line. “Negócio bom é esse: quando todo mundo ganha”, afirmou ela, lembrando dos balanços da empresa que mostraram que, mesmo com as lojas fechadas, o Magazine vendeu mais na pandemia que no ano passado.

Com sua equipe afiada tomando conta de tudo, Luiza diz que ficou livre para atuar, junto com o IDV e a ACSP, e negociar medidas que salvassem os pequenos negócios, que seriam os mais afetados na pandemia.

Convidada a ajudar na elaboração as medidas emergenciais do governo para salvá-los, a empresária até fez um informe ‘à moda Luiza Trajano’ para explicar as mudanças a esse público de forma didática e descontraída.

“Não adianta usar protocolo nem falas de advogado para explicar mudanças no FGTS ou na redução de jornada: eu, que trabalhei no balcão, sei falar numa linguagem que só quem também trabalha vai entender.”

E diz insistir no ‘PPP’: pense primeiro no pequeno. “Eles geram 85% dos empregos, e 55% são formais. São as MPEs que salvam o emprego de quem vai comprar nas nossas lojas. Pensar neles não é favor, é inteligência.”

SEM MEDO DO DIGITAL

Em 2019, Luiza fez dez sessões no Instagram às segundas-feiras para tentar mostrar para MPEs que não pode ter medo do digital, uma maneira de fazer as coisas de um modo mais prático, direto e menos burocrático.

Nelas, a empresária mostrava cases de empresas, como a pequena butique de 30 anos que passou a vender pelo whatsapp, ou a cabeleireira que criou uma lojinha de produtos no Instagram.

“O digital não é uma plataforma, é uma cultura. Não é à toa que hoje as startups valem mais do que empresas com muitos anos de mercado”, disse a dona da primeira “loja eletrônica” do varejo brasileiro, em 1991.

Agora, o Magazine Luiza trabalha para oferecer um programa de digitalização para pequenas e médias empresas, não para vender com a empresa, como no Parceiro Magalu, mas para saber trabalhar on-line.

“Todos têm celular, mas só usam whatsapp, Facebook… Só que o digital tem muitas outras coisas que facilitam a vida das pessoas”, disse.

Luiza lembrou que, do dia para a noite, chegou a pandemia, que não deve acabar tão cedo. Daí a importância da aceleração do digital nas empresas de qualquer porte – que não vai acabar com as lojas físicas.

“É uma mudança de formato. O consumidor compra na internet para retirar na loja física, busca na loja para diminuir o frete… É tudo um corpo só, não dá para separar”, afirmou a empresária. “Quando o mercado viu que a Amazon e o Alibaba começaram a comprar loja física, entendeu que a palavra agora é multicanalidade.”

VIVA AGORA, VENDA AGORA 

Luiza Trajano citou importância de seguir à risca os procedimentos sanitários, porque se o virus voltar vai gerar prejuízo pra todos. E adotar um ‘procedimento de startup’: não planejar muito, e fazer acontecer agora.

Perguntada sobre sugestões de planejamento para reativar os negócios em 2021, a empresária foi enfática. “Não vamos pensar muito em 2021, não. Pensa agora, em novembro e dezembro. Depois vamos para janeiro.”

Daqui a pouco, segundo ela, dá para procurar multiplicar acertos e direcionar erros, porque não está ruim só para sua empresa: a crise é mundial. “Não adiantar fazer previsão nesse momento, o Magazine nem tem mais projeções  para o ano que vem. Vamos trabalhar para sair da onda do negativo, e partir para vender.”

Tomar cuidado na Black Friday para evitar disseminação do vírus nas lojas físicas, manter o foco nas vendas, tratar bem o cliente, entregar o mais rápido possível, trabalhar muito nas redes sociais e, principalmente, parar de achar que tudo está ruim ou dando errado foram algumas de suas dicas.

Mas não adianta falar ‘ah vai dar tudo certo’, porque empreender é trabalho, é realismo, é viver o agora. “E não passar por cima dos procedimentos só porque é um pequeno negócio, para não colocar mais vidas em risco”, reforçou. “Fora isso, vamos partir para vender, entregar, inovar… porque do ano que vem ninguém sabe.”