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Viana repica palavras de Lapena: “Vamos começar com R$ 1 bilhão em dívida para poder pagar.”

O sociólogo e jornalista José Maria Viana escreve sua assintomática coluna nos fins de semana no RCIA. Neste domingo, Viana avalia o que disse o prefeito eleito Lapena: " A dívida deixada tem a metade do orçamento de Araraquara para 2025".

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2ª FESTA DA DEMOCRACIA
Este ano (2024) 121 milhões de eleitores do país, dos 155 milhões aptos a votar, foram às urnas na primeira festa da democracia, no 1º Turno da eleição. A abstenção atingiu um quinto dos eleitores totais, uma média de quase 34 milhões de pessoas. Esses eleitores escolheram nas cidades, governos conservadores do espectro ideológico de centro, centro-direita e direita, diminuindo consideravelmente o espaço da esquerda, que decresce desde a eleição de 2016.

AMANHÃ, NOVO DIA
Hoje – domingo, dia 27/10 – é o novo dia deste mês para a segunda festa da democracia… Porque eleição neste país, apesar das disputas de polaridade ideológica dos líderes, é sempre uma festa em geral dos eleitores, na véspera. Cerca de 1/5 do eleitorado apto a votar: 34 milhões vão eleger em 2º Turno, seus prefeitos e vice-prefeitos em 51 cidades de todos os estados, entre elas, de 15 capitais. Pelo que se prevê, dado o número de candidatos dos partidos conservadores, os resultados apontam novamente para a expansão da direita.

QUEM PERDEU MAIS
No Primeiro Turno, como se viu, a esquerda diminuiu sua influência e a direita expandiu a sua porque elegeu mais prefeitos desse espectro ideológico, no entanto, os dois maiores líderes – da esquerda e da direita – Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) foram os grandes perdedores. O PT ficou em nono lugar na eleição de prefeitos, elegendo apenas 248 e o PL em quinto, elegendo 510 prefeitos, embora possua a maior verba eleitoral: 1 bilhão de reais.

QUEM GANHOU MAIS
O maior vencedor desta eleição, foi Gilberto Kassab, chefão do PSD, que elegeu 878 prefeitos em todos os estados, inclusive de capitais como o Rio de Janeiro. O grande vencedor individual da eleição, no geral, é Eduardo Paes (PSD) que derrotou Alexandre Ramagem (PL) logo no Primeiro Turno por 60% a 31%, no reduto e na base de Jair Bolsonaro, derrotando toda a família do ex-presidente que apoiava Ramagem e o próprio Bolsonaro que saiu chamuscado.

ESTAMOS PERDIDOS
O PT e Bolsonaro foram derrotados, mas o Centrão foi o bloco que mais ganhou por todos os lados, uma vez que elegeu mais prefeitos em todos os partidos conservadores. Seria um erro dizer que venceu a moderação. O mau humor que viabilizou extremistas como Bolsonaro e Marçal continua vivo e vai voltar em 2026. O Centrão pode não ser politicamente extremista, mas seu apetite por verbas é imoderado e tende a tornar o orçamento do país inviável nos anos que virão. E ninguém, nem esquerda, nem direita tem projeto de país. Estamos perdidos!

O QUE SE ABRAÇA
A esquerda só diminui porque se tornou incapaz de compreender o Brasil do século XXI ou de construir um discurso que convença o eleitorado. Nesta eleição buscou reduzir o peso da pauta de costumes e ganhar o eleitor pelo discurso econômico. Não vingou. A direita se vale da onda conservadora que espelha aspirações de segmentos relevantes da vida social. Mais plural, abraça a pauta de costumes e ganha o apoio de evangélicos, militares, autoritários, até de adeptos da pregação antissistema e de teorias conspiratórias e do livre mercado.

DIREITA DIVIDIDA
Mas a direita tem problemas. Quanto maior se torna, mais expostas ficam a heterogeneidade do grande grupo e suas diferenças pontuais. Não é e nunca será um grupo coeso, dado os interesses de líderes e partidos. Ainda que conversem em algumas pautas, a formação de um projeto coeso para 2026 é tarefa das mais difíceis. A vitória nas urnas, mostra o potencial desse eleitorado, mas o uso da musculatura adquirida dependeria de muita sabedoria política!

1 BILHÃO DE DÍVIDA
Na terrinha, o prefeito eleito dia 6/10, Dr. Lapena (PL), denunciou uma dívida da cidade de cerca de 1 bilhão de reais. Ele disse: “Nós vamos ter que começar com R$ 1 bilhão em dívida para poder pagar. A única maneira de equalizar essa dívida, é cortando custos, fazendo gestão técnica, porque se não fizer isso, a cidade quebra. E não é possível uma gestão tão ruim como essa ser aprovada por 24 anos. A mudança de paradigma é porque as pessoas não aguentam mais”. O orçamento para 2025 é de 1,8 bilhão… A dívida tem a metade do orçamento…

SOBRE AS OBRAS
O prefeito Dr. Lapena falou sobre os destinos das obras em curso. “Se o dinheiro público foi empregado, nós teremos que concluir… O que tiver em obras tem que terminar. O que precisa começar, nós vamos dar início. Vamos valorizar cada centavo do orçamento público! Se não tivermos respeito pela arrecadação, não será possível fazer nada! Outra coisa: temos que valorizar o servidor público, que no final, é quem vai nos ajudar a concluir nossos sonhos”!

EMPRESAS FOGEM
Estive esses dias com um dos empresários mais ricos da região. Tem e investe pesado em Araraquara. Ajudou em muitas campanhas, inclusive em poucas que não venceram. Ele me disse que a situação de Araraquara com a derrota da Eliana Honain (PT), complica o desenvolvimento da cidade! Ele mesmo que organizava pacote de novos investimentos voltou atrás. E cerca de pelo menos seis grandes empresas com projetos na cidade desistiram. Me falou que a Embraer construiria galpões para começar produzir na cidade e também desistiu!

PARQUE DOS TRILHOS
Outro empresário influente, me disse que as obras de drenagem do córrego da Servidão, do Ribeirão do Ouro e do Córrego do Paiva, serão concluídas, mas tem informações de que o caminhão de dinheiro para as obras do Parque dos Trilhos, não virão mais! Quer dizer a cidade sonha demais desde os anos 1990 quando Marcelo Barbieri propôs a novela da troca dos trilhos e lá se vai mais de trinta anos. Entra governo e sai governo e se arrasta como um jabuti.

CRIME LEGALIZADO
O escritor e jornalista Ruy Castro faz um histórico do crime organizado infiltrado na política brasileira para dizer que dos quase 200 mil vereadores do país quantos não fazem parte de “alguma forma do crime organizado ou foram cooptados por ele. Ninguém sabe quem são, mas basta serem eleitos para trabalharem aos interesses do crime, propondo, revogando leis, nomeando aliados ou facilitando o controle da polícia. Aí vem deputado, juiz, desembargador, ministro, pondo o Estado a serviço do crime. Sai o crime organizado, entra o legalizado”.

PESQUISA QUAEST…
A última pesquisa eleitoral do Instituto Quaest, contratado pela rede Globo, em São Paulo, traz mais uma aproximação entre o prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Nunes aparece com 44% das intenções de votos e Boulos com 35%, diminuindo da anterior para esta, 2%. O que nos parece ser efeito da constante falta de energia em São Paulo que prejudica Nunes. Brancos e Nulos somam 19% e os indecisos apenas 2%.