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Zinho, o criador da Corrida de Santo Onofre em 1980, uma história sem fim no último dia do ano

Na verdade, a Corrida de Santo Onofre que completa 45 anos, nasceu de uma aposta entre dois clientes do Bar do Zinho na Rua Gonçalves Dias, em 1979. Seria uma volta no quarteirão. No ano seguinte ela foi planejada por Daniel Marcos Rodrigues, o Zinho, com a determinação de que participariam só os fregueses (bebuns) no final da tarde de 31 de dezembro, agora com percurso de cerca de 700 metros.

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Zinho era assim, sorridente e brincalhão, um mundo de bondade no seu jeito de ser

Da Corrida de Santo Onofre, pelo menos da primeira e segunda, poucos em Araraquara, estão lembrados. Afinal, se passaram 45 anos e muita coisa mudou, ou tudo mudou. Já não temos mais as figuras emblemáticas que eram os frequentadores do Bar do Zinho, na Rua 01, onde o pessoal se encontrava religiosamente todos os dias para os aperitivos, a maioria, gente que participava do Estrela Futebol Clube, time de futebol extremamente querido na cidade.

O engenheiro Wilson Léo, morador na Rua Gonçalves Dias, cerca de 200 metros do bar, é um desses emblemáticos admiradores do bar que ainda se recorda, afinal era ele que se mantinha postado na via pública para – atirar água com uma mangueira nos corredores que passavam. Para os atletas – já encharcados pela cachaça – era um santo remédio. Até então os atletas bebiam o dia todo e no final da tarde por conta do organizador Daniel Marcos Rodrigues, o Zinho, era feita a corrida.

Eram eles, diretores, jogadores e simpatizantes do Estrela que faziam a alegria do dono do bar, o Zinho, 1,90m de altura e que embora sendo de estatura avantajada se fazia menor dentro do mundo igualitário que ele mesmo criou para que professores, advogados, dentistas e até jornalistas se mantivessem no mesmo nível de conversas com os outros servos de Santo Onofre.

Zinho se enchia de orgulho e emoção, lembra até hoje Wilson Léo. Estava ali a nata de pessoas queridas dentro de uma cidade emergente no finalzinho dos anos 70, pronta para dar um salto em outra década. Fructuoso Patrício de Almeida Santos, Patema, Coletti, Nilson que trabalhava no Banespa, Colinão (Álvaro Colino Júnior), Faixa, o doutor Elcio Marcantônio, o vereador Flávio Ferraz de Carvalho e tantos outros que faziam Araraquara acontecer naquele local. Aos sabádos, domingos e feriados eram tantos os amigos que se tornava impossível conversar dentro do bar.

Ali eram eleitos fatalmente prefeito, vereador e até presidente de ‘clube de mãe’, contava Zinho aos jornalistas em meio a tanto barulho. Zé Conde, Rubinho Volpe, Ivan Roberto por algum tempo viveram esse modismo, pois com o tempo cada qual apanhou um novo caminho.

Foi neste clima esportivo e tom alto de voz e disputa que a Corrida de Santo Onofre foi criada e curiosamente, foi entre conversas do tipo – eu corro mais que você, te dou dois quarteirões de lambuja, vou chamar o Pinguim (guincho) pra te levantar do chão – nascia a Corrida de Santo Onofre, por gratidão ao protetor dos ‘bebuns’.

A sugestão imediata de Santo Onofre veio por conta de alguém que já tinha decor e salteada a oração e a todos foi apresentada como convite ao reino dos bons:

“Ó Santo Onofre, que pela fé, penitência e força de vontade vencestes o vício do álcool, concedei-me a força e a graça de resistir à tentação da bebida. Livrai do vício, que é uma verdadeira doença, também os meus familiares e os meus amigos.

Abençoai os alcoólicos anônimos para que conservem firme o seu propósito de viver afastados da bebida e de ajudar os seus semelhantes a fazer o mesmo.

— Virgem Maria, mãe compassiva dos pecadores, socorrei-nos!

— Santo Onofre, rogai por nós. Amém.”

A bem da verdade, comentou mais tarde o Zinho em nome do estabelecimento: “Não gostei do nome da corrida e muito menos da oração… querem acabar comigo”

A primeira corrida foi então neste cenário em pelo menos 400 metros, o suficiente para criar expectativa ao ano de 1980, com uma volta no quarteirão. O perdedor teria que pagar a cerveja no Bar do Zinho. A primeira prova aconteceu com a disputa entre dois frequentadores do bar, um deles o advogado Fructuoso Patrício de Almeida Santos. Era o final do ano de 1979.

No decorrer do ano de 1980, tudo foi planejado para criação da corrida e algumas alterações aconteceram. O trajeto por exemplo foi ampliado: largada em frente ao bar, subida até o Jardim Primavera pela Rua Nove de Julho, dobrando-se a direita na rua do Corpo de Bombeiros e novamente descendo a Rua 01 até a chegada no próprio Bar do Zinho.

Deste roteiro alguns fugiam, cortando caminho, mas logo eram desclassificados pois chegavam bem antes; outros abandonavam e apareciam mais tarde. Outros, envergonhados iam direto pra casa.

A alegria de todos contudo estava na descida da Rua 1 (Gonçalves Dias) pois passando pela casa do engenheiro Wilson Léo, ele com a mangueira, a esposa Célia (já falecida), o advogado Zé Geraldo Velocce com baldes jogavam água nos atletas. Tudo era muito divertido em um tempo que não volta mais, dizia Wilson Léo, revivendo a passagens dos atletas pela sua casa.

Assim se comemorava a chegada de um novo ano por graça de Santo Onofre e do comerciante Zinho que partiu em julho de 2019 deixando seu nome imortalizado na lembrança do nosso povo e de um santo tão protetor.