Sessenta dias após o governador João Doria decretar a quarentena no Estado de São Paulo por conta da pandemia do coronavírus, os reflexos de fechamento do comércio não essencial como lojas voltadas para confecções, ou então, restaurantes, bares, lanchonetes, começam a acontecer em Araraquara, a exemplo do já vem ocorrendo em todo o país. Em casos assim, o pouco dinheiro que o empresário de pequeno porte tem em caixa está servindo apenas para pagar funcionário e pequenas despesas. Mas, ele não tem como pagar aluguel, nem dívida, nem imposto.
Em Araraquara, o lojista Luciano Mendes de Mattos tem acompanhado o fechamento de micro e pequenas empresas e os empregados que vêm sendo demitidos em razão dos efeitos econômicos causados pela doença. Assim, temendo gastos, alguns estão optando em reduzir despesas com aluguéis, encerrando atividades momentaneamente para uma retomada que não tem data marcada. É o caso do próprio Luciano que atua no ramo de bijuterias ou semijóias.
Em maio o empresário que mantinha uma loja no Shopping Jaraguá tomou uma decisão audaciosa e anunciou: “Hoje é dia de dizer até logo!!! Eu gostaria muito de agradecer a cada amigo/cliente, cada colaboradora, cada fornecedor, nossa família, todas as pessoas que fizeram parte do nosso ciclo no Shopping Jaraguá nesses 9 anos”.
O empresário a partir daquele momento em que retirava a marca da Dezza fixada na fachada estava deixando para trás um sonho de prosperidade, acalentado por pelo menos nove dos seus 44 anos de vida. Segundo ele, o sentimento não era totalmente de perda, mas de continuar na espera para resolver uma situação da qual não se tem perspectiva.
“Sei que houve boa vontade do Shopping Jaraguá colaborar e até mesmo o aluguel neste momento, mas eu ia continuar pagando um aluguel com a loja fechada. Então, sem enxergar o horizonte é preferível parar”, comenta o lojista ao RCIA.
O drama de Luciano agora faz parte de um levantamento feito pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas) e divulgado nesta semana. A pesquisa mostra que 30% dos empresários tiveram que buscar empréstimos para manter seus negócios, mas o resultado não tem sido positivo: 29,5% destes empreendedores ainda aguardam uma resposta das instituições financeiras e 59,2% simplesmente tiveram seus pedidos negados.
Há um outro aspecto: mais da metade (55%) dos micro e pequenos empresários terão que pedir empréstimos para manter os negócios funcionando sem gerar demissões.
Apesar de empresários procurarem por empréstimos, a pesquisa também mostra que 29% deles desconhecem as linhas de crédito que estão sendo disponibilizadas para evitar demissões e 57% apenas ouviram falar a respeito, mostra a pesquisa.
SEM APOIO
Nas últimas semanas o governo lançou diversos programas econômicos para evitar uma crise financeira ainda maior. O auxílio emergencial de R$ 600 para MEIs, autônomos e empregados informais foi um dos projetos mais aguardados. Porém, de acordo com a pesquisa, pouco mais de 34% dos comerciantes conhece bem o chamado ‘coronavoucher’.
Outra medida que pretende dar fôlego à economia é a que permite a suspensão de contratos e redução de jornada de trabalho. Porém, somente 23% dos participantes da entrevista disseram que conhecem bem o conteúdo da ação.
A falta de informação circunda o setor mesmo quando as propostas envolvem os micro e pequenos empresários. O Senado aprovou um projeto de lei para criar uma linha de crédito especificamente para micro e pequenas empresas durante crise do coronavírus. Entretanto, de acordo com o levantamento do Sebrae, somente 14,2% dos empresários conhecem bem a medida.
Ainda de acordo com a pesquisa do Sebrae, 10,1 milhões de empresas pararam de funcionar durante a pandemia, sendo 2,1 milhões por decisão da empresa, enquanto a paralisação de 8 milhões de companhias foi determinada pelo governo. Empresas podem ficar em média 23 dias fechadas e ainda assim ter capital para pagar as contas.
COMO SERÁ O AMANHÃ
Para Luciano, no entanto, nada está perdido: “Optei em encerrar as atividades pela falta de informações sobre quando vai se dar a retomada; cortamos despesas e vamos aguardar; a nossa situação é idêntica a vivenciada por milhares de empresários em todo o país”, comenta.
Na verdade, os custos operacionais em um shopping do porte do Jaraguá são extremamente altos e sem faturamento é o mesmo que fechar uma torneira, quase impossível de suportar o peso das despesas. “Não quis protelar, melhor dar um até logo aos meus clientes com a promessa de que poderemos voltar em outro lugar, bem mais fortes e dispostos a enfrentar novos desafios”. Ele no entanto não sabe quando isso poderá acontecer, mas trabalhando sobre previsões entende que não será tão cedo: “Não posso fazer avaliações sobre o que eu estou passando, preciso também avaliar a situação do consumidor e o tempo que ele terá para se restabelecer”, diz.