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Isolamento pode criar novas centralidades nas cidades

Além de conter a disseminação do novo coronavírus, o isolamento social pode ressignificar toda a dinâmica de uma cidade criando novos pontos comerciais e eliminando outros

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Os impactos da disseminação do novo coronavírus nos centros urbanos ainda estão sendo compreendidos, mas certamente devem deixar marcas estruturais. A história nos mostra que a relação entre cidades e doenças endêmicas costumam causar mudanças físicas e sociais permanentes.

Nos últimos meses, o isolamento social fez o número de deslocamentos cair vertiginosamente, praticamente zerando o trânsito das grandes cidades. Ruas e calçadões perderam quase que a totalidade de seus pedestres. O trabalho remoto ou home office se tornou a opção mais óbvia e viável para a maioria das atividades. E uma infinidade de pequenos negócios que dão vida aos centros urbanos foram fechados sem previsão de reabertura.

Além de conter a disseminação do novo coronavírus, esse movimento pode ressignificar toda a dinâmica de uma cidade, segundo Heliana Comin Vargas, professora titular da FAU-USP e coordenadora do LabCom.

Convidada pelo Conselho de Política Urbana (CPU), da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), para discutir a relação entre comércio e consumo em meio à pandemia, a especialista diz que alterações na organização espacial das cidades, como as que vêm ocorrendo desde o início da quarentena, são responsáveis pelo surgimento de novas centralidades.

Em um resgate histórico, Heliana destacou que a construção e evolução das cidades está diretamente ligada ao desenvolvimento comercial de cada uma delas. Seja para servir quem a habita ou para quem a visita, os comerciantes são também transmissores de informação, conhecimento e responsáveis por evoluções, como a do escambo ao bitcoin.

“Tínhamos aqueles comerciantes que viajavam levando, além de suas mercadorias, muita informação a novos lugares, um movimento muito parecido aos empresários que hoje embarcam em novas tecnologias e nos trazem novidades o tempo todo”, diz.

Com o comportamento sendo ditado pelo “novo normal”, especula-se o quê pautará os hábitos de consumo de quem vive em grandes centros urbanos, como São Paulo. Os consumidores se deslocarão em massa para fazer compras na 25 de Março? O que o mercado imobiliário levará em consideração para delimitar a localização de seus futuros lançamentos com a popularização do home office? As vendas on-line são um caminho sem volta?

Todos esses fatores beneficiam o consumo de conveniência em polos comerciais caracterizados pela proximidade da casa, que nos últimos meses vem sendo também o endereço de trabalho das pessoas.

De acordo com Heliana, a localização de determinados grupos e empresas acabam redefinindo uma nova dinâmica de concentração e descentralização dentro das cidades. Dessa forma, comércio e serviços seguem o rastro dessa demanda e acabam criando novas centralidades.

Na opinião da especialista, ruas de comércio especializado, por exemplo, como a Oscar Freire e a Florêncio de Abreu, estão sujeitas a perder uma fatia do público que costumavam receber, pois para muitos, o comércio eletrônico seguirá suprindo essa demanda.

Ainda assim, não é possível dizer que as lojas de rua perderão força. Enquanto as compras por necessidade foram atendidas pelo comércio eletrônico, aquelas que fazemos por prazer devem ser retomadas, quando o comércio for totalmente aberto. Isso explica, por exemplo, a aglomeração registrada na reabertura de alguns bares e as filas geradas por shoppings que voltaram a funcionar, segundo Heliana.

“O fato de não podermos ir às compras nos impactou profundamente. É um grande desafio prever o que vai acontecer após a pandemia”.

  • Com informações do Diário do Comércio