Toda essa multidão precisará ser alimentada. Com a perspectiva de melhoria da renda, cada indivíduo irá consumir mais alimentos, sendo assim, será necessário aumentar sua produção.
O mundo, praticamente, produz todos os alimentos necessários para a população atual. Mas ainda ocorrem distorções em função da logística e da renda. A fome persiste em algumas regiões, apesar da oferta global suficiente de alimentos. O que significa que há muito desperdício.
Dados da Agência Norte-Americana de Estatísticas do Agronegócio (USDA), apontam para uma redução da insegurança alimentar até 2029. Apesar da redução desta insegurança, em números absolutos, a agência destaca a permanência de cerca de 400 milhões de pessoas no mundo ainda subnutridas.
O Brasil ganha forte destaque nesse contexto, uma vez que será o principal supridor mundial da demanda adicional por alimentos, um papel central associado por dispor de ampla disponibilidade de água e terras produtivas, mas degradadas, sem necessidade de derrubar florestas nativas.
As projeções decenais de 2018 da USDA já indicavam um decréscimo das áreas cultivadas com os principais grãos (milho, soja e trigo) nos EUA e um baixo crescimento da produção, ficando em torno de 0,5% ao ano. Já o Brasil, no mesmo período, terá aumento da área cultivada e de produção, com ganhos de produtividade. Já em relação a soja, o aumento projetado no Brasil, até 2028, é de 34%, ultrapassando os EUA e tornando-se exportador de mais da metade do produto no mundo.
Só em grãos, o Brasil já produziu 237 milhões de toneladas na safra 17/18 e poderá chegar a 350 milhões, em 2029, segundo as projeções do Ministério da Agricultura. Estendendo as projeções para 2035, poderemos chegar a 400 milhões de toneladas de grãos.
Uma das bases elementares para se consolidar as projeções se baseia no ciclo de investimentos dentro das fazendas. Outro fato é a maximização de projetos e soluções logísticas eficientes (ferrovias, hidrovias, portos) que permitam o escoamento de uma produção ano a ano superior. Para se chegar lá, são necessárias algumas considerações:
CURTO PRAZO – É preciso melhorar as condições de conservação das rotas rodoviárias, notadamente as dos eixos de saída Norte, como a BR 163 e BR 364 e ampliar a capacidade de armazenagem.
MÉDIO PRAZO — Investimentos devem ser direcionados à melhoria das condições operacionais das ferrovias, com prioridade para a plena operação da Ferrovia Norte-Sul; a renovação e extensão do prazo de concessão da malha paulista – com contrapartida em investimentos adicionais e outras ampliações de capacidade.
É preciso mais investimentos nos entroncamentos rodoviários junto à Ferrovia Norte Sul, assim como nos polos de ligação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), da Ferrovia de Integração Centro Oeste (FICO) e da Transnordestina à Ferrovia Norte-Sul.
A melhoria e ampliação do escoamento interno deve ser acompanhado pela melhoria dos portos de embarque, associados ao desembarque de insumos.
O sistema logístico não pode ser pensado de forma fragmentada e unimodal. Não pode ser uma merca lista de obras, mas um plano estruturado em torno de eixos principais, interligações intermodais e entrepostos internos e marítimos.
LONGO PRAZO – No eixo Tapajós, é importante avaliar a viabilidade da hidrovia para o transporte de grãos, notadamente pelo rio Teles Pires, que tem extensão de 1.457km e passa por uma das principais regiões produtoras de commodities do País, a cidade de Sorriso (MT).
Do lado leste, a complementação da Transnordestina — em Pernambuco – entre Eliseu Martins e o Porto de Pecém, bem como a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), na Bahia, entre os municípios de São Desidério e Caetités, viabilizando uma saída dos grãos por Ilhéus.
Todas essas alternativas serão necessárias, diante dos aumentos da produção e da diversificação dos modos de transporte.
Agronegócio 4.0 – A expansão da agropecuária moderna tem sido acompanhada e promovida pela tecnologia, caracterizando-a como Agronegócio 4.0. Para a consolidação desta deverá ser desenvolvida a infraestrutura de telecomunicações, contemplando todos os avanços tecnológicos e o suporte de uma rede de cidades, tanto a vitalização das existentes, quanto de novas, todas como “cidades inteligentes”.
Além do investimento em logística, o Brasil deverá buscar agregar valor às suas commodities agropecuárias para se tornar o principal supridor mundial de alimentos saudáveis, prontos ou semiprontos para consumo. O Instituto de Engenharia formulou uma proposta nesse sentido, sob o título “Brasil: alimentos para o mundo”, que colocamos à disposição da sociedade, como a sua contribuição para um Projeto Brasil.
O futuro do País está no seu agronegócio completo. Não apenas na agropecuária-florestal, hoje já em franco desenvolvimento, mas com o crescimento da agroindústria, agregando valor aos produtos e do agrosserviço.
A agroindústria deverá contemplar três vertentes: a cadeia logística do frio para assegurar o suprimento de alimentos frescos e saudáveis; o processamento industrial dos alimentos, e o fornecimento de tecnologias e equipamentos para os processamentos locais mais próximos aos consumidores, em qualquer lugar do mundo.
A agrofinanças será essencial para viabilizar os investimentos que serão predominantemente privados. A agrologística é o elemento crítico e poderá contar com o apoio da agrotecnologia e da agroengenharia: esta última da nossa responsabilidade e principal contribuição que podemos dar ao futuro do Brasil.
Artigo de Eduardo Lafraia, presidente do Instituto de Engenharia, e Jorge Hori, conselheiro do Instituto de Engenharia