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Solimeo traduz a economia para os empresários brasileiros há mais de 60 anos

Ao completar 62 anos de atuação pela Associação Comercial de São Paulo, o economista-chefe da entidade de classe terá sua trajetória contada em livro. Nesta edição ele fala um pouco sobre sua história e lança seu olhar sobre o varejo, a reforma tributária e o associativismo.

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Solimeo, uma vida voltada para o comércio paulista

O que esperar do comércio varejista? Como superintendente do Instituto de Economia Gastão Vidigal da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o economista Marcel Solimeo responde a essa pergunta com fluência há seis décadas, como porta-voz da entidade. Ao vivenciar de perto períodos de crescimento e muitas crises, ajudou o empresariado a entender muito do que acontecia e do que poderia acontecer.

Nascido em Duartina, no interior de São Paulo, chegou à capital aos 17 anos em busca de uma carreira – e conseguiu. Completando neste mês de setembro 62 anos dedicados à ACSP, Solimeo conta, em entrevista ao Diário do Comércio, que seu primeiro emprego na cidade de São Paulo foi na Casas Pirani, na avenida Celso Garcia, uma loja de departamentos conhecida como “a gigante do Brás”.

Ao contar sua trajetória, ele lembra que o comércio da década de 1950 já operava com crediário. No entanto, o processo era radicalmente diferente do que conhecemos hoje. Segundo o economista, para comprar a prazo, o cliente precisava preencher uma ficha cadastral e levar um fiador até a loja. Após uma semana, uma espécie de “informante” checava os dados e, só então, o crédito era liberado. Se o pagamento atrasasse, não havia negativação. Em vez disso, funcionários da loja iam diretamente à casa do cliente para recolher o bem adquirido.

Com o passar dos anos, recorda, a atividade comercial cresceu, se transformou e as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) garantiram mais segurança aos pagamentos. O comércio acompanhou essa mudança, com o surgimento de novos polos de vendas e a modernização de velhos hábitos. A vivência por oito planos econômicos, a hiperinflação, o confisco da poupança, a popularização do crédito, a pandemia – tudo isso acelerou ainda mais essa evolução e transformou o comércio em um setor complexo e sujeito a intervenções econômicas de todo tipo.

Hoje, o economista ressalta que a alta carga tributária e a tecnologia são os fatores que mais impactam o setor, e que o cenário pode se tornar ainda mais desafiador com a proposta de Reforma Tributária. O economista afirma que, da forma como está, o texto beneficia apenas as grandes empresas, ignorando a realidade de 99% das companhias do país, que são de pequeno e médio portes. “Enquanto os empresários anseiam por simplificação, a proposta atual promete burocratizar ainda mais o sistema”, diz.

Um dos pontos mais problemáticos, na visão de Solimeo, é a convivência de dois sistemas tributários (o novo e o velho) por oito anos, o que ele considera uma “concepção equivocada”. Para o economista, a simplificação verdadeira viria com mudanças graduais, começando de baixo para cima, como uma reforma no ICMS. Além disso, pontua, as empresas do Simples Nacional já enfrentam dificuldades com o projeto de tributação de dividendos.

Ao comentar sobre o protagonismo da ACSP em traduzir as medidas econômicas para o empresariado, Solimeo destaca sua contribuição para os posicionamentos da entidade em momentos importantes da história e a importância do associativismo para a classe.

“A ACSP está ligada à informação e à prestação de serviço, essa combinação tem que manter a tradição dentro de um processo evolutivo. O sistema operativo pode ganhar novas formas com o avanço da tecnologia, mas o ideal é manter essa representatividade dentro de um objetivo comum – um sistema criado por empresários e de baixo para cima”, diz.

Parte dessa análise é detalhada no livro “O legado silencioso de Marcel Solimeo”, obra assinada por James Mohr-Bell, que retrata a trajetória do economista da ACSP e que será lançado nesta quinta-feira, 11/09, no edifício-sede da ACSP, no Centro Histórico de São Paulo.