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Ferroviária 70 anos: A esperança que se transformou em pesadelo

A década de 90 não se traduziu com o acesso para a Série B do Brasileiro. Pelo contrário, se transformou no pior momento da história do clube, com o início da fila longe da elite paulista e do rebaixamento até a Série B1.

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Um dos times da Ferroviária de 1999 - Em pé: Marco Aurélio, Ti, Giuliano, Robson Silva, Fábio Santos, Tuti e Robertão( Preparador de goleiros). Agachados: Toco, Marcelo Issepe, Silva, Preto e Emerson

Na quarta década de existência da Ferroviária, a RCIARARAQUARA mostra o ano mais duro da história do clube, que poderia ter um caminho consolidado com a disputa de uma Série B do Brasileiro, mas que se transformou em um verdadeiro inferno, mergulhando em uma profunda crise financeira e sequentes rebaixamentos.

O início da década é marcado pela bagunça do Campeonato Paulista e seus formatos de disputa. Em 1991, a competição foi dividida em grupos verde e amarelo – em menção as cores da bandeira do Brasil.

No Grupo Verde, compunham as equipes que tiveram melhor classificação na edição passada, inclusive a Ferroviária. Já o Grupo Amarelo era composto por times que tiveram rendimento baixo em 1990, mais os três times que subiram da série inferior.

Com uma campanha abaixo do esperado, a Locomotiva, em 26 jogos, conquistou apenas três vitórias, incríveis 14 empates e nove derrotas, terminando na penúltima colocação do grupo. A equipe teve dois treinadores neste período, Fito Neves e René Simões.

Os times foram os seguinte: Narciso; Ditinho, Vilmar, Paulinho Oliveira e Lula (Walace); André, Alcinei e Ica; Gilmar, Paulinho Taiúva e Celso Reis. Técnico: Fito Neves.

Narciso; Ditinho, Vilmar, Helton e Servílio; André, Alcinei e Reginaldo; Paulo Américo, Rodinaldo (Alaor) e Paulinho Taiúva (Marquinhos). Técnico: René Simões.

TORNEIO SELETIVO PARA SÉRIE B DO PAULISTÃO

Porém, o rendimento no Torneio Seletivo, promovido pela FPF, para a disputa da Série B do Campeonato Paulista de 1992 foi dentro do esperado. A equipe conquistou em 16 jogos, oito vitórias, sete empates e apenas uma derrota e conquistou a vaga, ao lado de União São João e Olímpia.

ABAIXO DO ESPERADO

Já em 92, a disputa da Série B não foi o que a torcida da Ferroviária esperava. Com jogadores muito experientes em seu elenco, como Marcão, Barbosa, Mauro, Dama e Baroninho, decepcionaram e ainda contou com três treinadores; Palhinha, Bazani e Vail Mota.

Com a chegada de Vail, a equipe foi outra, mas era tarde demais para conseguir uma reação dentro da competição. Com a dispensa dos “medalhões”, o treinador grená apostou em jovens já pensando na disputa do ano seguinte.

PAULISTA DE 93 HISTÓRICO E RECORDE DE PÚBLICO NA FONTE

Mais uma vez disputando a Série B do Paulista – de novo formato – a Ferroviária ficou no Grupo Amarelo, formado por 12 equipes da edição passada, mais São Caetano e Taquaritinga, que vieram da divisão intermediaria. Classificavam-se os dois primeiros para a segunda fase.

Já o Grupo Verde continha os 16 melhores clubes da edição passada e passavam os seis melhores para próxima etapa. Ao todo, cairiam 14 clubes para dar início a um novo formato na competição, com as Séries A1, A2 e A3.

Com grande campanha, a Locomotiva terminou na primeira colocação do Grupo Amarelo, ao lado do Novorizontino, com 13 vitórias, 10 empates e duas derrotas.

Na fase seguinte, caiu no Grupo A, ao lado de Palmeiras, Guarani e Rio Branco. No jogo contra o alviverde na Fonte Luminosa, houve o maior recorde de público na história do antigo estádio: 19.421 presentes (18.051 pagantes).

Com gol de Edmundo, o Palmeiras venceu por 1 a 0. A campanha da Locomotiva nesta fase foi de uma vitória, dois empates e três derrotas, terminando na terceira colocação. No geral, ficou em 6º lugar.

Ferroviária de 1993 – Em pé: Fábio Henrique – Mauro – João Batista – Fonseca – Luciano Lamoglia e Rui Scarpino. Agachados: Alcinei – Edelvan – Paulo Américo – César e Romildo

VICE DA SÉRIE C E A GOLEADA SOFRIDA PARA A PONTE PRETA NO PAULISTÃO

Com a colocação obtida no Paulista de 93, a Ferroviária garantiu vaga para a disputa da Série C do Brasileiro e fez bonito.

Em 16 jogos disputados na competição nacional, obteve seis vitórias, cinco empates e cinco derrotas, e foi para a grande decisão, onde encarou o Novorizontino.

Na primeira partida, disputada na Fonte Luminosa, derrota por 1 a 0. No jogo de volta e precisando vencer para levantar o caneco, a Locomotiva foi massacrada por 5 a 0 e ficou com o vice-campeonato, mas com o acesso garantido para a Série B de 1995.

Já no Paulistão, com campanha regular, a equipe ficou na 12ª colocação entre 16 equipes, conquistando 10 vitórias, seis empates e 14 derrotas.

O destaque ficou por conta da goleada sofrida pela Ponte Preta no Moisés Lucarelli: 8 a 1. Esta, até então, foi a maior derrota em toda a sua história.

Em pé: Paulo Sérgio – Marco Antônio – Wilmar – Marquinhos Capixaba – Cacau – Pedrinho e Mineiro (preparador de goleiros) Wanderlei – Gilmar – Joãozinho – Silvinho e Edelvan

OS SINTOMAS DE QUEDA SURGEM

O ano de 1995 foi o alarde para que o pior fosse evitado dentro do clube. Os sintomas começaram a aparecer, principalmente com sua participação no Paulista, onde lutou contra a queda para a Série A2.

A novidade desta edição é que a vitória passou a valer três pontos. Mesmo assim, a Locomotiva passou muitos apuros e terminou na 13ª colocação, uma acima da zona do descenso.

Na penúltima rodada, recebeu o São Paulo na Fonte Luminosa e venceu por 1 a 0, com gol marcado por Otávio Augusto, e afastou o perigo do rebaixamento.

A campanha foi a seguinte: 30 jogos, com nove vitórias, sete empates e 14 derrotas.

O sufoco passado no Paulista se refletiu também na Série B do Brasileiro e foi lá que a equipe sofreou a sua maior goleada em toda a sua história: 8 a 0 para o Coritiba, no Couto Pereira, no dia 16 de agosto.

Com campanha pífia, conseguiu se salvar e ter o direito de participação da divisão em 1996, quando na última rodada derrotou o Bangu por 1 a 0. Em 10 jogos, foram apenas duas vitórias, três empates e cinco derrotas.

O INÍCIO DO FIM

Talvez um dos anos mais dolorosos da história da Ferroviária. A má administração de seus dirigentes, praticamente, sucateou o clube e fez o seu maior vexame na história do Campeonato Paulista, o que culminou com o seu rebaixamento, fazendo a entrar na fila dos 19 anos longe da elite.

O golpe deixou uma ferida profunda e que parecia nunca se estancar. A Locomotiva descarrilhou e a torcida se entristeceu.

Nem as trocas de treinadores, que teve Vail Mota, Wilson Carrasco e Sérgio Clérice, os menos culpados, trouxeram um novo ânimo ao time, que também passou por reformulações dentro da própria competição.

Foi apenas uma vitória por 2 a 0 sobre o Mogi Mirim, na Fonte Luminosa, em 30 jogos disputados na elite paulista, acumulando ainda nove empates e 20 derrotas.

O rebaixamento fez com que o clube abdicasse da disputa da Série B do Campeonato Brasileiro devido aos problemas financeiros e ficou inativa no restante do ano.

Em 1997, tentando trilhar um novo caminho, o clube conheceu o seu segundo rebaixamento consecutivo na história.

Com mais uma campanha vexatória, a Ferrinha conquistou apenas cinco vitórias, sete empates e 10 derrotas, terminando na última colocação de seu grupo.

Ferroviária de 1997 – Em pé : Sérgio, Lino, Da Ilha, Marco Antônio, Ti, Naldo e Marlon (preparador físico) –
Agachados: Celso, Lê, Paulo Américo, Marquinhos e Tita

Em 1998 e 99, permaneceu na Série A3 com perspectivas de subir novamente para a Série A2. Em 99, a equipe disputou a Copa Estado de São Paulo, que se tornaria logo depois a Copa Federação Paulista de Futebol e Copa Paulista, como é conhecida hoje.

No torneio, chegou na semifinal da competição, caindo para o Etti Jundiaí, perdendo no jogo de ida por 2 a 1 e também na volta, na Fonte Luminosa, por 2 a 0.

A década foi encerrada com mais um rebaixamento. Em 2000, foram 21 jogos na Série A3, conquistando cinco vitórias, seis empates e 10 derrotas, caindo para a Série B1 do Paulista.

Este foi o gosto amargo de um clube que completava meio século de vida futebolística.

Fontes: Blog “Ferroviária Em Campo, de Vicente Baroffaldi; Livro “Fonte Luminosa”, de Luis Marcelo Inaco Cirino