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Ferroviária completa 71 anos de vida e de muito aprendizado

Feitos dentro e fora de campo conduzem a Locomotiva a mais um ano de vida em meio a pandemia do coronavírus

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Após reforma, estádio da Fonte Luminosa comporta diversos eventos - Crédito: Reprodução / Twitter

Em 12 de abril de 1950, a Associação Ferroviária de Esportes foi fundada pelo engenheiro da Estrada de Ferro Araraquara, Antônio Tavares Pereira Lima, dando início a mais um capítulo dentro do esporte araraquarense.

A imponente elipse com as siglas AFE, também em referência ao símbolo da estrada de ferro (EFA), tornou-se uma das figuras mais conhecidas do futebol do estado de São Paulo e, com o passar do tempo, em todo o mundo.

Antônio Tavares Pereira Lima – Crédito: Câmara Araraquara

Do ídolo Bazani no masculino, até Luciana no feminino, a Locomotiva sempre foi um celeiro de craques que ajudaram a fomentar ainda mais o nome do clube com grandes conquistas.

Apesar de seu surgimento, o clube teria o seu time profissional em campo apenas em 1951. O primeiro jogo oficial aconteceu no dia 13 de maio, quando enfrentou a Mogiana, de Campinas, no Estádio Municipal Tenente Siqueira de Campos.

O primeiro time da Ferroviária na partida diante do Mogiana, de Campinas – Crédito: Revista (*) ARARAQUARA NO NACIONAL, Nº UM, 1978

A primeira escalação da Locomotiva foi a seguinte: Tino; Sarvas e Aléssio (Pádua); Julião, Basso e Pimentel; Ministro (Baltazar), Milton Viana, Fordinho, Gonçalves e Tonhé. Técnico: Zezinho Silva. A equipe venceu por 3 a 1 e Fordinho foi o primeiro autor do tento grená na história.

Em 1955, veio o tão sonhado acesso e em grande estilo. O campeonato foi disputado em pontos corridos e, na penúltima rodada, a Locomotiva fez clássico diante do Botafogo na Fonte Luminosa e goleou por 6 a 3.

Mesmo com o seu primeiro rebaixamento 10 anos depois, a equipe se reergueu em 1966. Com uma campanha irretocável sob o comando de Agenor Gomes, conhecido como Manga (ex-goleiro do Santos), a equipe concretizou 30 jogos na competição, venceu 19, empatou oito vezes e foi derrotada em três oportunidades.

Na decisão, a Ferroviária encarou a equipe do XV de Piracicaba em dois jogos, realizados no estádio Paulo Machado de Carvalho, no Pacaembu, em São Paulo.

O primeiro jogo, realizado no dia 18 de dezembro, domingo, as equipes empataram por 1 a 1. Passarinho fez para o grená, enquanto Nicanor marcou para o alvinegro.

Na segunda partida, realizada no dia 21, uma quarta-feira, Maritaca fez o gol que deu o segundo título da divisão para a Locomotiva e retornava assim à elite.

Bazzani foi o artilheiro da equipe na competição com 13 gols. Na temporada, o centroavante Téia assinalou 24 gols.

A equipe campeã foi a seguinte: Machado; Beluomini, Brandão, Rossi e Fogueira; Bebeto e Bazani; Passarinho, Maritaca, Téia e Pio. Técnico: Manga.

Fora dos gramados, outro período de um grande desafio foi a aquisição em definitiva da Fonte Luminosa, em 1971.

Através de concessão, a Estrada de Ferro Araraquara deixaria de existir, passando a ser da Ferrovia Paulista S/A (FEPASA). Com isso, todo o patrimônio da Fonte Luminosa e o Parque Aquático pertenceriam a nova sociedade anônima.

Porém, chegou um certo momento que o estádio precisaria passar por reformas para melhorar as suas instalações, principalmente nas arquibancadas. Para isso, era necessário adquirir a Fonte.

Muitas tratativas aconteceram ao longo deste período e, através do presidente grená, Dr. José Wellington Pinto, do deputado federal, Aldo Lupo, e da Prefeitura de Araraquara, concretizaram no dia 29 de janeiro de 1973 a aquisição de todo o complexo da Fonte Luminosa por Cr$ 500 mil.

A solenidade contou com o prefeito Rubens Cruz e do vice José Alberto Gonçalves, além do governador do estado de São Paulo, Laudo Natel, e do Secretário de Transportes, Paulo Maluf.

Já em 1996, o clube levou o golpe mais duro em sua história e deixou uma ferida profunda e que parecia nunca se estancar. A Locomotiva descarrilhou e a torcida se entristeceu com o rebaixamento para a Série A2 do Campeonato Paulista.

Isso foi o de menos. A má administração de seus dirigentes, praticamente, sucateou o clube, acumulando dívidas, o que abdicou da disputa da Série B do Campeonato Brasileiro.

Com o passar dos anos, a situação do clube piorou, indo parar na Série A3 e o fundo do poço com a Série B1, a quarta divisão estadual, disputando em 2001 e 2003.

No final daquele ano, mais precisamente no dia 11 de novembro, nascia a Ferroviária Futebol S/A. Com a AFE totalmente esfacelada e afundada em dívidas, a condição de se tornar clube-empresa foi a única salvação para que a instituição continuasse com vida ativa e ininterrupta desde 1950.

Outra mudança no rumo de sua história foi da aquisição, por parte da Prefeitura, do estádio da Fonte Luminosa, para sanar as dívidas do clube. O estádio Municipal Tenente Siqueira de Campos foi negociado com o Clube Araraquarense.

Empresários da cidade cooperaram e vivaram acionistas para que a Ferrinha mantivesse a equipe, que teria que começar a cavalgada da Série B1 do Paulista. Uma parceria com o Athletico Paranaense foi feita naquele período. O uniforme, inclusive, foi feito pela Umbro, material esportivo do Furacão até hoje.

O primeiro título como S/A aconteceu em 2006, com o título da Copa Paulista, encerrando também um jejum do clube de 40 anos sem conquistas.

A glória rendeu ao time uma participação na Copa do Brasil de 2007. No jogo contra o Juventude, vitória por 3 a 1 na Fonte Luminosa, mas foi eliminada ao perder por 2 a 0, no estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul.

Após de mais um ano de reforma, iniciada em 2008, a Fonte Luminosa foi reinaugurada no dia 22 de outubro de 2009, em partida diante do Ituano, agora denominada Copa Paulista. Com público de 21.254, a Locomotiva bateu o Galo de Itu por 2 a 1. O lateral-esquerdo Fernando Luís marcou o primeiro gol no novo estádio.

Já no ano de 2010, a equipe voltou a brilhar e conquistou novamente o acesso para. Em ótima campanha, a Ferroviária foi vice-campeã da Série A3 após perder a decisão para o Red Bull, mas estava com a vaga garantida para a Série A2.

Em 2015, veio o acesso à elite do Paulistão após campanha brilhante na Série A2. No sistema de pontos corridos, em 19 jogos, a equipe conquistou 14 vitórias, dois empates e três derrotas. O jogo que culminou no acesso e título foi na antepenúltima rodada, quando encarou no dia 18 de abril o Guaratinguetá, fora de casa, e venceu por 1 a 0, em pênalti convertido por Tiago Adan.

A campanha de maior notoriedade dentro da elite aconteceu em 2019. Na primeira fase, terminou com 18 pontos, sendo quatro vitórias, seis empates e apenas duas derrotas em 12 jogos, terminando na segunda colocação do Grupo C, encarando assim o Corinthians, que terminou na primeira colocação de sua chave, nas quartas de final.

Em dois jogos de tirar o fôlego, as equipes terminaram empatadas por 1 a 1, tanto em Araraquara como em Itaquera. Sendo assim, a decisão se encaminhou para as penalidades e o Corinthians acabou levando a melhor por 4 a 2.

NOVOS TEMPOS

Em novembro de 2019, a Ferroviária confirmou a saída da Know-How e a chegada da MS Sports como a mais nova acionista da sociedade anônima, que tem como principal investidor o bilionário Saul Klein, ex-dono das Casas Bahia.

Com projeto focado nas categorias de base, é estudado a construção de um moderno Centro de Treinamento para que possa abranger toda a estrutura afeana nos próximos anos. Por enquanto, está no papel.

FUTEBOL FEMININO VENCEDOR

Carlos Alberto Salmazo, presidente da Ferroviária S/A, apostando em um clube formador de talentos

Quem trouxe muitas alegras também foi o futebol das Guerreiras Grenás com muitos títulos e consolidando como o principal clube da modalidade no país.

Em 2001, a Fundesport (Fundação de Amparo ao Esporte) deu início ao seu projeto com o futebol feminino, sendo dos clubes percursores da modalidade, fomentando várias jogadoras de Araraquara e região para se tornar uma das referências do futebol feminino do Brasil.

Naquele período, a Ferroviária/Fundesport ganhou os títulos do Campeonato Paulista de 2002, 2004 e 2005. Anos depois, firmou também parceria com o Hipermercados Extra, fortalecendo ainda mais a equipe, que chegou a contar com a volante Formiga.

Anos depois, adotou o nome da Ferroviária e hoje, bicampeã brasileira (2014 e 19), tetracampeã paulista (2002, 2004, 2005 e 2013), campeã da Copa do Brasil (2014), a Ferrinha conquistou no início deste ano o bicampeonato da Libertadores Feminina, repetindo o feito de 2015.

O presidente da Ferroviária S/A, Carlos Alberto Salmazo, sempre confiante com o sucesso dos projetos que o clube tem colocado em prática, admite em curto espaço de tempo de um destes objetivos: ser a Ferroviária um clube formador de talentos. Para ele, clubes que funcionam como empresa devem se preocupar com o avanço do futebol empresarial, sem contudo se descuidar das suas raízes.

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Ferroviária conquistou a Libertadores Feminina 2020 – Crédito: Divulgação/Conmebol