Home Geral

As primeiras palavras de Battisti na Itália: “agora eu sei que vou para a prisão”

142
Battisti 82

Battisti 82Battisti desembarcando na manhã desta segunda-feira na Itália

O assassino italiano Cesare Battisti foi levado nesta segunda-feira (14) para Rebibbia, um presídio na periferia de Roma, onde deverá cumprir a pena de prisão perpétua por quatro assassinatos cometidos nos anos 1970. O avião que levava o italiano e decolou da Bolívia onde foi preso, pousou no aeroporto de Ciampino, também nas imediações da capital italiana, por volta das 08h40 da manhã desta segunda. Ele nega que tenha cometido os assassinatos e se diz vítima de perseguição política em seu país natal.

Cesare Battisti foi preso em Santa Cruz de La Sierra (na Bolívia), após ser considerado foragido no Brasil e ter sua extradição decretada ainda pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) depois que o atual presidente Jair Bolsonaro (PSL) tornou o caso uma pauta nacional e prometer que faria tão logo tomasse posse.

Após ser capturado no país vizinho com a ajuda do setor de inteligência da Polícia Federal (PF) brasileira, ele foi entregue às autoridades italianas e embarcou no domingo (13) para a Itália em um voo sem escala no Brasil, como estava inicialmente previsto. O jornal La Repubblica relatou que conversou com oficiais que estavam no avião que transportou o italiano e que Battisti não demonstrou sinais de desespero durante o voo. Ele ficou quieto e dormiu por horas.

Na Itália, a polícia montou um forte esquema de segurança para levá-lo do aeroporto até o presídio na periferia de Roma. No trajeto, patrulhas fecharam os acessos para que o comboio chegasse rapidamente ao presídio e não houvesse nenhuma tentativa de fuga, informou o jornal italiano Corriere della Sera . Apesar disso, Cesare Battisti desceu do avião sem utilizar algemas. Mais de 200 jornalistas de vários lugares do mundo acompanhavam o caso no aeroporto e relataram que existe um clima de tensão uma vez que o italiano já conseguiu fugir da cadeia uma vez no passado.

Condenado à prisão perétua em 1993 sob a acusação de ter cometido quatro assassinatos na Itália na década de 1970, Battisti poderá desfrutar de alguns benefícios como sair da cadeia por curtos períodos se apresentar bom comportamento depois de ter cumprido 10 anos de pena, já que seus crimes foram cometidos antes de 1991 quando houve uma mudança na legislação italiana.

Apesar da sentença de prisão perpétua, pelas leis italianas, o condenado não deverá ficar mais de 30 anos preso. Ele deverá ficar isolado nos primeiros seis meses numa ala do presídio para terroristas e terá direito a pedir liberdade condicional após cumprir 26 anos de prisão.

O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, que ontem agradeceu o Brasil pelo “grande presente” estava presente no aeroporto, conforme tinha prometido, mas não se encontrou pessoalmente com Battisti. Uma das principais lideranças de extrema-direita da Europa, o vice-premier italiano chama Battisti de “assassino comunista”.

Também no aeroporto, segundo relatos da imprensa italiana, o criminoso capturado afirmou aos funcionários do serviço antiterrorismo que “agora eu sei que vou para a cadeia”.

Além disso, como Cesare Battisti nunca chegou a comparecer ao julgamento e acabou sendo condenado à revelia, sua defesa poderá pedir um novo julgamento. Nesse caso, porém, Battisti deverá aguardar uma possível nova sentença, já preso.

OS CRIMES

Cesare Battisti foi condenado na Itália por terrorismo e participação em quatro assassinatos cometidos na década de 1970, quando o país enfrentava problemas ligados à violência política.

A primeira vítima foi Andrea Santoro, um marechal da polícia penitenciária de 52 anos. Ele vivia uma vida tranquila com a mulher e três filhos em Údine, mas, em 6 de junho de 1978, foi morto pelo grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), um braço das Brigadas Vermelhas usado na maioria dos crimes de Cesare Battisti na época em que ele era filiado.

Segundo os investigadores, os assassinos o esperaram na saída da prisão e o balearam. A Justiça diz que Battisti e uma cúmplice foram os autores dos disparos, e os dois teriam trocado falsas carícias até o momento do atentado.

Em 16 de fevereiro de 1979, os PAC fizeram uma ação dupla, matando o joalheiro Pierluigi Torregiani, em Milão, e o açougueiro Lino Sabbadin, em Mestre, parte de Veneza que fica em terra firme. Na reivindicação, o grupo disse ter “colocado fim” à sua “esquálida existência”.

Tanto o joalheiro quanto o açougueiro haviam matado ladrões a tiros em tentativas de roubo, e os atentados teriam sido uma vingança. “Finalmente, acredito que dessa vez é de verdade. Acho que hoje é um bom dia”, disse à ANSA o filho de Torregiani, Alberto, que estava com o pai no dia do ataque e acabou paraplégico.

“Não quero nem falar em perdão, é uma palavra que Cesare Battisti deve aprender”, reforçou o filho de Sabbadin, Adriano. “É um momento de satisfação depois de 40 anos de espera”, disse. O açougueiro era militante do partido neofascista Movimento Social Italiano (MSI).

A quarta vítima era o policial Andrea Campagna, morto em 19 de abril de 1979, em Milão. Um desconhecido se aproximou do agente e disparou a sangue frio.

 “Esperamos que desta vez ele seja extraditado”, disse o irmão de Campagna, Maurizio, nesta final de semana demonstrando que ainda estava cético quanto à possibilidade de Battisti cumprir sua pena.

Quando ainda tinha seu paradeiro conhecido, o italiano declarou-se inocente e alvo de perseguição política em seu país. Ele fugiu da penitenciária de Frosione, perto de Roma, onde cumpria pena pela morte do joalheiro e saiu da Itália escondido em 1981 quando pediu refugio na França.

No ano seguinte, ele se mudou para o México, mas retornou à França em 1990 quando passou a atuar como escritor de livros policiais. Em 2005, porém, ele decidiu deixar a Europa após o Conselho de Estado da França ter autorizado a extradição dele para a Itália. Foi nessa ocasião que ele conseguiu entrar no Brasil.