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Conceito inovador de trabalho colaborativo ganha espaço em Araraquara

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Coworking 02

Coworking 02O empreendedor e arquiteto Willian Sormani

Os chamados “coworkings”, que basicamente são espaços de trabalho compartilhados entre diversos profissionais e empresas, vêm crescendo nos últimos anos, principalmente em grandes centros urbanos. Mas muita gente ainda desconhece o sentido da palavra – e até estranha – quando ouve o conceito pela primeira vez.

Por definição, coworking é um novo modelo de trabalho, que preza o compartilhamento. Envolve principalmente profissionais liberais, autônomos, freelancers e pequenas empresas, que se reúnem em um mesmo ambiente físico para compartilhar experiências, conhecimentos, contatos, custos, entre outras coisas.

“A ideia do coworking em si acompanha o jeito de trabalho da faculdade, com vários amigos e profissionais com quem você pode trocar experiências, num trabalho colaborativo. O que acontece é que depois que você se forma, existe um rompimento – cada profissional se torna independente e você perde o contato com esses profissionais”, relata Willian Sormani, arquiteto e proprietário do “Coletivo”.

MODELO DE NEGÓCIO

Ele diz que uma das intenções do coworking é resgatar a interação perdida. “Coworking é mais filosofia do que modelo de negócios. Isso me levou a abrir esse negócio, a filosofia do compartilhamento”, ressalta.

Willian conta que, antes de abrir o seu próprio espaço, pesquisou sobre o tema por quatro anos e visitou muitos locais aqui no Brasil e fora do país. “A hora que surgiu a oportunidade de ter o meu próprio empreendimento, com local e investimento, o meu projeto e todas as pesquisas (que são as partes mais difíceis) já estavam prontos. Então não foi muito complexo fazer esse modelo de negócio funcionar”, conta.

Uma das dificuldades que ele aponta sobre a gestão é relacionada à captação de clientes. Willian diz que a aceitação é difícil, pois envolve uma questão de mudança de mentalidade.

“Aceitação é complexa. Ainda é difícil um profissional trabalhar ao lado de um concorrente e entender que, na verdade, ele pode ser um parceiro comercial. A aceitação maior ainda é das salas privativas. Mas é uma questão de se trabalhar o conceito”, relata.

Como é uma nova forma de se pensar o ambiente de trabalho, as pessoas não estão familiarizadas com a ideia. De acordo com o Censo 2017, realizado pelo site “Coworking Brasil”, um projeto conjunto de diversos fundadores de espaço de coworking no país, hoje existem 810 espaços conhecidos, 114% a mais com relação a 2016 – que registrava 378 espaços.

Para ele, “o segredo não é somente a estrutura física em si, mas sim a gestão interna”. Willian conta que existe um cargo específico para isso – o Gestor de Comunidade, ou Comunity Manager, em inglês. Esse profissional é o principal responsável por fazer as pessoas conversarem, interagirem, criando um ambiente bacana de trabalho. “É o ponto-chave do coworking”, ressalta.

Apesar de ser um dos “negócios do momento”, não é um empreendimento tão lucrativo. “Não é igual vender coisas no supermercado. Como é por necessidade, o consumo é direcionado. Ele é feito para facilitar, para usar só o que você precisa”, enfatiza o arquiteto.

Mas acima de tudo, coworking é também conhecido por ser um movimento global de cultura. “É preciso explicar para as pessoas como funciona o coworking. Elas entendem rápido, mas ainda têm um pouco de receio”.

gráficoO gráfico mostra as vertentes da economia compartilhada

O COMPARTILHAMENTO

O coworking faz parte de uma tendência mundial conhecida como Economia Compartilhada. O conceito desse novo modelo surgiu por volta de 2008, mas teve grande crescimento em virtude das inovações tecnológicas e popularizou-se principalmente com o uso de aplicativos voltados para a locomoção e hospedagem, como o Uber e o Airbnb.

Algumas questões como preocupações ambientais, a recessão global, as tecnologias e redes sociais e a redefinição do sentido de comunidade fazem parte das ideias centrais que conduzem esse modelo econômico.

Partindo do princípio do “reduza, reuse, recicle, repare e redistribua”, a economia compartilhada engloba estilos de vida colaborativos (compartilhamento de recursos como dinheiro, habilidades e tempo) e também sistemas de produtos e serviços, onde o consumidor paga pelo benefício do produto e não pelo produto em si (por exemplo, precisamos da música e não necessariamente do CD, como ocorre com o aplicativo Spotify).

Essa tendência contraria os clássicos modelos econômicos a que estamos acostumados e tem gerado estranheza além de uma série de controvérsias, principalmente dos setores mais tradicionais do mercado.

Uma das principais dificuldades de quem atua com a Economia Compartilhada é explicar o conceito a quem não o conhece.  “O mais complicado de tudo foi explicar a ideia para a família. Eu falava para o meu pai: – Pai, vou montar um escritório onde várias pessoas podem alugar um espaço para trabalhar e pagar mais barato. E ele respondia: – Para quê? Não vai dar certo isso, você vai gastar seu dinheiro à toa. E hoje o Coletivo faz dois anos”, se diverte Willian.

Outra questão que gera estranhamento é a questão do endereço fiscal. É possível abrir uma empresa alugando o endereço jurídico de um espaço compartilhado. “Você vai abrir uma empresa, mas você não quer abrir na sua casa. E você não quer alugar um imóvel inteiro só para poder abrir a empresa. Então você pode alugar o endereço de um coworking, e ele se torna o seu endereço jurídico. Mas na hora que o fiscal da prefeitura chega, ele fica confuso”, aponta o arquiteto.

Como é algo muito novo, ainda falta uma regulamentação específica no país, mas os serviços de coworking basicamente se inserem como prestação de serviços.

COWORKING NA MORADA

Em Araraquara, a onda dos espaços compartilhados de trabalho começou em 2015, com o “Espaço Jurídico”. No mesmo ano surgiu o “Loca Office”. Em 2016 inauguraram “Mundo Livre”, “Coletivo” e “Lemon”. Já em 2017 apontaram “Global Labs” e “Colméia”. E neste ano surgiu o “Coworking Araraquara” além de mais dois espaços, que ainda serão inaugurados: “Soul Café & Coworking” e “Infinity Work”, que é um prédio comercial com espaços de trabalho compartilhados. Além dos espaços já citados, será lançado também o edifício residencial “La Vie”, que oferecerá dentro do prédio um espaço de cowoking integrado, mas com acesso apenas aos moradores.

Nem todos os empreendimentos já inaugurados continuam ativos, mas a tendência é de crescimento. Aparentemente, a Economia Compartilhada é um caminho sem volta. William acredita que a tendência é aumentar cada vez mais o cenário de coworkings no Brasil. “Com certeza vai crescer muito! Mesmo em cidades do interior. O Coletivo foi o quarto coworking a ser aberto na cidade. Desses primeiros, é o único que continua ativo. Assim como os negócios da moda, como barbearias, espaços de café e de açaí, vão surgir vários, mas só os de maior peso vão sobreviver, da mesma forma como acontece em qualquer ramo de negócios”, enfatiza.

E para quem está pensando em abrir o seu empreendimento, ele deixa como dica: “Antes de você se aventurar em um negócio, pesquise muito antes. Se eu não tivesse quatro anos de pesquisa, provavelmente eu já teria fechado meu negócio em seis meses. E isso vale para qualquer negócio. Pesquise bastante. Tenha o máximo de informação possível. Tenta conversar com quem já é do ramo. Se você não tiver concorrência, você não melhora. E contrate profissionais adequados. Enfim, se cerque de pessoas boas”, argumenta o jovem empreendedor.