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Dados do Índice Firjan assustam uma velha senhora de 201 anos

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Agosto, 22, aniversário da nossa cidade. São 201 anos de história e de desenvolvimento de uma área produtiva bem no centro do Estado de São Paulo. Temos muitas conquistas a celebrar, apesar da cidade ter perdido posições no recente levantamento do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal.

Araraquara ficou na 46ª posição no âmbito estadual e 76ª no nacional, dentre as mais de 5 mil cidades analisadas pelo indicador. Embora os resultados tenham sido lançados agora, os dados remetem ao ano de 2016, data base da realização da pesquisa.

“Diante dos números publicados, é notório que a cidade perdeu espaço no cenário nacional e estadual. Estamos trabalhando firmemente para mudar essa realidade. Temos confiança que, em breve, vamos recuperar a qualidade das políticas públicas e retomaremos a posição de destaque novamente tanto no cenário estadual, como nacional”, é o que afirma o prefeito Edinho Silva.

De certa forma, a pesquisa nos faz olhar para um passado não muito distante. Mas, se quisermos melhorar esses indicadores, é preciso “arregaçar as mangas” e começar a planejar a cidade que queremos, pensando a muito longo prazo, no futuro.

ÍNDICE FIRJAN

Evolução e projeção do IFDM Emprego RendaEvolução e projeção do IFDM Emprego & Renda. O ano de 2012 foi o período de maior crescimento da vertente na hitória da pesquisa. Entretanto, a crise econômica foi tão severa que custou mais de uma década de desenvolvimento para o mercado de trabalho formal dos municípios. Se mantiver o crescimento médio de 1,5% ao ano, o país alcançará o nível de 2013 apenas em 2027.

Ferramenta de referência para o acompanhamento do desenvolvimento socioeconômico dos municípios brasileiros, o índice Firjan foi criado em 2008 e é um indicador composto que acompanha três áreas do desenvolvimento humano: Emprego & Renda, Educação e Saúde, sempre utilizando como base as estatísticas públicas oficiais. Sua leitura é simples: o índice varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade.

De acordo com Cláudio César de Paiva, professor e pesquisador do Departamento de Economia da Unesp e atualmente Diretor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp – Araraquara e também Vice-Presidente do Conselho Municipal de Planejamento e Política Urbana Ambiental de Araraquara, é preciso olhar para os indicadores de uma forma mais ampla e entender como a pesquisa é realizada. “A leitura dos dados da Firjan precisa ser feita com cautela. É necessário fazer uma leitura para além dos dados”, ressalta o professor.

Apesar de ser uma ferramenta de análise, Cláudio ressalta que o índice Firjan não consegue abarcar todas as variáveis que influenciam no desenvolvimento econômico de uma cidade. No caso da saúde, por exemplo, apenas quatro variáveis são observadas na pesquisa: proporção de atendimento adequado de pré-natal, óbitos por causas mal definidas, óbitos infantis por causas evitáveis e internação sensível à atenção básica – uma pequena amostra, comparada à complexidade da área da saúde. Por isso, não deve ser utilizado como um índice definitivo, mas como uma ferramenta de avaliação, de prospecção.

Ao observar os dados do indicador Emprego & Renda, o professor explica que foram esses números que “puxaram” a nota de Araraquara para baixo. A queda começa em 2013 (ano das manifestações políticas) com pontuação de 0,7986; cai para 0,7373 em 2014; chega a seu nível mais baixo em 2015 com 0,6318 e tem leve recuperação em 2016 com 0,6465. O mesmo ocorreu com a maioria dos municípios analisados.

 MG 0327Professor Cláudio Paiva enfatiza os principais conceitos de uma cidade ideal: integrada, policêntrica e compacta.

A forte recessão que o Brasil passou nos últimos anos influenciou o mercado de trabalho. Entre 2015 e 2016 foram fechados quase 3 milhões de postos de trabalho formais no país, sendo esse o fator decisivo para interromper a trajetória de desenvolvimento socioeconômico dos municípios.

“Os dados na verdade apontam para um grande desafio”, enfatiza Cláudio. Ele ressalta a necessidade de olhar para os indicadores e usar essas informações para se pensar no futuro da cidade. “É preciso voltar a planejar, mas esse planejamento tem que ser a longo prazo. Nós pecamos em não pensar, não planejar, e a construção deste planejamento precisa ser coletiva. Não devemos olhar somente para o retrovisor”, salienta.

CIDADE DO FUTURO

Para o pesquisador, nem retrovisores a cidade do futuro deveria ter, pois metrópoles internacionais como Madri, Paris, Londres, Hamburgo, Helsinki, Nova Iorque, entre outras, estão abolindo a utilização de carros. Algumas delas já proibiram a circulação dos veículos no centro da cidade. Ele explica que “a tendência internacional é projetar a mobilidade urbana sem o uso de carros, com foco no pedestre, ciclista e transporte público”. A mobilidade urbana é um entrave e um problema das grandes cidades, gerando consequências, como por exemplo, poluição e aumento de acidentes.

Outro ponto levantado por Cláudio é o aumento da expectativa de vida da sociedade, que vem subindo. No final de julho, o IBGE divulgou estudo que afirma que a longevidade dos brasileiros atingiu a maior média da história: 76 anos. Um salto de 22 anos em relação ao registrado na década de 1960. Ainda de acordo com o IBGE, o Brasil atingiu a marca de 208,4 milhões de habitantes em 2018, e até 2060, a população com mais de 60 anos mais que dobrará de tamanho, devendo atingir 32,1% do total de habitantes – atualmente ela representa 13,44%. “As cidades não estão preparadas para essa faixa etária”, ressalta o pesquisador.