
“Cada corrida uma história, cada corrida uma emoção diferente. Quando cheguei no autódromo de Interlagos em fevereiro de 1974, para minha terceira participação, nem em sonho pretendia a ousadia de vencer”. (Benê)
Em Interlagos, Neto (Olympio Bernardes Ferreira Neto), parecia estar com as rodas da moto coladas no asfalto de Interlagos. Incrível imaginar que tudo isso fez parte das nossas vidas
Minha maior vitoria neste dia era estar naquele templo sagrado realizando de novo um grande sonho. Ali, meu coração disparado e ao mesmo tempo beliscava meu corpo, era verdade, eu estava ali. O dia estava lindo, temperatura agradável, céu de brigadeiro e ao meu lado motores cintilantes pipocando sons mágicos e ainda um enxame de motocicletas de corrida desfilavam ao meu lado, como nunca havia visto em minha vida. Cheguei na pista somente com um par de luvas, um capacete e muita coragem, ímpeto juvenil, próprio de um menino de dezessete anos.
A motocicleta que corri, uma Zundapp cinza escuro era de propriedade de Wanderlei Cavalari, o macacão preto, usado, de Zé Faito e as botas novas de Dinho Dall’ Acqua. Neste dia tive uma experiência inesquecível. Larguei muito bem e desenvolvia uma boa corrida dentro das minhas possibilidades e principalmente da motocicleta, algo assim como que brigando da sexta até a oitava posição. Nada mal pelo número e talento dos competidores adversários. Tudo ia muito bem, tudo emocionante e de muita adrenalina. Lá para o meio da prova, seguia firme em direção à Curva da Ferradura.
Cheguei no meu limite, reduzi de quinta para quarta marcha, travei os freios e iniciei o pêndulo. Já deitado, meu corpo todinho fora da motocicleta e de repente ao meu lado Neto (Olympio Bernardes Ferreira Neto), marrento, olhando nos meus olhos, braços firmes, dentes semi serrados abusando da gravidade me ultrapassou por fora, abrindo uma vantagem e só nos encontrando novamente nos boxes, ao término da competição. Nunca fiquei triste, aquela ultrapassagem que levei é uma das mais bonitas memórias que guardo. Neto era um piloto extraordinário, tinha uma tocada suave, cheia de estratégias, andava no limite seu e da motocicleta, sem cometer qualquer erro, sempre buscava tirar tudo que o motor tinha a oferecer e ao mesmo tempo que era meticuloso, tinha obsessão pela vitória.
Palanque de corrida na Alameda Paulista, ao centro o prefeito Rubens Cruz
Certa oportunidade, me confidenciou que seu maior sonho era vencer em Araraquara, sua cidade natal, imaginava a volta triunfante perante toda nossa comunidade, os braços erguidos da vitória e o abraço carinhoso de Vera, sua companheira inseparável da vida toda.
Quando me contou esse segredo, foi abrindo um sorriso largo, seus olhos brilharam, seus braços e pernas foram se contorcendo em uma explosão de felicidade imaginária o que me emocionou também, porque de certa forma, também sonhara muito e queria isso para mim.
Largada de uma corrida na Alameda Paulista, no inesquecível ano de 1969
Aos poucos sua feição foi se fechando, comprimiu os braços, arregalou os olhos e vociferou um sentimento mistura de tristeza e raiva, que aquelesolhos até então brilhantes, devagar foram oferecendo gotas de lágrimas, e fala como que explicando o porque está vitória não aconteceu. – Em Araraquara, no fim dos anos 60, na Alameda Paulista, correra com uma Ducati 250 cc, azul e cinza metálica, Marck1, que era de propriedade de Dario Pires (Preparador de Motores e Tecnologias muito à frente de seu tempo), um verdadeiro canhão.
Largando muito bem, rapidamente ganhara a ponta, entrando no retão dos fundos soberano e absoluto. Quando findou a reta e se aproximava da curva que dava acesso ao palanque principal, ninguém, nada mais, nada menos, que Valter (Tucano) Barchi e DenisioCasarini, pilotos oficiais da Team YAMAHA BRASIL, que corriam na categoria especial com uma TD-1.
Em Interlagos, Benê, Celso (Baiano Faito) Martinez e José da Penha Moreira, pilotos da nossa cidade que pareciam viver na juventude um verdadeiro mundo de sonhos
Ato contínuo, balançou o pescoço permitindo sem oferecer qualquer resistência à ultrapassagem de ambos, que disputavam a super categoria especial, com classificação em apartado da sua, que era a esporte livre. Pura infelicidade, o piloto da Velomoto SP, que vinha atrás desastradamente se descontrolou e em reta o acertou “bem no meio”, derrubando-o e destruindo por completo sua moto, pondo fim a uma vitória que já vinha sendo administrada.
Quando, anos depois o interpelei, de que poderíamos ter caído também em Interlagos, seu eu mantivesse minha trajetória, sorrateiro sorriu novamente……….Éhhheeeé, mais eu não cai.
Aprendi com ele ali que estávamos num processo seletivo e que se realmente quisesse ser eu um campeão, deveria ser leal, corajoso, ético, mas principalmente, em hipótese nenhuma, abdicar do objetivo. … Em corrida, cada um….é cada um…..
Neste dia em Interlagos, corremos eu, Neto, José da Penha Moreira, Celso (Baiano Faito) Martinez na categoria 50 cc, Eduardo Luzia na esporte livre com uma Honda 750, Kits 840 cc e Edivilmo Queiroz com Yamaha TD-2 – 250 cc. Adolpho Tedeschi Neto foi o coordenador geral da equipe, com a ajuda de Diogo Martinez, Theodoro Jacob e Pinho (José Manoel Sampaio do Amaral). Esta prova contou ainda com a participação especial, dentre outros de Adu Celso (Piloto Brasileiro que disputava o mundial e Kent Anderson, naquele ano, campeão mundial na categoria 125 cc.
Velhos tempos, belos dias.