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Especial: Trilhos do amanhã atravessando o tempo. Até quando meu Senhor?

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Parque dos Trilhos

Entra prefeito, sai prefeito, entra deputado, sai deputado e a retirada dos trilhos não acontece. E na verdade, quando se planeja uma cidade do futuro, o passado atrapalha, pois ele ainda interfere no cotidiano e na mobilidade urbana.

Parque dos TrilhosUma cidade dividida pela linha férrea

Por quase um século, a ferrovia foi o principal meio de transporte de passageiros e de carga em Araraquara. De certa maneira, foi sua ligação com o mundo. Acompanhando a expansão cafeeira no final do século XIX e com o intuito de escoar a produção dos grãos, os fazendeiros da região araraquarense construíram uma nova estrada – a Estrada de Ferro Araraquara (EFA).

Primeiro como uma companhia privada, depois estatizada pelo estado de São Paulo, os trilhos da antiga EFA serviam de escoadouro da imensa produção agrícola das regiões de Catanduva, São José do Rio Preto, Votuporanga, Fernandópolis, entre outras cidades.

Entretanto, os tempos mudaram. O sistema de transporte também se modificou. A cidade cresceu. E hoje os trilhos da antiga EFA estão inseridos bem no centro da cidade.

Exatamente os mesmos trilhos que promoveram o desenvolvimento da região, agora são motivo de entrave, principalmente com relação à mobilidade urbana e à segregação socioespacial da cidade. Como aproveitar o melhor que eles têm a oferecer, sem perder a tradição com a ferrovia? Como pensar uma cidade do futuro sem pensar na questão da mobilidade urbana? “A solução é aproveitar racionalmente essa área”, é o que afirma Elias Chediek Neto, ferroviário aposentado, que foi responsável pela manutenção da via permanente e da chefia de transportes e circulação da EFA – Estrada de Ferro Araraquara, atualmente vereador na cidade.

PARQUE DOS TRILHOS

Parque dos Trilhos 05

A proposta do Parque dos Trilhos surgiu para suprir a necessidade de uma região de potencial em Araraquara. Previsto como “CEU” – Corredor Estrutural de Urbanidade no Plano Diretor de Araraquara de 2014, a área é vista como de grande importância para o desenvolvimento da cidade.

Engloba também questões como: a necessidade de criação de novas conexões entre trechos da cidade; a criação de um parque central e consequente benefício para os moradores; a reativação ou reutilização de áreas que sofrem com abandono e também a oportunidade da integração de transporte intermodal.

Alguns estudos preliminares sobre o assunto foram apresentados em 2012, durante o processo de eleições municipais e tiveram como objetivo a geração de imagens tridimensionais eletrônicas para divulgação e incentivo do debate público. Já esta proposta foi desenvolvida no final de 2016, pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e por uma Comissão Especial de Estudos da Câmara Municipal.

A proposta do estudo é trabalhar as áreas do Parque dos Trilhos, por vocações, aproveitando o próprio potencial de cada uma e utilizar os trilhos para a instalação do VLT – Veículo Leve sobre Trilhos, com estações pré-determinadas distribuídas por toda a malha – desde o Pinheirinho até a Randon. Seriam aproximadamente 14 km de trajetória, que com uma velocidade média de 40 km por hora, seriam percorridos em 23 minutos (parando em todos os pontos). E cada estação daria acesso a terminais de ônibus.

Sobre a implantação do projeto, Chediek se mostra otimista. “No nosso caso, temos a faixa de domínio, os trilhos e temos essa facilidade da malha já estar no centro da cidade. […] Para nós, inclusive, seria bem mais barato porque não precisamos desapropriar nada ou fazer linhas, apenas adaptar as linhas que já temos. Só falta o veículo, adaptar algumas coisas e melhorar a ideia das estações da cidade”, ressalta o vereador.

A ideia a princípio é atender a cidade de Araraquara, mas futuramente o projeto poderia ser ampliado também para as cidades da região.

Parque dos Trilhos 02O vereador Chediek apresentando detalhes do projeto

VOCAÇÕES DA CIDADE

Descrevemos a seguir cada uma das áreas que compõem o mapa das vocações do Parque dos Trilhos.

Azul claro – Unidade de Vizinhança

Devido ao seu formato, estreito e longo, esta área verde tem vocação para ser um local de lazer e convivência pública, com a implantação de equipamentos de lazer e atividades ao ar livre. A ideia é melhorar a qualidade de vida dos moradores.

Cinza – Cidade Jurídica

Esta região, por ter grande área, seria destinada à implantação da Cidade Judiciária, constituída pelos órgãos do Poder Judiciário com melhoria de comunicação entre todas as instâncias.

Rosa – Centro Esportivo – Araraquara Olímpica

Por estar em um eixo de equipamentos esportivos como, por exemplo, o Gigantão, Arena da Fonte, a Secretaria de Esporte e Lazer e a Praça Scalamandré Sobrinho, a região se mostra inclinada para a vocação aos esportes. Para essa área foi pensada a implantação da Secretaria do Esporte e a Secretaria da Saúde. Aliado a isso, temos uma demanda de serviços hoteleiros que, na época dos jogos regionais e estudantis, não são suportados pelos hotéis já existentes, se tornando assim uma área interessante para o desenvolvimento destes serviços.

Verde – Centro Cívico e Tecnológico

Por ser uma área central na cidade, é cotada como bom lugar para a mudança do Centro Administrativo da cidade. Neste local seriam transferidos o Paço Municipal e a Câmara Municipal. Abrigaria também o Polo de Inovação Tecnológica, local pensado para incubação e desenvolvimento de projetos inovadores. Além disso, um dos motivos que afirmam a vocação do Centro Cívico, é evitar que com a mudança, exista o êxodo do centro urbano atual.

Amarelo – Centro de Cultura e Educação

Aproveitando a existência do Museu Ferroviário e da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira, nesta área a proposta é a implantação da Secretaria da Cultura, fazendo eixo com a já existente Secretaria da Educação. A Feira Noturna permaneceria no local, entendida como ferramenta importante para manter o reavivamento desta área. A Coordenadoria de Turismo também seria instalada, com previsão de trens turísticos saindo da estação, dando assim suporte e reafirmando vocação educacional, cultural e histórica da região.

Laranja – Centro Gastronômico e de Economia Criativa

A área, onde hoje se encontra a CEAGESP, possui grande potencial histórico e cultural em seu entorno, devido a sua localização central e ao tamanho do lote, no entanto é entendida como um grande vazio se for desocupada futuramente. Pensando nisso, a proposta é a criação de um Centro Gastronômico, juntamente com uma Escola de Capacitação Técnica voltada à gastronomia. O projeto pretende atrair a atividade turística, gerar empregos e aumentar a permanência no fluxo de pessoas e atividades na área. A Secretaria da Agricultura seria instalada no setor juntamente com uma área para desenvolvimento de Economia Criativa.

Roxo – Centro de Atividades com Idosos

Com o aumento da expectativa de vida e crescimento da população de idosos, a cidade carece de um espaço voltado para assistência e lazer dessa faixa etária. Neste local, onde há uma grande concentração dos idosos da cidade, duas secretarias seriam implantadas: a Secretaria de Desenvolvimento Social e o Fundo Social.

OLHANDO PARA O FUTURO

O trânsito e o transporte público de Araraquara estão problemáticos. E com o crescimento acelerado da cidade, a tendência é piorar. Soluções paliativas não resolvem o problema a longo prazo, além de gerar altos custos. Neste caso, o VLT se apresenta como uma alternativa que aproveitaria o leito ferroviário já existente.

Entretanto, o projeto do Parque dos Trilhos não teve avanços significativos nos últimos anos. “Teve toda essa desaceleração, até por conta da própria crise. No começo, não tivemos dificuldades para discutir a ideia do Parque dos Trilhos. Agora precisamos voltar à discussão, montar uma comissão para aprofundar e reformular os estudos para poder avançar com o projeto”, enfatiza Chediek.

A busca agora é por planejamento de passos futuros. “É preciso ter políticas de longo prazo. Precisamos eleger prioridades e mantê-las. O que não se pode mudar é o plano diretor da cidade”, enfatiza o vereador. E também de um maior envolvimento com a comunidade. “Não queremos fazer uma coisa separada”, finaliza o vereador.