
A criança que apresenta estrabismo em idade precoce (antes dos 4 a 5 anos de idade), não vai apresentar visão dupla (diplopia) devido a supressão do olho não fixador. Neste caso, o cérebro da criança escolhe suprimir (não levar em consideração) a visão do olho desalinhado. Isso é importante porque a criança não vai apresentar visão dupla, nem se queixar de problema de visão. Além disto, esta supressão não permite que o olho desviado se desenvolva normalmente. A supressão é um mecanismo de defesa para evitar a diplopia e a confusão de imagens e interrompe o desenvolvimento binocular com perda de fusão e de estereopsia. Se o estrabismo ocorre em uma criança com mais de 7 anos de idade ou em um adulto, o paciente percebe a visão dupla porque já não consegue realizar a supressão.
Ao nascimento, o alinhamento ocular é variável, 70% dos bebês apresentam uma pequena e variável exotropia (um dos olhos desviado para fora, chamado desvio divergente), 30% dos olhos alinhados e esotropia (olho desviado para dentro, chamado desvio convergente) é mais raro. Isso ocorre porque nos primeiros meses de vida a visão ainda é pouco desenvolvida. Com o crescimento, os olhos deixam de desviar e isso deve ocorrer até os primeiros meses de vida.
Crianças com exotropia (olho desviado para fora) após 6 meses de vida ou esotropia (olho desviado para dentro) após 2 meses de vida devem ser encaminhadas ao oftalmologista. Rápidos episódios de adução simultânea (espasmo de convergência) são frequentes até os 4 meses de idade. Neste caso, o oftalmologista vai medir o desvio e garantir que não exista uma causa mais grave (como doença de retina, catarata ou tumor no olho da criança).
O pseudo-estrabismo é uma condição muito comum na qual a criança parece ter os olhos desalinhados, com falsa aparência de estrabismo. Neste caso o exame com oftalmologista e acompanhamento da criança é muito importante para acalmar os pais e garantir que a criança vai apresentar desenvolvimento normal dos dois olhos.
TRATAMENTO
O tratamento consiste em garantir que não existe uma doença causando estrabismo que deva ser tratada (como catarata, doenças da retina, tumores, alta miopia, hipermetropia, etc.), seguido do tratamento da ambliopia. Ambliopia é conhecida popularmente como “olho preguiçoso”, quando o estrabismo ou alguma outra alteração nos primeiros anos de vida da criança impedem que a visão deste olho se desenvolva. Neste caso, o oftalmologista costuma prescrever tampão ou colírios especiais para “forçar” a criança a desenvolver a visão no olho preguiçoso. Normalmente é um tratamento difícil porque a criança não entende a sua importância e reclama. Os pais devem estar bem informados para que o tratamento tenha sucesso. O tratamento da ambliopia é muito importante porque só pode ser realizado em crianças pequenas. Quando um adulto descobre que tem um olho amblíope não tem como tratar e melhorar sua visão. Apesar de algumas drogas poderem ser utilizadas para tratar a ambliopia em adultos, acredita-se que esta doença deva ser tratada em crianças o mais cedo possível, até no máximo sete anos de idade.
Paralelamente ao tratamento da ambliopia, o oftalmologista acompanha o estrabismo. Às vezes o uso de óculos ajuda a corrigir parte do desvio e quando a criança crescer, a cirurgia ajuda a alinhar os olhos. Vale lembrar que a cirurgia não trata a ambliopia, apenas alinha os olhos.