Texto: Matheus Vieira
Ferroviária e Napoli entram em campo puxados por Aldo Comito e o capitão Fogueira
A Società Sportiva Calcio Napoli, ou simplesmente Napoli, da cidade de Nápoles, é uma das equipes mais tradicionais da Itália. Com seu belo uniforme celeste, carrega no currículo dois Campeonatos Italianos e duas Supercopas, além de uma fama em terras sul-americanas por conta da dobradinha Maradona/Careca na década de 90.
Mas vamos voltar no tempo. Antes de tudo, é bom pontuar que a década de 60 tinha sido a melhor do clube desde a sua fundação, em 1926. Pela primeira vez, o Napoli havia conquistado o vice-campeonato, vencido pelo Milan. À época, vários jogadores serviam a seleção de seu País.
Em 1968, Araraquara ganharia um capítulo na história do clube italiano que, neste ano, desembarcou no Brasil em junho para várias exibições. Segundo informações do livro ‘Fonte Luminosa’, de Luis Marcelo Inaco Cirino, no Paraná, o Napoli empatou por 0 a 0, com o Coritiba.
Já em São Paulo, o adversário foi o Palmeiras e o jogo também terminou empatado: 1 a 1. Três dias depois, o placar se repetiu em Campinas, quando os italianos mediram forças com a Ponte Preta.
A fraternidade levou os dois times a posarem juntos naquela tarde
E eis que no dia 6 (uma quinta-feira), o time chegou à Morada do Sol, onde pernoitou por duas noites, antes de enfrentar a AFE na Fonte Luminosa. Os napolitanos ficaram alojados na residência da família Morganti, na Usina Tamoio.
Na sexta-feira, por volta das 17h30, o ônibus da Ferroviária dirigido por Arlindo Perrucci, o “Tabatinga”, foi até à Usina Tamoio buscar atletas e comissão técnica, que foram recepcionados em um coquetel na casa de Boaventura Gravina, na Avenida Duque de Caxias esquina com a Rua Gonçalves Dias. “Bibi Gravina” como era conhecido, em 1968 ocupava o cargo de vice-cônsul da Itália no Estado de São Paulo. Como boa anfitriã, a Ferroviária ofereceu um jantar para os visitantes no Restaurante Internacional, atualmente Churrascaria Estrela do Sul.
Hélio Morganti, presidente da Usina Tamoio deu o pontapé inicial
BOLA ROLANDO
O encontro entre Ferroviária e Napoli ocorreu em 9 de junho de 1968, um domingo. O dia era de festa. Além do sorteio de um Fusca e quatro aparelhos de tevê, o confronto marcou a entrega do cartão de prata ao centroavante Téia por seus 20 gols marcados no Campeonato Paulista daquele ano, à frente de Pelé. O jogador recebeu o cartão das mãos do narrador esportivo Wilson Luiz, então da Rádio A Voz da Araraquarense.
A propósito, neste dia, o então repórter de campo Ivan Roberto, após iniciar carreira na Rádio A Voz, fazia sua estréia na equipe esportiva da Rádio Cultura neste histórico jogo, trabalhando com Antonio Carlos Araujo (narrador), Dorival Marcondes Machado (comentarista) e Carminho Tucci, também repórter de campo.
Na preliminar, houve um duelo entre Novo Horizonte e Itápolis. Depois, no jogo principal, os presentes viram a Locomotiva atropelar o Napoli, em uma apresentação de gala por 4 a 0. No 1º Tempo, após um cruzamento na área, Bebeto escorou de cabeça, abrindo o placar para a Ferroviária, aos 30 minutos. Na etapa final, Zé Luis entrou na vaga de Maritaca, anotando três gols (10, 19 e 26 minutos). A renda girou em torno dos 120 mil cruzeiros novos.
À nossa reportagem, o capitão afeano Fogueira, comenta que este capítulo vitorioso foi mais uma conquista de um time incrível, bem arrumado e coeso. “Vínhamos de um título em 1967 e 1968. Logo, estávamos bem entrosados. Toda essa facilidade também vai ao encontro do nível do futebol naquela época. Tanto as equipes do interior, quanto capital, eram excelentes. Estávamos preparados e demos o baile. A festa foi muito bonita. Os italianos eram educados e tudo virou uma grande confraternização”, finaliza.
Antonio Carlos Araujo, transmitiu o jogo pela Rádio Cultura AM
BOM MOMENTO
A Ferroviária, em 1968, vivia um ótimo momento. O time disputou 54 jogos, com 28 vitórias, 15 empates e 11 derrotas. Marcou 93 gols e sofreu 60. Conquistou também o bicampeonato do interior. Ainda nesse ano, em 14 de julho, a Locomotiva disputou um importante amistoso frente ao Internacional (RS), empatando por 2 a 2, na Fonte Luminosa.
Após o sucesso do jogo contra o Napoli e aproveitando o prestígio internacional angariado com dois giros internacionais (1960-63), a Ferroviária partiu para sua 3ª excursão, com um giro pelas Américas. Foram 13 jogos: nove vitórias, uma derrota e três empates.
Ivan Roberto fazia sua estreia na Cultura entrevistando o jogador Girardo, do Napoli
Fogueira e Cané trocam flâmulas
FICHA TÉCNICA
Ferroviária 4×0 Napoli
Local: Estádio da Fonte Luminosa
Data: 09/06/1968
Renda: 120 mil cruzeiros novos
Árbitro: Oscar Scolfaro
Cartões Vermelhos: Teodoro (AFE) e Zurlini (Napoli)
Gols: Bebeto a 29’/1T e Zé Luis, aos 10’, 19’ e 26’ /2T (AFE)
TIMES
Ferroviária: Machado, Baiano, Fernando, Rossi e Fogueira; Bebeto (Teodoro) e Bazani, Valdir, Maritaca (Zé Luis), Téia e Pio.
Técnico: Diede Lameiro
Napoli: Gumman, Michele, Pegliano (Nardini), Zurlini e Girardo (Montefuso), Stente e Cané, Orlando, Biachi, Di Giacomo e Bortavi.
Técnico: Egidio Di Constanzo.
Relembre o comercial gravado pela Rádio Cultura em 1968, clicando na foto abaixo: