Sartre durante a palestra e com Fausto Castilho
No ano dia 04 de setembro de 2018, Araraquara comemoramos 58 anos da visita do filósofo Sartre à cidade de Araraquara e relembramos que sua vinda ao nosso município se deu pelo filósofo Fausto Castilho, docente na época da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, hoje FCLar/UNESP.
Fausto perguntou por intermédio de colegas ao filósofo Sartre, que participava num congresso literário em Recife, sobre a conciliação do existencialismo e marxismo. Posteriormente essa indagação foi reforçada por telefone, quando Sartre estava no Rio de Janeiro.
Jean-Paul Sartre e sua companheira que estavam em visita ao Brasil a convite do escritor Jorge Amado, quis responder pessoalmente àquela pergunta e assim, surgiu o pedido de sua vinda à Araraquara para a conferência que mais tarde deu nome ao livro: “Sartre no Brasil: A Conferência de Araraquara”. Texto de importância histórica, descreve as preocupações que moviam o filósofo existencialista naquela época, com o testemunho de sua trajetória intelectual e ativista.
Público presente no auditório da Filosofia
A PALESTRA
A palestra proferida no dia 04 de setembro de 1960, na então Faculdade de Filosofia, hoje atual Casa da Cultura, na sala que posteriormente seria nomeada com o nome do filósofo, teve na plateia aproximadamente 100 pessoas, entre elas Ruth Cardoso, socióloga e ex-primeira-dama, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente do Brasil; Bento Prado Jr., filósofo da USP, Jorge Nagle, ex-reitor da UNESP, Miriam Moreira Leite, educadora da USP, Dante Moreira Leite, psicólogo, Antonio Candido, professor aposentado de Teoria Literária da USP, Gilda Mello e Souza, ensaísta, professora de Estética da USP, Nilo Scalzo – jornalista, Michel Debrun, francês, professor-visitante da USP, José Celso Martinez Corrêa, dramaturgo, criador do Teatro Oficina, Dante Tringalli, professor aposentado de Latim da UNESP, José Aluysio Reis de Andrade, professor aposentado de Filosofia da UNESP, Jorge Amado, entre outras autoridades.
Nesse mesmo dia, Sartre e Simone tiveram um encontro com estudantes e trabalhadores rurais, no antigo Teatro Municipal da cidade de Araraquara.
Um momento histórico na vida de Araraquara
QUEM FOI
O filósofo Jean-Paul Sartarare nasceu em Paris, em 21/06/1905. Órfão de pai, falecido com febre amarela, perto de completar dois anos, mudou-se com sua mãe para a casa dos seus avós maternos em Meudon. O avô, Charles Schweitzer, um professor de alemão, influenciou e despertou o neto à literatura clássica.
Aos doze anos, Sartre mudou-se com sua família para La Rochelle e lá residiu até os quinze anos de idade, indo então estudar em Paris, no célebre Liceu Henri IV e depois no Liceu Louis le Grand, interessando-se por filosofia.
Em 1924, matriculou-se na Escola Normal Superior, em Paris, por onde formaram-se vários pensadores franceses notáveis, terminando seus estudos no ano de 1929, quando conheceu a escritora Simone de Beauvoir, sua futura companheira. Em 1931 foi nomeado professor de filosofia no Liceu do Havre e de 1933 a 1934, estudou e viveu em Berlim. No ano de 1938 publicou seu primeiro romance intitulado “A náusea”.
Com o início da guerra, Jean-Paul Sartre foi convocado a servir no exército francês como meteorologista. Capturado em 1940, foi enviado pelos alemães a um campo de prisioneiros onde passou noves meses, quando então escreveu e encenou a peça teatral “Barionà, fils du tonnerre”. Libertado, voltou à França em 1941 e criou o movimento Socialismo e Liberdade. No ano de 1943, publica “O ser e o nada”.
Com o final da guerra, fundou em 1945 a revista Les Temps Modernes, edição mensal, conhecida como “Revista de Sartre”.
Ingressou, em 1952, no Partido Comunista Francês, rompendo depois de quatro anos. Em 1960, publicou a “Crítica da razão dialética”, e em 1964, a autobiografia “As palavras”.
Recusou o Prêmio Nobel de Literatura por acreditar que “nenhum escritor pode ser transformado em instituição”.
Sartre, além de ter estado no centro de alguns dos movimentos intelectuais e culturais mais importantes da segundo metade do século XX, como o existencialismo, foi o caso raro de um grande filósofo que era também um grande romancista, e de um grande romancista que era também um grande dramaturgo. Faleceu em Paris, em 15 de abril de 1980.
SUA VINDA
Jean-Paul Sartre chegou ao Brasil em 15 de agosto de 1960, acompanhado da escritora Simone de Beauvoir, permanecendo até o dia 1º de novembro daquele ano. Visitou Recife, Bahia, Olinda, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Amazônia, São Paulo e Araraquara, demonstrando sua preocupação e solidariedade com a América Latina.
A Faculdade de Filosofia e depois o livro com a conferência de Araraquara
CRIADO O DIA MUNICIPAL DE SARTRE
Em nossa cidade foi instituído o “Dia de Sartre Araraquarae no Município de Araraquara”, através da Lei Municipal nº 5.673, de 30/08/2001. O fato é considerado um dos pontos altos da nossa história.
No dia da sua visita, acontecia na Fonte Luminosa um jogo entre Ferroviária e Santos pelo Campeonato Paulista. O rei Pelé em campo participava do jogo no qual a Ferroviária sagrou-se vencedora por 4 x 0.
Conta-se que quando o filósofo Sartre viu as pessoas pelas vias da cidade em grande comemoração, pensou que aquele tumulto todo se devia à sua presença.
Pesquisa: Silvia Maria Gustavo Santos
Memorial da Câmara Municipal de Araraquara