Durante semanas internado no Hospital São Paulo, o empresário do setor varejista (Imperial Modas, Imperial Calçados, Queen, Amiga e Imperial Infantil), Jamil Issa Tamer, 86 anos de idade, lutou para continuar vivendo uma história de trabalho, convívio com a comunidade e a doutrina espírita que ele tanto admirava e participava. Ele e a esposa Wanny sempre foram peças importantes em todo processo de desenvolvimento econômico de uma cidade emergente dos anos 60 a 90.
Wanny e Jamil, juntos por maisde 60 anos em um tempo de sonhos
Faleceu nesta quinta-feira (11), 21h, no Hospital São Paulo em nossa cidade, o empresário Jamil Issa Tamer. Sua passagem por este mundo nos remete ao passado, onde ele de forma significativa teve um papel dos mais brilhantes. Seu corpo está sendo velado na Fonte e o sepultamento dar-se-á às 16h30 no Cemitério São Bento.
A HISTÓRIA
Faltavam poucos dias para o Natal de 1968. Uma situação mais ou menos semelhante ao Natal que se aproxima; manhã de calor quase insuportável, muito pouco para o tamanho do sol senegalesco que bateria sobre a cidade lá pelo meio dia.
Nem bem havia dado sete e meia e o Jamil desce rápido de um carro, talvez um Galaxy para abrir a Imperial Calçados, uma das mais badaladas lojas da Rua 9 de Julho, que seguia o padrão das outras duas – Imperial Modas e Imperial Infantil. Mas não era só: Jamil e Wanny , mais tarde estariam à frente de um complexo varejista que envolveria outras duas lojas – Amiga e Queen.
Baile de Gala na antiga sede social do Clube Araraquarense, hoje Palacete das Rosas
Era assim a vida de Jamil Issa Tamer, correria o tempo todo e visão empresarial que impressionava até mesmo o mais cético dos economistas. Da sua sala com janela na cor creme voltada para a Avenida Duque de Caxias que ele abria de vez em quando, olhava para a Casa Barbieri, a Farmácia do Fiore na esquina e cuja visão se estendia até a Imperial Infantil na 9 de Julho. E nesta sala transformada em prolongamento do seu lar, Jamil e Wanny administraram o mundo dos negócios voltados para calçados e confecções, por mais de 40 anos.
Um dia Jamil, numa dessas conversas descontraídas, contou numa roda de amigos que nada foi melhor que viver essa essência comercial no momento mais importante da cidade emergente. Ele e Wanny atrelavam essa atividade à disposição constante de participarem da vida social da cidade, atendendo convites para eventos, além de assegurarem o interesse em estar com a marca Imperial em desfiles de modas e concurso de misses.
Isso era constante, diz o amigo Sérgio Sanches, com quem Jamil ao longo de sua vida, teve o prazer de conviver por conta da doutrina espírita; ali, Jamil mostrava e exercia a prática do bem: “Ser bom e caritativo deve ser o lema de qualquer pessoa interessada em compreender a importância do ser humano”, comentava.
Noite de carnaval no Araraquarense: Jamil e Wanny ao lado dos jogadores do Palmeiras Ademir da Guia e Leivinha (esposa) e Carlos Augusto Ribeiro da Silva (Jajá)
Foi pregando este sentimento de irmandade, que o filho de dona Maria e ‘seo’ Issa Tamer cada vez mais angariava amizades, nunca deixando também de comentar a importância do papel da família. Ele reconhecia a vida difícil que seus pais haviam passado após a chegada como imigrantes da Síria nos anos 20, por isso acompanhava de perto o crescimento dos irmãos Georgina, Antonio, José Aldo, Jeanete e Paulo. Deles, Jamil procurava estar sempre por perto.
Da figura do pai então, ‘seo’ Issa, ele sempre lembrava da dura vida de mascate, batendo de porta em porta, vendendo mercadorias e cujas sobras lhe deram a chance de comprar um pequeno armazém de secos e molhados. “Aí as coisas melhoraram e a adolescência de cada um dos filhos lhes dava o sinal de um futuro mais promissor”, contou Jamil, certo dia.
De fato, cada filho foi seguindo o seu caminho de forma confiante, sem esquecerem da frase que o próprio Jamil procurava lembrar em respeito ao pai dita nos tempos de turbulência: “Cada coisa ao seu tempo certo” .
Para quem apenas havia feito o grupo escolar no Antônio J. de Carvalho e o Técnico de Contabilidade no Colégio Duque de Caxias, agora era hora de fazer da vida uma escola e frases como essa acabaram perpetuando nele o sentimento de respeito e de impressão de um livro guardado a sete chaves.
Jamil e o amigo João Primiano em uma reunião festiva do Lions Clube
Porém, havia mais na estrada do elegante Jamil: conhecer Wanny, casar e com ela ter duas meninas, Inês e Ina, cuja paixão tornou-se o complemento de um mundo novo de ponderações e enriquecimento familiar. Se por um lado a vida lhe sorria, disse um amigo, é verdade que nem sempre as coisas acontecem do jeito que a gente quer. Ao encerrar suas atividades comerciais, Jamil afastou-se do cenário festivo que a vida lhe proporcionara nos encontros do Lions Clube, das presenças constantes no Clube Araraquarense, e agora, tudo o que fazia era olhar as telas que a esposa Wanny pintava ou então buscar entender mais de perto o amor que nutria pelos quatro netos que Ina e Inês lhes deram.
Mas o tempo é implacável… uma prática que a doutrina espírita havia lhe ensinado, justificada pelo ditado que “o tempo e a maré não esperam por ninguém”. Aos 86 anos, ele ainda é o Jamil que Araraquara conheceu e que radiante, leva no peito a imagem da esposa Wanny, compreensiva e bondosa que Deus colocara em seu caminho. Parte agora para trabalhar ao lado de tantos outros amigos que ajudaram na construção de um novo lar.