Presidente da APAE por cinco anos, Nenê Ferrenha acreditou no poder de realização do ser humano, quebrou preconceitos e levou a sociedade a ter outro entendimento sobre a entidade e as pessoas com deficiências. Sua morte entristece a cidade.
Alguém disse um certo dia: “O Brasil precisa de pessoas como ele”. De fato, com Nenê Ferrenha poderíamos ter um Brasil sem máculas e ser este país por inteiro a nossa casa, mas impossível quando não se possui a fórmula para a produção de seres humanos com visão de paz e decência, voltados para o próximo.
Uma outra pessoa até se expressou de maneira emotiva: “Nenê, é um exemplo de amor ao próximo. Sua forma de trabalhar fez a sua marca em Araraquara. Quem convive com o Nenê só nos confirma que o que plantamos de bom, colhemos depois. Está sempre dando exemplo de como se viver com amor.”
Passado o tempo e num certo período da sua vida, entendemos que Nenê foi mais que isso, entrincheirando-se nos campos de batalha disposto a quebrar regras e protocolos para que a cidade entendesse a sua dor no momento de estender as mãos para os pequeninos da APAE. De forma resumida podemos dizer que foi um exemplo de pessoa.
Humilde, de gestos simples, afastaria em vida pelo seu jeito de ser, o reconhecimento, a valorização e os elogios que fazemos agora, mesmo porque este é um momento para ele apenas ouvir, afinal o guerreiro descansa e sabe da importância que é cumprir uma missão com dignidade e respeito.
Para suas amizades mais próximas ele disse numa certa manhã: “Assumo a APAE, mas sei que falar de inclusão, em nossa sociedade, é um desafio”. Questionado sobre a razão de falar assim, ele respondeu com a voz rouca: “Porque simplesmente, uma sociedade possui barreiras; não possui entendimento sobre as necessidades especiais destes seres tão queridos”.
Pedro Paulo Ferrenha, o Nenê, não aceitava o preconceito, mas para vencer os desafios teria que ser o criador de um mundo de bondade para cada uma daquelas criaturas que ele sentia como parte da sua própria vida. Tornou a APAE o prolongamento do seu lar e se às vezes faltava recurso, Deus parecia ouvir o chamado quase cansado de quem clamava ajuda. Ambos se entendiam como essas coisas de pai para filho.
Tanto era sua missão que Nenê buscava incansavelmente dar a APAE, uma estrutura física capaz de atender cada vez mais e melhor aos necessitados, sabendo no seu interior que com o poder público pouco poderia contar. E se a APAE hoje é vista como modelo entre as entidades sociais – muito se deve a ele, que parte ciente da obra que deixa para vida eterna de uma cidade.
SUA VIDA
Pedro Paulo Ferrenha, o Nenê, nasceu em 12 de março de 1950, filho de Darcy e Maria, uma família composta por mais cinco irmãos: Lázaro, Francisco, José Laerte, Jair e Hélio. Nenê que gostava de jogar futebol, estudou no Florestano Libutti, no IEBA e no Poli.
Ele foi por oito anos funcionário das Casas Texidal, uma importante loja de tecidos nos anos 60. Trabalhou dois anos em São Paulo e, em 1973, se tornou empresário, fundando a Nenê Escapamentos, tendo ao seu lado o inestimável amigo e irmão Arthur Wormhoudt. Casou-se com Dóris Teresinha em 1977 e deixa três filhos: Rodrigo, Diego e Gustavo, também dois netos.
Nenê foi diretor da Associação Comercial e Industrial de Araraquara (ACIA) e diretor adjunto na Associação Ferroviária de Esportes (AFE). Fazia parte do Rotary Club Oeste, onde ocupou vários cargos. Através do Rotary, chegou à APAE, prestando serviços voluntários em eventos e, em 2014, tornou-se presidente da entidade.
Em fevereiro, Nenê chegou a ficar internado no Hospital São Paulo, em Araraquara; dois meses atrás foi levado para Ribeirão Preto (Hospital São Lucas Ribeirânia) para intensificar o tratamento, não conseguindo vencer a doença que o acometeu durante anos.
A informação sobre sua morte foi dada nesta madrugada. A família ainda não tem o horário definido do velório, mas provavelmente deverá acontecer após às 12h, no Memorial Fonteri.
Siga em paz, amigo. Você deixa saudades.
O velório vem ocorrendo no Memorial Fonteri e o sepultamento será nesta terça-feira (18) as 10h30, no cemitério São Bento.