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O encontro de Benê com Emerson Fittipaldi em São Paulo

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Bene e Emerson 02

CRÔNICA: BENEDITO SALVADOR CARLOS (BENÊ)

PESQUISA: PEDRO SCABELLOBene e Emerson 02Penha em sua modesta oficina e onde fez uma das mais belas histórias do motociclismo de Araraquara

Emerson Fittipaldi poucos sabem, foi um promissor piloto de motocicletas. Campeão Paulista na categoria 50 cc, com uma Mondial e se não fosse por interferência de sua mãe, teria sido, como diz em seu livro “Voando sobre rodas”, um “Agostini”.

Soube desta história em um encontro que tivemos em seu escritório, um prédio muito bonito, localizado em região extremamente arborizada no centro de São Paulo, local que ele guarda parte de suas memórias e conquistas.

Certa oportunidade, depois do sucesso prematuro na cinquentinha, foi convidado pelo Silvano Pozzi, preparador de motores e chassi, com reconhecimento no Brasil inteiro, que construiu em uma oficina que tinha no centro velho de São Paulo, nas imediações da Barão de Limeira com a General, um protótipo de motocicleta que levava as iniciais de seu nome, SILPO, motocicleta esta peculiar e que fora construída para ser uma vencedora e assim construiu sua sina.

Depois de prometer que nunca mais correria de motocicleta, não resistiu ao encantamento do convite e assim participou das 100 Milhas do Brasil com um pseudônimo, que de prático nada resultou, pois seu pai, Wilson Fittipaldi, tradicional comentarista das transmissões esportivas da rádio Jovem Pan, o reconheceu ainda que de macacão preto emprestado e com a largada direta dos boxes. A corrida não foi um sucesso, pois a motocicleta carecia de ajustes o que culminou com a precoce desistência, percurso este não concluso.

Tempos atrás, meu sobrinho Anselmo Caparica, filho do meu irmão Haroldo e de Helena Caparica, jornalista e repórter do Sport TV e Rede Globo, me ligou e disse: Tio, o Fittipaldi quer conhecer você. Eu?

Sim, contei para ele do carinho e das histórias que você conta sobre sua trajetória, das vitórias, dos recordes, das façanhas e das aventuras, inclusive de motocicletas.

Bene e Emerson 03Protótipo da motocicleta marca SILPO

Havia eu contado para meu sobrinho Anselmo, que a famosa SILPO estava em Araraquara a vida toda e que eu a conheci em pormenores. De certo este foi uma de suas maiores curiosidades, afinal como poderia estar “aquela” que foi motivo do encerramento de sua carreira como piloto de motocicletas.

Conheci a SILPO na oficina do Penha, (José da Penha Moreira), que morava na Avenida Bandeirantes entre as ruas Padre Duarte (4) e São Bento (3), numa casa de fundos. Na parte da frente ficava sua modesta oficina, um imóvel velho, todo rústico, piso de tijolos, porta com tramelas, paredes amareladas do tempo e descascadas. Não me lembro da existência de banheiro, muito menos de cozinha, Lembro-me tão somente do seu velho torno de marca NARDINI, de suas ferramentas e daquele “tesouro”, que chegara em nossa cidade por intermédio do piloto Neto (Olympio Bernardes Ferreira Neto), que enxergou nela uma oportunidade de enfrentar as poderosas italianas DUCATI, AERMACHI e MONDIAL.   

No nosso encontro conversamos sobre sua amizade com os pilotos de Araraquara, da nossa Ital Jet, da nossa Mondial e em especial sobre a SILPO, desconfiado ele me perguntou “motor 2 tempos, 175 cilindradas?” no que respondi complementando – 3 marchas, carburador Dellorto 28 e 180 km/h de velocidade final, abrindo em seu rosto, um sorriso largo, sinalizando a confirmação destas informações.

Emerson foi para mim, meus irmãos e toda uma geração dos anos 70, nosso maior ídolo. Enxergávamos nele nossa referência, nosso representante e nosso exemplo para ascensão social. Tudo nele encantava: sua humildade, seu perfeccionismo e seu sucesso.

Bene e Emerson 04Emerson Fittipaldi, com 15 anos, campeão paulista de 50cc

DE VOLTA A EMOÇÃO

Em comum percebi que o amor, a atração, o carinho e a emoção das memórias da velocidade estão tão presentes em nossa alma, que em alguns momentos, espiritualmente, cheguei a pensar que já nos conhecíamos há muito tempo.

Conversamos sobre muitas coisas, sua humildade colocava as pessoas do Moto Clube Araraquara como se fossem exatamente iguais a ele, ficando ainda mais meu ídolo por comportamento tão generoso. Destacou o talento de Penha como mecânico, das corridas de carro e kart aqui realizadas no fim dos anos 60 e ainda lembrou-se de ter deixado uma motocicleta para regulagens em sua oficina e de uma peça aqui torneada especialmente para o Coopersucar (Formula 1) FD-01.

Destacou também, que, Araraquara, na época, já era um polo de pilotos vencedores: Salerno, Neto, Eduardo Luzia, Zé Duvilio, Zé Faito, Baiano Faito, Bianchini e Passal’Acqua já eram uma unanimidade neste cenário, sucedendo os pilotos de lambretas Manolo, Nenê Salerno, Gildo Scarpa e Zezé Braghini, que deram início ao movimento nos anos 60.

Por fim, às gargalhadas contou-me da surra de vassoura que tomou de sua mãe, por ter guiado escondido essa motocicleta tão potente, já que houvera prometido não mais participaria de provas de motocicleta, uma vez que ela o reconheceu, mesmo que disfarçado. Essa motocicleta, a SILPO, continua até hoje em

Araraquara e está sob a guarda carinhosa do engenheiro mecânico Murilo Leonardi, colecionador e guardador de verdadeiras relíquias.

Não à toa, meu irmão caçula, Dr. Emerson Carlos, médico anestesista, como uma gama enorme de jovens nascidos nos anos 70, tem o seu nome em homenagem ao grande campeão.

Velhos tempos, belos dias.

Bene e Emerson 01Eu e Fittipaldi, em seu escritório em São Paulo, acompanhados das MacLaren’s vencedoras do mundial de Fórmula1 e 500 Milhas de Indianópolis