
Hoje no quarto ano do curso de Odontologia, Luís Eduardo Genaro custeia seus estudos vendendo na própria faculdade, os doces feitos pela mãe.
Luís Eduardo agradecido a mãe por tanto carinho
Luís Eduardo Genaro, hoje com 20 anos, chegou a Borborema vindo de Cafelândia, ainda criança para instalar-se em um sítio onde os pais Eduardo Donizeti Genaro e Ana Ruth Pacheco Genaro foram trabalhar. Lá começou seu segundo grau em colégio público como tantos outros garotos da cidade.
Luís fazia o terceiro colegial pela manhã, à tarde estágio no Fórum e à noite curso técnico em contabilidade; saia de sua casa às 5h30 e voltava às 23h30. Sem contar que nos finais de semana ajudava a mãe a fazer doces.
Por não haver transporte para quem morava na região rural da cidade, Luiz não pode fazer cursinho que só havia na cidade vizinha de Ibitinga. O garoto então passou a resgatar provas de vestibulares anteriores para estudar, a princípio prestou engenharia civil, mas não passou.
Mas após um tratamento dentário da mãe que ele acompanhou, percebeu que a auto-estima dela havia mudado com apenas uma prótese; se interessou pela profissão e resolveu então conversar com a dentista para saber como tinha resolvido fazer Odontologia. Continuou seus estudos só, se inscreveu no vestibular da Unesp, e passou.
Ana Ruth que já fazia doces, atendeu ao pedido do filho para que fizesse também para ele vender, e assim os dois começaram a produção de doce de leite, abóbora, mamão, trufas e pão de mel.
O aluno com a diretora da Odonto, a doutora Elaine Maria Sgavioli
Quando Luís chegou à Faculdade de Odontologia, já havia expirado o tempo para as inscrições de auxílios e o que o salvou foram os doces que vende a todos na universidade; graças a isso, conseguiu pagar aluguel do apartamento que divide com mais três amigos e as despesas, pois seus pais não tinham condições para sustentá-lo.
O tempo passou, Luiz está no quarto ano de Odonto mas não esqueceu de suas raízes e nos finais de semana visita os pais no sítio em Borborema, onde ainda ajuda sua mãe na produção de doces e vende na portaria da faculdade para suprir suas despesas.
Menino de sorriso largo e alma nobre, não se vitimiza e muito menos se intimida diante das dificuldades que a vida lhe impôs. Querido por todos os colegas de curso, não perdeu sua essência e acha engraçado os amigos apelidá-lo de “Jeca”.
Ele lembra que quando chegou em Araraquara, não sabia andar de elevador, além de ficar perdido diante dos semáforos: “Eu sou assim mesmo, não serei diferente porque mudei para a cidade, dou valor para cada momento que vivo, enquanto muitos que têm dinheiro saem para beber nos finais de semana, eu prefiro estudar, fazer meus doces, muitas vezes ouço; nossa como você é querido, nossa como você tira notas boas, mas ninguém vê o que eu passo e aí percebo que muita gente não sabe dar valor para o que tem”.
Luís pretende ainda fazer pós graduação, montar seu consultório e conciliar com uma carreira acadêmica e diante do exposto, ninguém se espantaria em ver seu nome daqui alguns anos entre os melhores.
Vender doces na entrada da Odonto para estudar, uma lição de vida e dignidade, que Luís Eduardo nos dá
A Unesp tem 50% de seus alunos por sistema de reserva, de vagas garantidas para aqueles que possuem formação em ensino público. Ainda dentro dessa reserva há vagas para pretos, pardos e indígenas – Luís faz parte do sistema.
A diretora da Faculdade de Odontologia, Elaine Maria Sgavioli, diz que quando viu o currículo escolar de Luís espantou-se com as suas altas notas e que desde o primeiro dia que chegou já vendia seus doces. Ela também se encantou com o carinho que ele tem com a família: “percebo que ele pertence ao lugar de onde veio, e para nós é um exemplo de humildade, dedicação, persistência, fora que é um ser humano ímpar, um menino especial”.
O vice-diretor Edson Alves de Campos que também é professor de especialização, convidou Luís para participar das aulas para que ele aprimore seu nível de conhecimento, pois segundo ele, o aluno tem três pontos que chamam atenção; orgulho das origens, a educação que deveria ser normal, só que nos dias de hoje é fora deste normal e o nível de comprometimento e responsabilidade do aluno. O vice-diretor comenta também que ele é extremamente cuidadoso no trato com os pacientes, uma pessoa fantástica. “Ele é um ser humano que já deu certo e nos inspira todos os dias”.
Para o menino que ainda em Borborema ouviu de uma de suas professoras que odontologia não era para ele, porque talvez não conseguisse sequer segurar um “motorzinho”, o futuro dentista vem deixando muita gente literalmente de “boca aberta”. Ele prova que a jornada pode ser longa e os caminhos difíceis, mas é assim que constrói sua doce história.
Formado criará um novo mundo, mas pela sua formação, jamais esquecerá as raízes