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Saúde mental é tema de debate no plenário da Câmara

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Cansaço, falta de energia, tristeza, sensação de infelicidade, insônia, inapetência são alguns dos desafios que os 11,5 milhões de brasileiros quem sofrem de depressão no Brasil enfrentam. Os desencadeadores da enfermidade são muitos. Segundo o psicólogo João Paulo do Prado Rodrigues, fatores genéticos, sociais, ambientais, o consumo de substâncias químicas e, até mesmo, o uso excessivo da internet estão entre as condições que favorecem o surgimento de um quadro depressivo.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o país é o segundo das Américas e o quinto do mundo em número de casos. De 2012 a 2016, cerca de 669 mil trabalhadores foram afastados de suas atividades devido a transtornos mentais e comportamentais, a terceira causa de adoecimento entre os profissionais registrados.

Para discutir o tema bem como propor soluções para a problemática na cidade, a Câmara Municipal de Araraquara realizou, na noite da quinta-feira (27), Audiência Pública sobre Saúde Mental. Convocado pelo vice-presidente da Câmara e vereador Edio Lopes (PT), o debate contou com a participação de profissionais e pesquisadores da área, de representantes da sociedade civil e do vereador Rafael de Angeli (PSDB).

No ano de 2016, 234 pessoas foram internadas por causa de transtornos mentais e comportamentais e seis mortes foram notificadas em Araraquara. Enquanto que, nos últimos seis anos, mais de três mil pessoas foram afastadas de seus postos de trabalho. Segundo o Coordenador Executivo da Assistência Especializada, Edison Rodrigues Filho, ainda há muitos casos que não são notificados e, atualmente, a referência utilizada para investigação sobre a situação da saúde mental no município são os afastamentos pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). “ Ainda que menores quando comparados a outras comorbidades, como doenças cardiovasculares e neoplasias, são números relevantes que indicam a necessidade de debatermos o tema”.

Celular tem representado um convite para a depressão, diz professor

TRISTEZA X DEPRESSÃO

Para o professor da Universidade de Araraquara (Uniara) Alexandre Fachini, a saúde pode ser definida como o estado de razoável harmonia entre o sujeito e a sua própria realidade. “Além da definição da OMS, bastante idealizada, que pressupõe a sensação de bem-estar psicológico, biológico e social, temos que levar em consideração o contexto em que cada um vive e a capacidade dessa pessoa em conseguir lidar com as variáveis da realidade em que está inserida”. Nesse sentido, Filho reitera que é fundamental saber diferenciar o sentimento de tristeza de um quadro clínico de depressão para assegurar a qualidade de saúde mental. “Tristeza faz parte da vida, principalmente, se há um fator causal, mas quando não existe perspectiva de melhora e um prejuízo funcional é importante ficar alerta e buscar tratamento”.

QUAIS SÃO OS SINTOMAS

Rodrigues explica os principais sintomas. “É uma tristeza que transcende a tristeza diária. Uma tristeza que não deixa levantar da cama, não deixa trabalhar, não deixa comer, não deixar ter vontade de lazer, não há vontade de se relacionar. A pessoa fica isolada, perde peso, podendo chegar ao extremo ao tentar ou, até mesmo conseguir, o suicídio”.

TARJAS PRETAS NÃO SÃO A SOLUÇÃO

De acordo com a psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) Kátia Regina Comito, Araraquara é uma das cidades que mais compra e distribui ansiolíticos e antidepressivos. Porém os medicamentos, bem como a consulta aos psiquiatras não devem ser o tratamento principal. “ O que vai tratar a ansiedade e a depressão é a terapia. É a pessoa ter um espaço para refletir sobe o que está ocorrendo no dia a dia dela e o que ela está fazendo nessas situações”, pontua. A médica ainda reitera que o bate-papo com os amigos, a prática de atividades físicas e o contato com a cultura são benéficos para o tratamento.

MAL DO SÉCULO

A hipermodernidade e as suas contradições são apontadas pela doutora em Ciências Sociais Silvia Iasulaitis como uma das causas do crescimento de casos de depressão. Para ela, o “mal do século” é um problema social que tem como causas as relações de trabalho e afetivas do indivíduo. O excesso de horas trabalhadas, o curto tempo dedicado ao lazer e ao sono, a separação efêmera entre trabalho e casa, o demasiado tempo gasto nos extensos deslocamentos e no transporte público precário são indicados pela professora como causas que contribuem para o desenvolvimento desses transtornos. Ela ainda reitera que o Brasil é o país com o menor índice de confiança interpessoal na América Latina. “Isso significa que as pessoas cada vez menos confiam nas outras. As pessoas estão extremamente desconfiadas e também fechadas no sentido de conversar. Essa falta de conversa com o outro prejudica e muito no tratamento da depressão e da ansiedade. Muitas vezes, a pessoa até desconfia de que está com um transtorno, mas não vai se autodiagnosticar. Ela precisaria de um apoio social para que alguém a incentivasse a procurar ajuda”.

Silvia ainda destaca que, do ponto de vista das políticas públicas, é necessário tratar o tema de forma transversal junto com as secretarias adjacentes como as de Esporte e Lazer, de Educação, dentre outras. Após o debate, o vereador Edio Lopes destacou que a ideia é unir forças para mitigar os danos causados pela depressão. “Em breve, nos reuniremos com o corpo técnico que atua na área da saúde mental no município para entender os desafios a serem enfrentados. A expectativa é de que depois consigamos fazer essa conexão com as demais Secretarias”.

Também participou da Audiência o Coordenador Auxiliar do curso de Psicologia da Universidade Paulista (UNIP) em Araraquara, Oliver Zancul Prado.

ATENDIMENTO EM ARARAQUARA

Se você desconfia que está com depressão, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima. Após a triagem, você será redirecionado para o atendimento especializado. Em casos de crise, ligue 192 e acione o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Você pode procurar também a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da sua região ou ao centro de Atenção Psicossocial (CAPS II). O CAPS II fica localizado na Avenida José Ziliolli, 491- Jardim das Roseiras. O funcionamento é de segunda a sexta, das 07h30 às 18h.