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Benfica em campo: A cada jogo a torcida via um belo espetáculo

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Brasao Benfica

O Sporting Benfica era quase imbatível no concorrido futebol amador dos anos 70; daí o fato de ser tri-campeão carregando no semblante de cada um dos seus atletas, o estigma de uma paixão que nasceu no alegre palavreado do seu fundador Álvaro Fleury Fina. É inenarrável o sonho vivido por essa gente nas manhãs ou tardes de domingo. A cidade acordava diferente e adormecia com os gritos de – o Benfica é campeão!

Brasao Benfica1970, 5 de dezembro. Pouco mais das sete da noite. Um grupo de jovens está reunido no Bar do Mexerica em frente a Igreja Matriz. A águia do chafariz no meio da praça parece olhar seus filhos com tamanho zelo que, entre uma cerveja e outra discutem como vencer o Palmeiras da Vila na grande decisão do Campeonato Amador daquele ano. O jogo será no dia seguinte. Consta que enquanto os jogadores do Benfica bebiam, o time do Palmeiras estaria concentrado na Estância Uirapuru e durante aquela noite teriam sido molestados pelo buzinaço dos carros que vinham da Rua Maurício Galli. Este é um dos muitos capítulos da história que cerca o Benfica, que em 2013 comemorou 50 anos de fundação, mantendo ainda suas atividades esportivas.

ETERNAMENTENOS CORAÇÕES

Como se fosse por encanto, os clubes têm símbolos que os caracterizam. O Benfica além da águia pontuada em sua camisa, fazia o branco despontar na entrada em campo. Aqueles senhores da bola pareciam mais jovens, silenciosos nos passos encenados e nos toques que davam de maneira refinada.

O mais recente título do Campeonato Amador da Divisão Especial do Benfica foi conquistado em 6 de dezembro de 1981 diante do Palmeiras, no Estádio Municipal. O placar de 3 a 0 feito na primeira etapa com gols de Jorge Longhini, aos 24’ e aos 35’ e Luiz Roberto (Galinha), aos 44’, deram o tricampeonato alternado; as outras conquistas foram em 1970 e 1972.

Com a experiência do técnico Arnaldo AraujoZuocco, o “Cana”, Rui Júlio comandando o time no meio campo e o oportunismo do artilheiro Jorge Longhini, o Benfica administrou a segunda etapa quando o Palmeiras partiu para o ataque e criou oportunidades. Jorge aindaacertou a trave do verdão antes do apito final de Carlos Roberto Marques, o “Pezinho”. Cana escalou: Laerte, Edmilson, Marcos, Paulo e Demá; Júlio César e Rui Júlio (Vilela); Luiz Roberto, Jorge Longhini, Juninho e Zé Paulo (Picin).

O Palmeiras teve que amargar o vice-campeonato com Carlinhos, Stéfano, Pereira, Tarugo e Toninho; Amaral, Jaiminho (Zinho) e Réo; Oreca, Pemba e Joãozinho (Claudinho).

A rivalidade entre o clube da Vila Xavier e o do Carmo cedeu pausa para um gesto digno de elogios. Ao final da acirrada luta no gramado, o então presidente do Palmeiras, Sebastião Pedro Goulart, entregou o troféu de campeão ao presidente vitorioso Álvaro Fleury Fina, que retribuiua gentileza entregando o de vice para Goulart, sob aplausos dos torcedores que se confraternizavam nas arquibancadas.

O Benfica, por justiça se transformou num dos maiores clubes esportivos da cidade, não apenas pelos resultados obtidos em campo, mas acima de tudo pelo caráter dos seus dirigentes.

O ILUSTRE ATLETA

O vice-prefeito e ex-coordenador da Mobilidade Urbana, Antônio Clóvis Pinto Ferraz, o Coca, chegou ao Benfica em 1970. Antes passou pelos juvenis da ADA e Estrela e o aspirante da Ferroviária. Conquistou o título no primeiro ano de clube e também em 1972.

Benfica 1 Capa

“Tínhamos um time forte e vencemos o Palmeiras por 4 a 3 na final do Campeonato Amador de 1970. O interessante é que no sábado à noite, véspera da decisão, nos reunimos no bar do “Mexerica” e tomamos algumas cervejas, já o Palmeiras se concentrou na Estância Uirapuru. Torcedores do Benficarondaram a estância de madrugada buzinando e perturbando o sono dos rivais”, lembra humorado Coca Ferraz.

A escalação do Benfica campeão de 70, Coca Ferraz recorda de imediato: Castro, Paulo Preto, Hélio Primiano, Tiana e Tatá; Coca e Dênis; Gustinho, Liminha, Salami e Zequinha.

Na entrega das faixas, o Benfica enfrentou os profissionais da Ferroviária e apesar da goleada de 5 a 1 para os companheiros de Bazani, Coca afirma que o jogo foi equilibrado. “Pelo menos três gols que sofremos poderiam ser evitados e encaramos, sim, para valer o time profissional afeano”, recorda.

Em 1972, a festa das faixas aconteceu contra a Seleção de Profissionais do volante Dudu, do Palmeiras. “Conseguimos empatar por 2 a 2 numa partida inesquecível”, completa.

É nos encontros de quinta-feira no campo do Benfica que até hoje os antigos diretores, jogadores e torcedores ainda se reúnem para um tradicional happy-hour, lembrando os momentos que viveram felizes em nosso futebol amador.

BENFICA E O SEU PATRIMÔNIO

Enquanto clubes de futebol e sociais perdem seu patrimônio jogando fora parte da história da cidade, o Benfica se mantém altaneiro e ainda criando projetos para os próximos anos.

Um ano depois de conquistar o seu primeiro título de campeão amador na cidade, o Benfica recebeu do município uma área de quase 12 mil metros quadrados para a construção da sua praça de esportes (23/12/1971). O terreno doado estava situado entre a Napoleão Selmi Dei, Avenida Agostinho Tucci, Avenida Casemiro Peres e Rua José Marques Pinheiro Filho, hoje Vila Harmonia. No entanto, por estar enraizado no bairro do Carmo, seus diretores optaram por uma área no Quitandinha, trocando-a em maio de 1975.

Benfica

A partir daí o presidente Álvaro Fleury Fina iniciou as obras e construiu um estádio com campo de futebol (97m x 65m), alambrado, conjunto de vestiários, salão social, secretaria, residência do caseiro e muro em todo o terreno.

O presidente Sérgio Salami, que cumpre mandato até o dia 31 de dezembro de 2018,relembra com saudades os bons tempos do nosso futebol amador e das proezas do Benfica: “Temos atletas, diretores e simpatizantes em todas as regiões de Araraquara e o clube continua forte e organizado em sua casa no Quitandinha. A estrutura de campo de futebol hoje possibilita a manutenção de uma escolinha de futebol”, diz Salami.

A trajetória do Benfica é um exemplo para os clubes profissionais que não souberam manter seu patrimônio. Desde o seu acesso à Divisão Especial em 1965, quando foi campeão invicto, o clube colecionou títulos: tri-campeão amador da cidade, cinco vezes campeão juvenil (período 73/77), campeão invicto de Futsal em 73, além de outras conquistas memoráveis. Também foi escola para revelar atletas: Careca que chegou à Seleção Brasileira, Paulo César Oliveira (Ferroviária, Guarani e técnico da seleção brasileira de Futsal), Tatinho, Palhares e Zequinha (Ferroviária), Marinho Rã, Rui Júlio e outros. Um clube que é exemplo pela seriedade dos seus diretores.