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Guido Michetti: A vida de um homem muito forte

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Quando aquele jovenzinho de 14 anos, imigrante italiano, desembarcou no Porto de Santos no começo do século XX, deve ter pensado que entre as lágrimas choradas pela pátria mãe, estavam escritas as esperanças de um novo mundo. Então ele ajeitou seus cabelos queimados num boné trazido da província De Lucca, aprumou os passos e de cabeça erguida ouviu o que o velho pai lhe disse: “Um homem, meu filho, deve ser espirituoso e forte”. E assim, foi sua vida. Espirituosa e forte. Essa foi a descrição do jornalista Ivan Roberto Peroni, na edição do jornal O Diário, de 01 de junho de 1982.

Guido Michetti nasceu em   Pieve di Camaiore, província De Lucca, na Itália, no dia 8 de setembro de 1894. Filho de José   Michetti e de Adele Benassi, sendo seus irmãos Domingos, Santo, Baptista, Antônio, Ignez, Armando e Assumpta. Ele fêz os primeiros estudos em seu país de origem.

Em 1910, quando chegou ao Brasil juntamente com os familiares, dirigiu-se para a pequena Boa Esperança do Sul sua primeira cidade, ali semearam a terra e viram nascer os cafezais. Pouco mais tarde, dentro da técnica trazida da Itália, ele e mais dois irmãos e um cunhado fizeram surgir as primeiras casas dos colonos. Tornou-se conhecido e respeitado, inteligente, calmo nas suas palavras e agressivo nas suas virtudes. Foi crescendo e sentiu que Boa Esperança do Sul já era pequena demais para suas atividades. Veio então para Araraquara. Casou-se em 20 de julho de 1917, com Adalgisa Delbon, filha de Máximo Delbon e de Clementa Amorosa Delbon, imigrantes italianos e também trabalhadores da lavoura do café. O casamento foi realizado na Fazenda Água Azul, onde o casal continuou morando até o ano de 1922. Do casamento de Guido e Adalgisa nasceram os filhos: Bento, casado com Ignez de Oliveira Michetti; Ermelinda, casada com Vesto Guitti; Vicente casado com Maria Santelli Michetti; Edel que foi casado com Hallis de Paula Michetti e Ignez, que foi casada com Francisco Rossi. Sua descendência hoje completa-se com inúmeros netos, bisnetos e trinetos.

Em 1945, o lavrador que viveu em Boa Esperança do Sul, o pedreiro que construiu as casas dos colonos da Fazenda Água Azul, queria mesmo ser empreiteiro de obras e assim conseguiu a licença para ser construtor, habilidade essa que lhe era inata. Ele implantou o escritório de construção Guido Michetti, tendo como engenheiro responsável pela construtora o Dr. Boaventura Gravina.

Juntou-se inicialmente ao filho Vi-cente e montaram uma pequena loja de materiais de construção, a qual denominaram Casa Michetti Materiais p/ Construção e anexo fundaram a fábrica de ladrilhos Michetti, localizadas na Av. Dom Pedro II entre as ruas Expedicionários do Brasil e Humaitá – hoje BVM Materiais p/ Construção. Dessa atividade, fez nascer prédios importantes em nossa cidade: Dias Martins, Usinas Santa Cruz e Maringá, Santa Casa de Misericórdia, Escola de Comércio do Professor Borges e outras ainda hoje firmes em nosso solo.

Guido Michetti indagado um dia da razão de seu êxito, apenas respondeu “Trabalho e mais trabalho, nada mais”. Trabalhador o foi durante toda existência. A vida para ele não foi feita de bonança. Teve muitos sofrimentos. Obstáculos sem conta se antepuseram à luta que travava, procurando sempre crescer para oferecer a sua gente melhores dias.

Sua esposa, Adalgisa, colaborou muito com o seu marido a todo momento. A cidade muito deve a esse homem que, aqui um dia chegou, ficou e construiu família.

Guido Michetti, no início da década de 80, já idoso, voltou a Itália, conduzido por familiares para rever uma vez mais a terra que o viu nascer. Faleceu em sua residência, em 30 de maio de 1982 aos 87 anos; Adalgisa, que o precedeu na eternidade, faleceu em 6 de março de 1976.

Seu nome está na rua através do decreto n º 4670, de 6 de julho de 1982, que denomina Rua Guido Michetti, a via pública conhecida por Rua 11 do loteamento Núcleo Residencial Yolanda Ópice, que tem o seu início na “Avenida H” e seu término na Avenida “Waldomiro Blund”. Um nome querido e respeitado.