Lilica é uma cadela de 13 anos da raça maltês. Desde filhote, nunca apresentou problemas de saúde. Em um fim de semana pós-Dia das Mães, ela foi para o fundo de casa com um de seus tutores e começou a tremer e babar no chão.
Como os tutores já haviam perdido um de seus cachorros por ataque cardíaco, logo pensaram que o mesmo pudesse estar acontecendo com a maltês. No entanto, ao correrem para o veterinário, receberam outra resposta: Lilica havia tido uma convulsão.
Segundo Fernanda Távora, médica veterinária especializada em neurologia veterinária, as crises epiléticas, ou crises convulsivas, são distúrbios neurológicos que acontecem com frequência nos pets.
De acordo com a médica veterinária, estas crises podem acontecer em todas as idades. “Se for uma anomalia congênita, geralmente acontece com menos de um ano de vida. Se for uma alteração degenerativa como a Síndrome da Disfunção Cognitiva, conhecida como Alzheimer, ou mesmo uma neoplasia cerebral, ocorre em animal idoso”, explica.
Algumas crises podem ser mais violentas do que as outras, abalando emocionalmente alguns tutores. Fernanda reforça que obter um diagnóstico preciso é a primeira etapa para o controle correto, e que uma crise “nunca será um diagnóstico e, sim, uma manifestação clínica”.
RAÇAS PRÉ-DISPOSTAS
De acordo com Fernanda, as raças com maior pré-disposição à epilepsia são:
- Beagle;
- Border collie;
- Boxer;
- Cocker spaniel;
- Collie;
- Dachshund;
- Dálmata;
- Golden retriever;
- Husky siberiano.
Apesar de serem as principais, a condição pode atingir todas as raças caninas e felinas. Para identificar as causas das crises, é preciso um trabalho em equipe entre veterinário e tutor.
“Uma força-tarefa para entender as possíveis causas que podem ser desde uma doença infecciosa, malformações congênitas, contato com agentes tóxicos, idiopáticas (sem causa definida), e até um tumor cerebral”, diz.
Além das raças, existe também uma prevalência de fatores precipitantes de convulsão, feita para ajudar os tutores na rotina e que podem ajudar a evitar as crises e, consequentemente, a melhorar a qualidade de vida do pet. Confira:
- Ciclo estral;
- Contato com fêmeas em cio;
- Visitas em casa;
- Mudança na rotina;
- Lugares desconhecidos;
- Sono alterado;
- Mudança de clima;
- Esquecimento de medicação;
- Brincadeiras com outros cães;
- Medo;
- Exercício intenso;
- Doenças;
- Luzes oscilantes;
- Dor;
- Mudança alimentar.
DIAGNÓSTICOS
A veterinária explica que o diagnóstico depende de diversos fatores, como histórico detalhado com vídeos da crise, exame físico neurológico completo, avaliação laboratorial, coleta do líquido cerebrospinal com envio da amostra para identificação do agente causal, exames de imagem avançado como tomografia computadorizada e ressonância magnética e eletroencefalograma.
Na rotina da profissional, os principais episódios em cães são naqueles que nasceram com malformações, como a hidrocefalia, ou os que foram infectados pelo vírus da cinomose canina, pacientes idosos com tumores encefálicos e convulsão de causa idiopática. Já nos gatos, as principais causas são doenças infectocontagiosas e traumas.
Ao ver o pet tendo uma crise, é natural que os tutores se sintam nervosos. No entanto, existem algumas recomendações sobre como agir em momentos como esse. Manter a calma é o principal deles.
“A família precisa receber orientação do que fazer durante uma crise. Sempre explico para nunca colocar a mão na boca do animal a fim de segurar a língua, porque, além de não existir o risco de engasgo, o dono corre o risco de ser mordido. Se possível, deitar o animal em decúbito lateral e proteger a cabeça com travesseiros”, afirma a profissional.
“É importante ressaltar que diversos distúrbios podem ser confundidos com crises, são eles: síncope, dor, distúrbios de movimento como narcolepsia, miastenia gravis e transtornos comportamentais”, completa.
CUIDADOS
Fernanda explica que o objetivo de um tratamento é reduzir a frequência e a gravidade das crises convulsivas, evitando comprometer a qualidade de vida do animal e da família, e que ele depende da causa primária, baseando-se na terapia antiepiléptica.
“Se um animal com hidrocefalia receber apenas o medicamento antiepiléptico, não será o suficiente, porque é preciso associar outros fármacos para reduzir a quantidade de líquor (líquido cerebrospinal)”, diz.
A profissional alerta para a frequência das crises, pois, quanto maior o número, mais predisposto o paciente estará para desenvolver crises agrupadas, implicando em danos cerebrais que podem ser irreversíveis e até com risco de morte.
Para que a terapia com o pet tenha sucesso, é preciso se atentar a vários fatores. “No entanto, o bom controle das crises convulsivas permite que o animal e família obtenham qualidade de vida”, finaliza. (G1)