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… Pra ver a banda passar, cantando coisas de amor

A Banda do 13° Batalhão da Polícia Militar é um dos maiores orgulhos da nossa cidade, em todos os tempos; sempre nos desfiles comemorativos ao aniversário de Araraquara, a cidade parava para ver na rua – a banda passar.

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O 147° aniversário da cidade (22/08/1963), a banda descendo a Rua 9 de Julho; era também o primeiro aniversário da banda

Por Juraci Brandão de Paula

A BRM, Banda Regimental de Música do 13º Batalhão de Polícia Militar do Interior do Estado de São Paulo, sediado em Araraquara, foi criada em 1963, época em que a denominação da corporação ainda era Força Pública. O comandante era o Ten. Cel. Adérito Augusto Ramos e o seu subcomandante, Major Domício da Silveira. Este último desempenhou importante papel na criação da banda.

Como todas as BRMs, ela foi formada, mantida e integrada ao CM – Corpo Musical (sediado na capital paulista fundado em 1857), com a missão de participar em honras militares, solenidades cívicas e apresentações em geral. Para dirigir a banda, o então 1º Sargento Músico Antônio de Antônio Sobrinho foi transferido da BRM de Bauru para a recém criada BRM de Araraquara e iniciou os trabalhos para conseguir transferências de músicos tanto do Corpo Musical como de outras bandas dos demais batalhões do interior. Ainda vieram integrar à banda, recrutas formados na Escola de Recrutas do batalhão, em 1963 e 1964 e que já eram músicos. Dessa maneira, o primeiro Mestre Regente da banda, agora Sub Tenente Sobrinho, conseguiu completar o efetivo que em 64, tinha em cada naipe de instrumentos os seguintes músicos: PISTONS: 3º Sgt. Amir Spínola, 3º Sgt. Nivaldo Dal Ri, Sd. Gilberto Antônio Lopes, Cb. Ariovaldo Spínola e Sd. Alcebíades Spínola Filho. PALHETAS: Clarinetas – 2º Sgt. Valença, 3º Sgt. Maia, 2º Sgt. Petrarca, Sd. Omir Sebastião Rodrigues, Sd. José Maria e Sd. Pedro Carmelo. Requinta – Sd. Bento Luiz Nogueira. Saxofones Tenor–2° Sgt. Afonso Ruiz Chacon, Sd. Maurício. TROMBONES: Sd. Domingos Brandino, Sd. João Rosim Filho e Sd. Vicente Balbino Filho. BOMBARDINOS: Sd. Délio de Souza Oliveira e Sd. Pedro Pollis. SAX DE HARMONIA: Sd. Melchesedec de Mello Coelho, Sd. Ivo da Silva, Sd. Eleutério Martins e Sd. José Pedroso. BAIXOS TUBA: Sd. Mena, Sd. Dorival de Souza e Sd. Juraci Brandão de Paula. BATERIA: Caixas – Sd. Luiz Gonzaga da Silva e Sd. Arnaldo Delboni. Bombo – Sd. Antônio Ramos. Pratos – Sd. Renato Dias do Prado e Sd. José Demerval Cordeiro.

Banda do 13° Batalhão da Polícia Militar no aniversário de Araraquara em 1964

Nos anos que se seguiram, nosso repertório se tornou grande e diversificado, passando por várias músicas eruditas, valsas vienenses, marchas e dobrados, hinos pátrios, além de músicas populares de diversos ritmos, como chorinhos, maxixes, sambas, boleros, tangos e valsas. O aprimoramento técnico e entrosamento desses músicos e de outros que foram incorporados, chegou a ponto de gerar comunicação até pelo simples olhar. O efetivo também aumentou de tal forma, que foi possível em 1965 montar também uma orquestra e um septeto para bailes.

Logo conseguimos destaque entre as bandas da Polícia Militar. Nos concursos anuais, promovido pelo Corpo Musical, obtínhamos sempre ótima classificação, permanecendo entre as primeiras colocadas.

Baile dos Coloreds no antigo Teatro Municipal, com as 10 Mais Elegantes de 1965, animação Amir Spíndola e Sua Orquestra. Trata-se do último baile da história do teatro.

A CRISE

Para isso, além da qualidade musical e empenho do Mestre Regente e dos músicos, contávamos também com o importante apoio dos Comandantes que consideravam a banda o “cartão de visitas do Batalhão”, uma espécie de Relações Públicas. Neste período que engloba os anos 60 e 70, era comum os ensaios serem frequentados por músicos, compositores e simpatizantes. As retretas aos domingos, amplamente divulgadas, tinham sempre grande número de apreciadores. Foram anos áureos.

Conjunto Sete Bossas: João Tocantis, Demercil de Souza Oliveira (Biroca), Alcebíades Spínola Filho (Bidinho), Luiz Gonzaga da Silva (Zaga), Pedro Pollis (Zarur), Marcos e Juraci Brandão de Paula, na Nipo em 1965

Com a extinção do quadro de músicos, as bandas de todas as unidades da Polícia Militar entraram em crise e perderam muito espaço. Com o efetivo reduzido, dividem suas atividades com o policiamento de rua. Em Araraquara, no 13º BPM/I, atualmente sob o comando do Ten. Cel. Adalberto José Ferreira, a banda que é dirigida pelo 1º Sgt.  Luis Fabiano Ribeiro conta como número insuficiente de apenas 10 músicos.

Amir Spínola e Sua Orquestra em 1965 na Nipo Brasileira: Zaga, Marcos, Nivaldo Dal-Ri, Amir Spínola (Mizinho), Ariovaldo Spínola (Tio Vado), Délio Souza Oliveira, Pedrão, Jura, Antônio Ramos, Arnaldo Delboni, Tocantis, Biroca, Bidinho, José Maria e Bento Luiz Nogueira

RELAÇÕES PÚBLICAS

Em 1971, Araraquara sediou o “Torneio de Consolação” do VI Campeonato Mundial Feminino de Basquetebol. As seis equipes que não se classificaram para o turno final, vieram a nossa cidade para disputar do 8º ao 13° lugares, na classificação final entre todas as seleções que desembarcaram no Brasil e que também disputavam concomitantemente em São Paulo. Então, aqui estavam as seleções dos Estados Unidos, Austrália, Canadá, Argentina, Equador e Madagascar.

O reconhecimento pelo talento dos músicos era constante

O torneio organizado pela Federação Internacional de Basquetebol e Confederação Brasileira de Basquetebol foi disputado no recém inaugurado, Ginásio de Esportes Castelo Branco – Gigantão, de 22 a 27 de maio. Nessa circunstância, coube à Banda do 13º BPM/I, executar antes dos jogos, o hino nacional das equipes. Tínhamos todas as partituras, exceção feita à Madagascar, devido a sua recente independência da França em 1960.

Então o Mestre Regente, Subten. Sobrinho, escalou os músicos 3º Sgt. Etevaldo Barbosa Adorno, Cb. PedroPollis e eu (3º Sgt. Juraci Brandão de Paula), para conseguirmos o hino.

Fomos então ao Hotel Uirapuru, na avenida Portugal, onde estava hospedada a delegação malgaxe e com o meu inglês de principiante descobrimos que eles também não tinham as partituras. Entretanto um deles sabia tocar piano, o que nos ajudou muito. Fomos todos até a Rádio Cultura, ainda na Av. Espanha, e o membro da comitiva malgaxe tocou a melodia do hino no piano cedido pela emissora. Ouvimos, escrevemos a parte e de volta ao quartel fizemos a distribuição de vozes, baixo e harmonia.

Deu certo e ainda naquela mesma noite tocamos o hino antes do jogo da equipe de Madagascar. Então, durante o torneio, as atletas e toda a delegação malgaxe puderam ouvir pela primeiríssima vez o hino do seu país em terras estrangeiras, coisa que, segundo eles, não aconteceu em outras cidades onde jogaram.

Ficaram todos muito emocionados e agradecidos. Estabelecemos então um laço de amizade e durante a semana que estiveram em Araraquara, era comum a presença dos alegres e simpáticos membros da delegação de Madagascar nos nossos ensaios.

Chegavam no Corpo da Guarda do Quartel e nem se identificavam mais. Entravam e iam direto para a sala da BRM. Já eram considerados da casa.

A Banda do 13° BPMI era chamada para se apresentar em todo o interior

BENEVOLÊNCIA

Fomos tocar na cidade de Jales, e lá, o 1º Sgt. Hernani encontrou numa praça, uma jovem chorando desesperada. A garota havia sido colocada para fora de casa porque seus pais não aceitavam sua condição de solteira grávida. O Sgt. Hernani não teve dúvidas. Trouxe a jovem para a sua casa em Araraquara, arcando com todas as despesas dos exames pré-natal e alimentação. Ao mesmo tempo negociava com a família, o seu retorno. Após o parto, os pais, agora também avós, vieram buscara filha e a criança. Poucos na banda ficaram sabendo. Não é fácil ver coisas como essa . . .

TEM GATO, OU MELHOR, SABÃO NA TUBA

Sgt. Juraci Brandão de Paula e o Cb. Antônio Joaquim Filho, na sala de ensaio da BRM

Era aniversário de Ribeirão Bonito. Pela manhã tocamos no desfile, guardamos os instrumentos num armazém típico de secos & molhados e fomos almoçar. À tarde, no Estádio Municipal, durante uma apresentação do canil do Batalhão, fizemos o fundo musical, como de costume. Em seguida houve jogo de futebol. À noite fizemos uma retreta na praça e retornamos para Araraquara. Logo percebi que a sonoridade do meu instrumento não era a mesma, mas acabei me acostumando. Um ou dois meses depois, estávamos nos preparando para o desfile de 22 de agosto, aniversário de Araraquara. Então tirei a campana, os pistos e molas do instrumento, para limpeza, lubrificação e posterior polimento. Enchi suas curvas de água, chacoalhava bastante e jogava a água fora. Na segunda vez que repeti o processo, notei que a agua saiu com alguma espuma. Nas vezes seguintes aumentava a espuma, até que saiu uma barra de sabão de cinza caseiro. Algum amigo da onça gozador colocou aquele sabão no meu instrumento lá naquele armazém em Ribeirão Bonito. É claro que não abri a boca.

TALHERES, COPOS & CIA

Havíamos terminado um baile na Nipo, com o Amir Spínola e Sua Orquestra. Era o primeiro baile da orquestra e também o primeiro baile da gestão do Mario Takeshi Takatsui (Mário Fuji), o mais jovem presidente da Nipo, eleito com 19 anos de idade. Fim de baile, no palco só estávamos o Pedrão (baixo) e eu (guitarra), acabando de guardar os respectivos instrumentos e aparelhos. Os demais músicos já estavam saindo do clube, quando um entre eles gritou: “Pedrão, por favor pegue o estojo do tenor que ficou no palco”. Quando o Pedrão tentou levantar o estojo, intencionalmente destravado, ele se abriu e espalhou pelo palco copos, talheres e outros bichos ferozes. O garçom que estava próximo ao palco não disse uma palavra. Mas nem precisava. Bastou seu olhar de espanto e reprovação. O Pedrão e eu muito envergonhados, não sabíamos onde enfiar a cara. Só me lembro dele com cara de tacho repetindo seguidamente: “Esse estojo não é meu… esse estojo não é meu”. E o pessoal da orquestra se matando de rir na frente do clube. Para eles, uma tremenda festa. Para nós, baita fria. Durma com um barulho desse…

Essas experiências vividas foram contadas pelo amigo Ten. Pedro Polis e eu, na sua casa, e não faltaram os petiscos e bebidas servidos pela sua gentil esposa Geni.

Um reencontro na sede do Batalhão 56 anos depois: Ten. Pollis, Ten. Gonzaga, Sgt. Juraci (nosso redator), Ten. Melchisedec e 1° Sgt. Ribeiro (atual regente da banda); na foto ao lado, o Ten. Cel. Adalberto José Ferreira e a esposa Ana Lúcia Vancetto Ferreira, ele comandante do 13° BPM/I