Na semana que marca a estreia da Ferroviária na Copa Libertadores da América, em Quito, no Equador, a RCIA Araraquara inicia, nesta terça-feira, uma série de três entrevistas envolvendo personagens do título das Guerreiras Grenás na edição 2015, quando bateram o Colo-Colo na decisão por 3 a 1, no lendário Estádio Atanasio Girardot, em Medelín, na Colômbia.
A primeira entrevistada da série é a lateral-direita e capitã do título grená, Daiane, que atualmente joga no futebol português e defende as cores do Benfica.
E não foi apenas o título da Libertadores em que Daiane teve o privilégio de levantar. A Guerreira Grená levantou também a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro de 2014, sendo a Ferroviária o único clube até hoje a conquistar dois títulos nacionais no mesmo ano realizados pela CBF.
Mesmo longe de Araraquara, a jogadora segue acompanhando os jogos da Locomotiva, tendo o fuso horário como um obstáculo, mas conseguiu assistir a conquista do bicampeonato brasileiro, diante do Corinthians.
“Acompanhei a maioria dos jogos, alguns não por causa do fuso horário, mas sempre que dava, estava acompanhando. Na final, estávamos voltando de um jogo-treino e acompanhei o jogo pelo celular. Fiz algumas meninas do time daqui torcer pela Ferrinha (risos). No último pênalti da Géssica, foi a maior festa no ônibus. Fiquei muito feliz pela conquista”, contou.
A conquista de 2015 ficou marcada também pela superação. Naquele ano, boa parte do elenco foi desmanchado pela implementação da Seleção Brasileira Permanente, feita pela CBF.
O clube acabou perdendo sete jogadoras e a estrutura do time não foi a mesma no primeiro semestre daquele ano, sendo eliminado no Paulista, ficou na primeira fase do Brasileiro e perdeu a decisão da Copa do Brasil para o Kindermann.
Para a disputa da Libertadores, o clube precisou recorrer até para jogadoras que estavam jogando futsal para completar o elenco que foi para a Colômbia.
“Aquele ano ficou marcado tanto na minha carreira e tenho certeza que para todos que estiveram presentes naquele título. Foi um ano muito difícil, com problemas extracampo, eliminações em competições, parecia que seria um ano perdido. Mas, sabíamos que a Libertadores era a nossa chance de salvar o ano. Apesar de todas dificuldades, nós estávamos totalmente unidas. Isso foi fundamental. Jogamos cada jogo como “o jogo da vida” e o resultado apareceu. A imagem de eu levantando a taça é uma das recordações que mais me marcaram em minha carreira”, destaca a jogadora.
Hoje, com 33 anos, a são-carlense fala sobre a dificuldade que é disputar a Libertadores, ainda mais jogando contra equipes “desconhecidas” na visão de quem acompanha o futebol feminino e do curto período de um jogo para outro.
Diferente do que vivenciou em terras colombianas, Ferroviária e Corinthians, outro participante brasileiro na competição, enfrentarão um outro adversário ao mesmo tempo em seus jogos: a altitude.
“Libertadores é uma competição muto difícil. Acredito que a atitude pode influenciar, mas além disso, jogos com curto prazo de descanso de um para o outro e a qualidade da arbitragem, que para mim deixa a desejar, são outros fatores. A parte emocional conta muito nessa hora”, lembra.
FERROVIÁRIA OU CORINTHIANS?
Além de ter levantando a Libertadores com a camisa grená, Daiane esteve presente também na conquista corintiana de 2017, novamente contra o Colo Colo, vencida nos pênaltis.
Mesmo passando por bons momentos com a camisa alvinegra, a experiente jogadora não revelou de fato a sua torcida, mas não escondeu o carinho maior pelo clube de Araraquara.
“Torço para que as duas equipes façam uma grande Libertadores. Torço pelo futebol brasileiro cada vez mais evoluir. Claro que pela Ferrinha o sentimento é diferente por tudo que já conquistei aí e vivenciei”, revela.
TATIELE SILVEIRA
Destino ou não, Daiane e Tatiele Silveira já se cruzaram no mundo da bola, mas por outro time, o Internacional, durante a disputa do Brasileiro A-2 2018.
Foram cerca de três meses de trabalho, mas a lateral aprendeu muito com a então treinadora Colorada que viria a se tornar a primeira mulher a comandar a conquista de um time dentro do Brasileiro Feminino com a cor grená. E acredita em um futuro da professora na seleção brasileira.
“A Tati, pra mim, é uma excelente profissional. A forma com que ela vive o futebol é admirável, ela respira e ama o esporte. Isso contagia quem está ao seu lado. Mesmo trabalhando apenas três meses com ela, aprendi muito, em todos os sentidos. Fizemos um grande trabalho, mas infelizmente não conseguimos atingir nosso objetivo. Nada apaga o grande trabalho que foi feito. Acredito muito que ela terá uma carreira brilhante pela frente e que um dia será técnica da seleção brasileira”, destaca.
Sobre as dicas que poderia passar à treinadora, Daiane acredita que ela esteja pronta para a competição e que a energia positiva de todos fará a diferença.
“Tenho certeza que a Tati está super preparada para essa competição. A minha dica na verdade seria um “Boa sorte”, e que ela saiba que contará com a torcida de milhares de pessoas”, comemora.
E EM PORTUGAL, MAIS TÍTULOS
Um pouco mais de um ano na Europa, Daiane já faturou três taças com a camisa d’Os Encarnados: a Taça de Portugal, Supertaça Feminina e a segunda divisão do Campeonato Português.
De quebra, a equipe conquistou uma marca impressionante na temporada, marcando 402 gols em apenas 30 jogos.
“Estou super adaptada ao clube e ao país, e conquistamos estes três títulos. Tem sido tudo maravilhoso. Hoje, meu pensamento é somente estar aqui. Estou feliz, mas talvez, quem sabe algum dia eu retorno? Quem sabe pra Ferrinha? (risos)”, conta.
A Libertadores acontece entre os dias 11 e 27 de outubro, em Quito, no Equador. A Ferroviária está no Grupo B, ao lado de Deportivo Cuenca-EQU, Estudiantes de Caracas-VEN e Mundo Futuro-BOL.
O clube estreia nesta sexta-feira (11), às 21h30 (horário de Brasília), diante do Mundo Futuro-BOL, no estádio Casablanca.