Home Cidade

Dr. Emerson Carlos: Mãos que curam e coração na agulha da solidariedade

Os tapetes que o médico e os amigos fizeram, entre outros itens, estarão à venda no Bazar Beneficente do Lar Otoniel de Camargo que acontece neste sábado (28) e domingo (29), em sua sede na Vila Xavier

2413
Para quem estava acostumado a correria, fazer tapetes é praticamente um calmante

Menino simples, de família humilde criado no bairro do São José em Araraquara, o médico anestesista Emerson Carlos, se formou em medicina com muito esforço e faz jus à carreira que abraçou “salvar vidas”, seja a dos outros ou a sua.

Há cinco anos Emerson descobriu naturalmente um problema de saúde severo, fez o tratamento e deu tudo certo, passado quatro anos, teve uma recidiva de problemas cardíacos (Coronariopatia – obstrução coronária severa), onde ele já tem cinco stents (Os stents são utilizados para restaurarem o fluxo sanguíneo na artéria coronária e trazerem um ritmo quase normal).

Os bancos ganham cobertura combinando com o tapete

Ocorre que desta última vez que o médico foi fazer a restauração, deu um problema que o deixou cinco dias na UTI do Hospital São Paulo – Unimed.

“Foi um período que eu pensei muito na vida, embora pense diariamente, afinal vejo nascimentos todos os dias, hoje mesmo nasceu um Heitor. Mas eu vejo as pessoas morrerem também e o que me pega mais nessa história e saber o que foi que você fez na vida, aproveitou, curtiu, veio ser feliz ou fez a sua parte em algumas coisas? Eu estou me esforçando para que isso aconteça de verdade”, ressalta ele.

Garrafas são transformadas em copos

E nessa linha o médico tem feito muitas coisas, como “sou conselheiro fiscal daqui, ajudo de lá, diretor da Unimed e da Maternidade Gota de Leite, trabalho no serviço público desde 2000, estou diretor presidente do Lar Otoniel de Camargo, substituindo Inês Bombarda que ficou no cargo nos últimos 37 anos, e eu estou há cinco anos, mas fui vice-presidente por 15 anos, mas já tenho um envolvimento com a entidade há 20 anos”, afirma

Os tapetes de estrelas fazem sucesso no bazar do Lar

CROCHÊ

“Em 14 de outubro, saí do hospital, fiquei quase dois meses em casa e precisa fazer alguma coisa, meu tempo útil não estava legal, embora goste de fazer trabalhos com madeira, mas devido aos remédios, não dava para mexer com as ferramentas. Uma de minhas cunhadas a Helena me mandou fazer tricô, eu disse, nem pensar. Vai fazer crochê, nem pensar novamente eu disse, não tenho essas habilidades, e ela insistia para que eu fizesse para encontrar paciência para enfrentar a recuperação, já que sempre fui muito ativo e resolvia várias coisas ao mesmo tempo. Não contente com minhas negativas ela me mandou um vídeo, onde estava escrito “Tapete Fácil”, assisti o vídeo no Youtube, pensei um pouco, fui até uma loja e perguntei à vendedora – quero fazer um tapete, o que eu preciso? A moça riu, e me disse, escolhe um barbante e agulha e assim foi, virou uma bola de neve”.

Sousplat em cores natalinas, podem enfeitar as mesas das ceias dos visitantes

Ele conta ainda que o primeiro tapete que fez, está guardado em sua casa como de estimação e ri ao contar que ficou uma porcaria. “Ficou horrível, e no dia do meu aniversário há um ano, eu mostrei para quem foi me cumprimentar, olha terminei, consegui fazer um, para se ter idéia era um tapete quadrado, mas ele ficou oval, ficou muito ruim”, ri ele.

Depois que ele fez o segundo e o terceiro, começou a fazer tapetes para passar o tempo, já que tinha que ficar em casa. Mas quando se recuperou e voltou a trabalhar, não parou de fazer. A família montou então um grupo de whatsApp para falar de crochê, e cada um que fazia algo, colocava uma foto. E ele continuou, quando percebeu já estava fazendo um tapete por semana.

Hoje são quase 70 tapetes feitos pelo médico,“hoje mesmo entre uma cirurgia e outra eu fiz um Sousplat”, se diverte ele.

Mais de 200 itens estarão à venda, onde o dinheiro será revertido ao Lar

“Eu não preciso de mais nada na minha vida, Deus já me deu muito e nem era o que eu tinha pedido, sou de origem humilde, nada do que tenho na minha vida eu imaginei lá atrás, e estou tentando viver com esta vida e ajudando como posso”. afirmou

Dois anos depois de formado pela Faculdade de Medicina de Botucatu (UNESP), já trabalhando em Araraquara, Emerson conta que participou de uma ressuscitação de um recém-nascido, dado como morto na barrigada da mãe, e cesárea de emergência, pois a criança não tinha batimentos. “Dr. Gabriel era o obstetra, tirou o neném sem vida da barriga da mãe, eu tirei da mão dele e as manobras saíram automáticas, somos treinados, e a criança voltou. Depois de um tempo essa mãe me achou e veio trazer a criança para eu ver, e disse que ela estava viva por minha causa. Fiz então uma carta aos meus professores da faculdade, perguntando se eles tinham noção, que o treinamento dado por eles espalhava essa emoção. Tenho muito claro na mente, que eu posso ter vindo nesta vida, só para esta criança não morrer, e se foi já estou feliz, e se não foi estou feliz também. O acordo que fiz com Deus seja ele qual for, estou tentando cumprir. Então, nada disso eu preciso, além de tentar ficar vivo”, diz ele emocionado.

Amigos produziram muitas necessaire para ajudar no bazar

Afirma ainda que tudo que puder fazer será revertido para outras causas, pois isso acabou virando uma corrente, de pessoas que souberam o que estava acontecendo e enviaram para o bazar beneficente do Lar, mais de 100 guardanapos, Toalhas bordadas entre outras coisas. “Gente que eu nem sabia que tinham essas habilidades começaram a enviar seus trabalhos para o bazar na semana passada, então temos mais de 200 itens, que vai ajudar a pagar o 13° salário dos funcionários e manter o Lar aberto no mês de dezembro. Eu estou feliz porque cada peça que está à venda neste bazar tem uma história”.

Amigos de Emerson também tem guardado garrafas de cerveja Long Neck, pois ele também aprendeu a fazer delas copos, que serão vendidos no bazar em cestas de madeiras com alças de crochê.

O lar tem hoje 15 idosos morando no local, nenhum deles foi contaminado pela covid-19

PRESIDENTE DO LAR OTONIEL DE CAMARGO

Emerson conta que D. Inês levantou literalmente parte do novo prédio com tijolos, deixando um legado para que ele termine, hoje ela tem 80 anos e Emerson diz que ela deu sua vida em prol do Lar.

O novo prédio terá 40 acomodações

A construção da nova parte do Lar Otoniel de Camargo começou em 13 de janeiro de 2019, mas tudo parou em março de 2020 devido a pandemia do coronavírus. Um dos motivos também seria porque as doações pararam de chegar. “Nós entendemos o porque elas pararam de vir, alguns empresários passaram a colaborar no combate a pandemia e isso também nos ajudou. Ao invés de mandarem dinheiro para a obra, nos ajudam com a compra de insumos para o lar”, diz Emerson

Ele conta ainda que antes da pandemia o Lar promovia alguns eventos para arrecadar fundos todos os domingos tinha bailinhos e bingo pelo menos uma vez ao mês. Agora com o coronavírus, a entidade ficou sem conseguir arrecadar recursos e tem um déficit mensal de cerca de R$ 10 mil reais, para pagar os 13 funcionários que trabalham no Lar.

Como presidente da entidade Emerson optou pelo transporte por aplicativo ou paga o combustível de um dos funcionários para que traga para o trabalho quem trabalha na casa, evitando assim contato deles com outras pessoas no transporte público. Vale ressaltar que não houve nenhum caso da covid-19 no Otoniel de Camargo que no momento abriga 15 idosos, mas tem capacidade para 23 pessoas.

Ele testa os funcionários todos os meses e ressalta que a UPA da Vila Xavier é uma grande parceira da entidade. Também a Mastermed tem o asilo como área protegida, sempre estão ajudando quando o lar necessita e ele afirma que nunca pagou um centavo, assim como outras empresas que também dão suporte para que o asilo se mantenha.

A vida da voltas e nestes caminhos encontramos pessoas, que da simplicidade faz obras grandiosas. De uma doença consegue tecer uma rede solidária que matem ha muitos vivos, seja na alma ou no coração, porque o amor ao próximo pode estar em mãos que curam ou na agulha que acalma.