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Araraquarense é referência no mundo do agronegócio feminino

Com visão de agricultura de precisão Anna Paula Nunes domina com excelência os negócios da produção de grãos na região, há 15 anos no comando da Fazenda Jangada Brava

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Anna Paula Nunes, na manhã desta quinta-feira (24), na Fazenda Jangada Brava

Cada vez mais as mulheres lideram o mundo do agronegócio, onde a alta tecnologia domina as lavouras do país. Até mesmo o Ministério da Agricultura tem a sua frente como ministra, Tereza Cristina, que é referência para mulheres do agro.

A frente da Fazenda Jangada Brava, na região de Boa Esperança do Sul, que tem 1.030 alqueires está Anna Paula Nunes, de 50 anos, que assumiu os negócios da família há cerca de 15 anos.

Anna no comando de um de seus tratores da John Deere

Ela conta que desde criança sempre amou a terra, nasceu e cresceu na fazenda, e que não gostava muito de estudar, mas queria trabalhar com pai na fazenda. Seu pai Viriato Nunes Junior, valendo-se da sabedoria que é peculiar ao homem do campo, disse que não, que só trabalharia na fazenda depois de cursar uma faculdade. Mas tanto o pai como o avô diziam naquele tempo que agrônomo não servia para nada. Anna então foi cursar engenharia civil na Faculdade Logatti, ainda que discordasse dos dois quanto à agronomia, “fui rápida para entrar, mas demorou um pouco para sair”, comenta sorrindo.

“Até pensei em fazer agronomia há pouco tempo, mas agora já não tenho mais tempo; em época de plantio saio da fazenda depois das 22 horas”.

A agricultora lembra que os antigos diziam “se você não estudar, vai trabalhar na roça. Hoje você só vai pra roça com muito estudo”.

Em sua fazenda há uma diversificação de cultura como cana-de-açúcar, milho, soja, e na safrinha girassóis e sorgo.

Quarta geração a frente da fazenda, ela diz que existem proprietários que gostam apenas do título, que arrendam suas terras e aparecem para receber ou administram de longe. “Eu, meu pai, sempre cuidamos da terra com amor, fico brava até se um trator da usina passa por cima da grama do jardim”, diz Paula

Anna Paula recebe o coordenador regional do Senar João Henrique de Souza Freitas, entidade a qual tem parceria para cursos

A fazenda tem 17 funcionários que moram no local, com toda a estrutura e que cuidam do dia a dia da roça sempre com a supervisão de Anna Paula. Ela faz questão que todos os colaboradores façam cursos e se especializem em todas as áreas e para isso conta também com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).

TECNOLOGIA DE PONTA

Um novo funcionário foi contratado para colocar em funcionamento a agricultura de precisão, que trabalha somente com as novas tecnologias. Hoje tecnólogo em mecanização agrícola de precisão é o profissional que se responsabiliza pelo uso adequado de máquinas e implementos agrícolas, com o objetivo de obter altas produtividades agropecuárias e baixos custos em ambiente de agricultura de precisão, resumindo, mais produtividade com menos quantidade de hectares.

Anna Paula inspeciona sua plantação de soja

“Hoje quem não acompanhar a nova tecnologia, fica para trás, eu invisto muito em tecnologia de adubos, sementes. Não adianta eu comprar equipamentos modernos e meus funcionários não saberem mexer, precisamos de treinamentos e estudo. Meus colaboradores entenderam isso, querem estudar, procuram na internet, além das empresas também darem treinamento dos maquinários que compramos, temos que investir nas pessoas, caso contrário também não adianta nada”, explica.

TRANSIÇÃO

Anna lembra que quando assumiu a administração da fazenda, houve certa desconfiança dos funcionários, que estavam acostumados a trabalhar com seu pai. “Eles não estavam preparados para que uma mulher os comandasse. Tenho aqui funcionários antigos que me viram nascer, mas demorou um pouco para que me vissem como administradora da fazenda. Às vezes eu dizia alguma coisa e eles falavam, ah nós vamos ver com seu pai. Nesta hora tive muito apoio de meu pai, ele respondia ao impasse – A Paula resolve -. Meu pai demorou em me deixar assumir, mas quando deixou, deixou de verdade. Hoje brincamos que se ele precisa de algo tem que pedir pra Paula”, ri ela da situação.

Quando Anna assumiu a administração, a fazenda produzia cana e laranja. Ela já chegou com a ideia de mudanças, os pomares foram retirados e seu pai queria arrendar. Ela disse não, pois queria tentar algo novo, então resolveram plantar milho.

“Meu pai quis plantar milho do jeito dele, aquele jeito antigo, foi buscar semente na Secretaria da Agricultura, emprestamos uma plantadeira, foi um horror, não deu nada. No ano seguinte eu disse: agora você me deixa plantar do meu jeito. Ele aceitou. Não comparando com hoje, mas algo diferenciado naquela época, com milho transgênico, uma semente melhor, comprei uma plantadeira pequena, mas moderna, aí a produção, foi outra coisa, muito melhor. A partir daí meu pai criou mais confiança, e a cada ano fui melhorando meu plantio no sentido de grãos, que é a minha paixão”, explicou

Ela diz que teve dificuldades no início para lidar com pessoas de fora, por ser mulher, mas isso ficou para trás. Hoje as mulheres no agronegócio são muito fortes, tanto, que no dia 21 de outubro há um evento marcado com mulheres do agro nacional, na fazenda, com a presença da palestrante Andrea Cordeiro, uma mente fervilhante, amante do universo agro há 21 anos, idealizadora do projeto “Missão Mulheres do Agro” e cidadã engajada na causa da profissionalização da mulher no agronegócio. Ela também é Co Autora do livro Mulheres do Agro.

Em Araraquara, há um grupo de cerca de 28 mulheres ligadas ao agro, que antes da pandemia da covid-19, sempre se reuniam para trocar experiências e se ajudar mutuamente. Atualmente continuam juntas em um grupo de whatsApp.

Mulheres do Agro estiveram com a Ministra da Agricultura Tereza Cristina e o deputado Federal Baleia Rossi (MDB)

ENCONTRO COM A MINISTRA

Todos os anos, as mulheres do grupo do agro vão até os Estados Unidos, para conhecer as propriedades de soja e milho do país. “Em 2019 estávamos lá e queríamos passar as novidades do grupo para a Ministra da Agricultura Tereza Cristina. Então entrei em contato com o deputado Federal Baleia Rossi, com quem tenho amizade e ele conseguiu uma audiência. Fomos a Brasília e ela nos recebeu, eu e mais quatro amigas, todas ligadas ao agro. Ela é uma mulher maravilhosa, uma pessoa simples, muito inteligente, saímos de lá encantadas. Ela criou um grupo de whatsApp com a gente, e nunca deixou de nos responder quando falamos com ela. Este ano graças a ela e ao governo, foi o melhor ano para a agricultura”, disse a administradora.

A plantação de girassol deste ano. Uma das mais bonitas da região

Entre as paixões de Anna, está o girassol, que ela planta na safrinha para promover a reciclagem de nutrientes da terra. “Não existe plantação de girassol mais bonita que a minha”, diz a produtora mostrando um vídeo que fez com um drone sobre a plantação. De acordo com Paula centenas de pessoas visitaram a plantação neste ano.

A agricultora tem três filhos, Pedro Nunes Morábito, Giovana Nunes Morábito e Letizia Nunes Morábito, e de acordo com Anna, nenhum deles está na linha de sucessão, escolheram outras profissões e só vão à fazenda para o final de semana. “Entristece-me um pouco este fato, mas cada um com suas escolhas, melhor ser um lixeiro feliz do que um empresário triste”, afirma ela.

Paula recebeu o Portal RCIA, em seu escritório na Fazenda Jangada Brava

Paula encerra a entrevista dizendo que se sente realizada e satisfeita como uma mulher do agro. “Eu conquistei tudo que eu queria como mulher e dentro do agro, e vejo que tenho muito mais a conquistar. Hoje as pessoas vêm o agro com outros olhos, nesta pandemia quem deu suporte ao país foi o agro, eu não deixei de trabalhar um único dia, nem sei o que é quarentena”, finaliza a agricultora.

Se for a mãe terra quem nos da bonança, nada melhor que mulheres para geri-la, pois elas vão a campo e estão transformando o agro do país. Os desafios são incontáveis. Mas elas não desistem, porque o brilho nos olhos e a força que rege as mulheres, é maior que as barreiras para chegar lá.

Em seu escritório, ela mantém uma coleção de miniaturas de tratores e implementos agrícolas da John Deere, também uma de suas paixões.

Além do agro, Anna Paula é presidente da entidade social “Oficina das Meninas” há 6 anos. Onde, antes da pandemia, atendiam cerca de 90 meninas de 6 a 17 anos, a maioria vítima de abuso sexual. Hoje devido ao coronavírus atendem 40, cerca de 10 meninas por dia. Mas isso é assunto para outra pauta.

Confira abaixo um vídeo feito sobre a plantação de girassóis 2020